“Jesus chamou outra vez a multidão e disse:

— Escutem todos o que eu vou dizer e entendam! Tudo o que vem de fora e entra numa pessoa não faz com que ela fique impura, mas o que sai de dentro, isto é, do coração da pessoa, é que faz com que ela fique impura. [Se vocês têm ouvidos para ouvir, então ouçam.]

Quando Jesus se afastou da multidão e entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram o que queria dizer essa comparação. Então ele disse:

— Vocês são como os outros; não entendem nada! Aquilo que entra pela boca da pessoa não pode fazê-la ficar impura, porque não vai para o coração, mas para o estômago, e depois sai do corpo.

Com isso Jesus quis dizer que todos os tipos de alimento podem ser comidos.

Ele continuou:

— O que sai da pessoa é o que a faz ficar impura. Porque é de dentro, do coração, que vêm os maus pensamentos, a imoralidade sexual, os roubos, os crimes de morte, os adultérios, a avareza, as maldades, as mentiras, as imoralidades, a inveja, a calúnia, o orgulho e o falar e agir sem pensar nas consequências. Tudo isso vem de dentro e faz com que as pessoas fiquem impuras.”

Na oração de hoje, vamos pedir que o Pai nos dê o dom de um coração puro, conectado a Ele.

O Evangelho é continuidade do de ontem, quando Jesus colocou oposição entre a tradição dos fariseus e o mandamento de Deus, pois aqueles, querendo uma coisa boa (dar pureza às pessoas comuns através de ritos), contribuíam para a alienação religiosa, desviando o povo do que era realmente essencial.

Hoje, Jesus começa ensinando à multidão: “Tudo o que vem de fora e entra numa pessoa não faz com que ela fique impura, mas o que sai de dentro, isto é, do coração”. A charada aqui é que o mundo é puro por criação. Percebemos isso nos relatos da criação que lemos na primeira leitura de ontem e de hoje (Gn 1-2). Deus criou e viu que tudo era bom. Criou o jardim e colocou o ser humano, no qual soprou seu hálito de vida, para o guardar e cuidar. Nada que Deus fez é impuro. Mas de dentro do ser humano, que em sua liberdade pode dizer “sim” ou “não” à Vida plena que Deus quer, é que podem sair a vida ou a morte.

O povo não entende e os discípulos, quando estão na multidão, também não. É a “casa” que vai levá-los à compreensão. Estar em casa com Jesus é que pode nos levar à compreensão mais profunda, pura graça que vem dele e acolhemos no desejo de O seguir e deixar-nos configurar com Ele.

Jesus purifica os alimentos. Rompe com uma tradição humana da época. Rompe com qualquer separação de sagrado e profano e quer que o povo fique livre dessas distinções. Não está aí o essencial. Também hoje, infelizmente, ainda se vê cristãos que vivem “farisaicamente”, voltando às separações que Jesus aboliu – de músicas, de roupas, de lugares, de comidas e até mesmo de pessoas. Mas Jesus diz claramente: “Aquilo que entra não pode fazê-la ficar impura.”

O que é o essencial então, do qual devemos cuidar? Do coração. “O que sai da pessoa é o que a faz ficar impura. Porque é de dentro, do coração, que vêm…” e o Evangelho traz uma lista do que vem de dentro e “faz com que as pessoas fiquem impuras”. Podemos trazer presente à nossa oração as cenas cotidianas do nosso mundo ou as últimas notícias. Calúnias, mentiras, corrupção, lavagem de dinheiro, violência, ódios, miséria, vícios… À medida em que formos trazendo, aproximar, perceber o quão perto estão, que às vezes o nosso coração está aí também, na ação ou na omissão. Quanta maldade nos comentários na semana passada nas redes sociais com relação à morte de dona Marisa Letícia! Cito este fato como poderia citar outros nos quais nos envolvemos e não nos damos conta da contaminação do coração. Ou nos quais não nos envolvemos e também não nos damos conta da contaminação pela omissão. Não é à toa que Jesus termina a lista com: “e o falar e agir sem pensar nas consequências.”

– Como cuido do meu coração?

– De que o alimento?

– O que cultivo nele?

– Sinto-me responsável também pelo coração do outro? Em que contribuo para semear coisas boas?

Espírito Santo, enche os nossos corações e acende neles o fogo do Teu amor. Jesus, faz o nosso coração semelhante ao Teu. Amém!

Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei