VI Domingo da Quaresma – Ano C
20 de março de 2016O não de Pedro, a traição de Judas, a entrega do Filho e a glória do Pai
22 de março de 2016Leitura: João 12, 1-11
Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi ao povoado de Betânia, onde morava Lázaro, a quem ele tinha ressuscitado. Prepararam ali um jantar para Jesus. Marta ajudava a servir, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria pegou um frasco cheio de um perfume muito caro, feito de nardo puro. Ela derramou o perfume nos pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e toda a casa ficou perfumada. Mas Judas Iscariotes, o discípulo que ia trair Jesus, disse: — Este perfume vale mais de trezentas moedas de prata. Por que não foi vendido, e o dinheiro, dado aos pobres? Judas disse isso, não porque tivesse pena dos pobres, mas porque era ladrão. Ele tomava conta da bolsa de dinheiro e costumava tirar do que punham nela. Então Jesus respondeu: — Deixe Maria em paz! Que ela guarde isso para o dia do meu sepultamento. Os pobres estarão sempre com vocês, mas eu não estarei sempre com vocês. Muitas pessoas ficaram sabendo que Jesus estava em Betânia. Então foram até lá não só por causa dele, mas também para ver Lázaro, o homem que Jesus tinha ressuscitado. Então os chefes dos sacerdotes resolveram matar Lázaro também; pois, por causa dele, muitos judeus estavam abandonando os seus líderes e crendo em Jesus.
Oração:
Jesus está a menos de uma semana de sua morte e resolve visitar os amigos que tanto amava: Lázaro, Marta e Maria. A cena chocante do perfume sendo-lhe derramado nos pés e a conversa que se segue nos lembram a beleza da fé: que a fé é também para o belo.
Judas, embora não quisesse realmente servir aos pobres, questiona se o perfume não teria sido melhor empregado caso o tivessem vendido. A resposta de Jesus, dizendo que sempre existirão os pobres, parece, a princípio, insensibilidade. No entanto, sua resposta é sinal de uma sensibilidade mais aguçada, uma à qual nem mesmo os sinceros benfeitores se acostumam com facilidade… a sensibilidade de ir além do que é útil, necessário, mais proveitoso…
É claro que Jesus teria querido menos pobres. Sua vida, afinal, foi de pobreza para enriquecer o ser humano. Sua simplicidade nunca fez – nem fará – apologia à pobreza e à miséria degradantes. No entanto, mesmo que Judas tivesse boa intenção, a resposta de Jesus não seria outra. Jesus corre o risco de ficar malfalado, de ser criticado pelos seus próprios discípulos, para nos dizer, de uma vez por todas, que a fé e a religião fazem sentido mesmo que a humanidade inteira já esteja saciada. Quando todos tiverem pão, ainda haverá lugar para o perfume. Deus não é para matar a fome nem para fazer milagres; Deus é para a relação. Da sua relação com os seus amigos deve vir a saciedade de todos pela justiça social, pela morte do egoísmo, mas muito mais além dessa saciedade deve vir…
O perfume nos revela o desejo de Deus por essa relação. Um deus que vende o perfume que lhe ofereço talvez faça o bem, porém, sem ser bom. Esse deus, que não se deixa amar, que não se alegra com os detalhes, não pode querer que eu creia que se encontrará comigo se eu, no silêncio do meu quarto, rezar em segredo. Um deus que não se deixa tocar nem amar não me pode ensinar a amar e a tocar a vida do próximo. Um deus que não se dispõe ao carinho, à amizade e à delicadeza dos agrados de seus amigos não me pode aconselhar a amar meus amigos e, além deles, meus inimigos.
Mas Jesus deixou que se lhe derramasse no pé o perfume… e a casa toda ficou perfumada, revelando seu desejo de que cada ser humano, por inteiro e não apenas em partes, sinta-se digno, grande, importante e amado, pois é esse o perfume que, da nossa relação com Deus, se exala pelo mundo.
João Gustavo H. M. Fonseca – Família Missionária Verbum Dei de Belo Horizonte