“A mulher estrangeira” Marcos 7.24-30
20 de agosto de 2017João 1,45-51
24 de agosto de 2017“— O Reino do Céu é como um tesouro escondido num campo, que certo homem acha e esconde de novo. Fica tão feliz, que vende tudo o que tem, e depois volta, e compra o campo.
— O Reino do Céu é também como um comerciante que anda procurando pérolas finas. Quando encontra uma pérola que é mesmo de grande valor, ele vai, vende tudo o que tem e compra a pérola.”
Hoje a Igreja celebra a festa de Santa Rosa de Lima, padroeira da América Latina. Peçamos, por sua intercessão, a graça de encontrar o tesouro escondido no campo da nossa realidade.
Em 1586, nasceu Isabel Flores que, por sua beleza, foi apelidada de “Rosa”, assumindo este nome mais tarde na Ordem Terceira Dominicana (Rosa de Santa Maria). Aos 11 anos, teve uma experiência “mesclada” que marcou a escolha da dedicação de sua vida – a alegria de ser crismada juntamente com a interpelação da revolta de índios – tão oprimidos pelos conquistadores espanhóis – contra o arcebispo e os cristãos. Essa experiência fez-lhe perceber que devia fazer algo por aquela multidão sofredora (além dos índios, negros, deficientes e crianças maltrapilhas que via pelas ruas). O que podia fazer então era a oração e os sacrifícios, aos quais se entregou.
Sua família era rica e ficou pobre do dia para a noite, com o fracasso dos negócios do pai. Rosa dedicou-se então a trabalhos domésticos simples, nunca deixando a oração, a escuta das pessoas, a visita a doentes em hospitais e a acolhida em sua própria casa, mesmo contrariando a mãe; até os 31 anos, quando faleceu e, pouco depois, foi canonizada, reconhecendo-se nela o fruto maduro do amor aos pobres.
Podemos orar o Evangelho de hoje à luz da vida de Santa Rosa de Lima e da realidade do nosso povo latino-americano. No tempo de Jesus, era comum se esconder quantias valiosas nos campos, para não ser assaltado. Às vezes acontecia de alguém esquecer onde havia escondido e não encontrar mais. Imaginemos a alegria de uma pessoa que encontra esse tesouro! De fato, é capaz de vender tudo o que tem para comprar aquele campo, no qual outros já não sabem que há um tesouro.
Aprendemos que o ser humano é imagem e semelhança de Deus e templo do Espírito Santo. Mas isso fica tão em teoria em nossa cabeça! Na verdade, nem fica. Saímos nas ruas, vemos tantas pessoas jogadas… Como as vemos? O que vemos quando as olhamos? O que sentimos quando chegam perto de nós? O mau cheiro? Certa repugnância? Aborrecimento? À primeira vista, é até compreensível, pois tudo nos fala de um campo malcuidado, e é o que salta aos nossos sentidos.
Santa Rosa de Lima, no entanto, olhando para elas, viu além, e encontrou o tesouro escondido no campo. Só alguém interiormente conectada ao Senhor recebe dEle o dom de vê-Lo no irmão. E, assim, não se torna um sacrifício pesado a dedicação aos pobres, mas apenas o outro lado da mesma moeda da experiência do amor de Cristo.
O que tem alguém capaz de um olhar tão profundo? Qual o segredo dessa interioridade conectada? Um dos aspectos é ser uma pessoa buscadora. Neste sentido, a parábola do tesouro escondido no campo e a parábola da pérola se interligam. Quem “anda procurando pérolas finas” vive com o olhar aguçado, a partir do coração unido ao amor. E quem procura acaba encontrando; o fluxo da vida é favorável à geração de vida.
Que o Senhor nos ajude, então, a não separar o amor a Ele do amor aos irmãos, a exemplo de Santa Rosa de Lima.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei