Muitos creram nele. Alguns, porém… (Jo 11, 45-56)
12 de abril de 2014“Para onde eu vou, vocês não podem ir” (João 13,21-33; 36-38)
15 de abril de 2014“Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi para Betânia, onde morava Lázaro, que ele havia ressuscitado dos mortos. Aí ofereceram um jantar para Jesus. Marta servia e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Jesus.
Então Maria levou quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro. Ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos. A casa inteira se encheu com o perfume.
Judas Iscariotes, um dos discípulos, aquele que ia trair Jesus, disse: “Por que esse perfume não foi vendido por trezentas moedas de prata, para dar aos pobres?” Judas disse isso não porque se preocupava com os pobres, mas porque era um ladrão. Ele tomava conta da bolsa comum e roubava do que era depositado nela.
Jesus, porém, disse: “Deixe-a. Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento. No meio de vocês sempre haverá pobres; enquanto eu não estarei sempre com vocês.”
Muitos judeus ficavam sabendo que Jesus estava aí em Betânia. Então foram aí não só por causa de Jesus, mas também para verem Lázaro, que Jesus havia ressuscitado dos mortos.
Então os chefes dos sacerdotes decidiram matar também Lázaro, porque, por causa dele, muitos judeus deixavam seus chefes e acreditavam em Jesus.”
Esta passagem é uma das mais delicadas e profundas do Evangelho. É preciso descalçar as sandálias para entrar no terreno da oração de hoje, que deve ser feita com o olhar do coração. Visualizar a cena. Jesus no jantar naquela família amiga, a quem Ele tinha devolvido a vida em sua inteireza, a alegria de viver. Um lar onde Ele se sentia em casa, onde se aconchegava; e sobretudo neste momento crucial, em que caminhava para a sua entrega máxima. Estar ali era para Ele uma preparação.
E o gesto profundo de Maria simboliza esta preparação. “Deixe-a. Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento.” Sua linguagem sem palavras é de entrega e de amor. “Vai que eu vou com você. Vai que eu já vou antes, antecipo-me; aqui está toda a minha vida derramada aos seus pés”. 300 moedas de prata era muitíssimo dinheiro. Significava a economia de toda uma vida. Judas, que não entra nesta linguagem, fechado que está nos cálculos e nas medidas, entrega Jesus por 30 moedas de prata.
Jesus capta o valor do que Maria faz e a cumplicidade que ela tem com a Sua entrega. “Ela guardou esse perfume para me ungir no dia do meu sepultamento.” Ela derramou a sua vida por amor e eu também derramarei a minha por amor. Este perfume de grande valor não se enquadra em nenhum esquema, porque não é funcional, não pertence à dimnesão do masculino, mas do feminino. Não é para ser vendido e dado aos pobres, mas derramado totalmente, até a última gota (em outra passagem, rompendo o frasco), aos pés de Jesus. Ele pertence à maior intimidade, à entrega desmedida. Não se dá aos cálculos.
“No meio de vocês sempre haverá pobres; enquanto eu não estarei sempre com vocês.” Jesus não está diminuindo a importância da caridade para com os pobres. Mas até ela é pequena quando não se experimenta a união de amor com Ele. “Judas disse isso não porque se preocupava com os pobres, mas porque era um ladrão. Ele tomava conta da bolsa comum e roubava do que era depositado nela.” Muitas intenções podem se misturar nesta caridade, como a vaidade, o orgulho (ver o outro como objeto da minha “bondade”). No mínimo uma luta dura, na qual se vai endurecendo o coração ao invés de torná-lo cada vez mais de carne; luta difícil de perseverar, e na qual se cria cada vez mais muros, mundos rivais.
Só o amor derruba as barreiras e faz-nos criar com Cristo e por Ele um mundo de irmãos, nos pequenos gestos de fraternidade verdadeira do dia a dia e mesmo na luta que, nutrida pela mística, não condena uns para libertar outros, mas condena o pecado para libertar todos os pecadores, opressores ou oprimidos. Afinal, Cristo, “do que era dividido fez uma unidade; destruiu em sua carne o muro de separação, para criar em si um só homem novo” (Ef 2, 14-15). E quem o segue avança pelo mesmo caminho.
Maria é a figura feminina do Servo (de Is 42). Se não entramos por aí, achamos que servir ao Senhor é fazer coisas. Que o exemplo de Maria inspire-nos também a derramar o mais precioso de nós aos pés de Jesus, a romper o frasco do nosso coração e derramar nossas dores, desejos e amores, entregando-nos inteiramente a Ele. E, nesta experiência de amor, vivenciar Seu Mistério Pascal, fazendo da nossa vida também lugar de unidade pelo amor.
Tania Pulier, comunicadora social – Palavra Acesa Editora – Família Missionária Verbum Dei e pré-CVX Cardoner