De dentro, do coração (Marcos 7,14-23)
8 de fevereiro de 2017Abra-se! (Mc 7,31-37)
10 de fevereiro de 2017“Jesus saiu dali e foi para a região que fica perto da cidade de Tiro. Ele entrou numa casa e não queria que soubessem que estava ali, mas não pôde se esconder. Certa mulher, que tinha uma filha que estava dominada por um espírito mau, ouviu falar a respeito de Jesus. Ela veio e se ajoelhou aos pés dele. Era estrangeira, de nacionalidade siro-fenícia, e pediu que Jesus expulsasse da sua filha o demônio. Mas Jesus lhe disse:
— Deixe que os filhos comam primeiro. Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorros.
— Mas, senhor, — respondeu a mulher — até mesmo os cachorrinhos que ficam debaixo da mesa comem as migalhas de pão que as crianças deixam cair.
Jesus disse:
— Por causa dessa resposta você pode voltar para casa; o demônio já saiu da sua filha.
Quando a mulher voltou para casa, encontrou a criança deitada na cama; de fato, o demônio tinha saído dela.”
A graça que vamos pedir ao Pai na oração de hoje é a da abertura à novidade que vem pelo outro.
O Evangelho de Marcos continua a convidar-nos a seguir Jesus em seu caminho. Jesus vai para fora dos limites de Israel, para a Fenícia, perto da cidade de Tiro. No entanto, quer ficar escondido, porque a sua Boa Nova era, a princípio, para os filhos de Israel. Acreditava-se, de fato, como pregou o profeta Isaías (Is 42,6), que Israel seria “luz das nações”.
No entanto, uma mulher desafia estes limites, leva Jesus a expandi-los já, com sua fé, humildade e presença de espírito. Contemplar a cena. “Certa mulher, que tinha uma filha que estava dominada por um espírito mau, ouviu falar a respeito de Jesus. Ela veio e se ajoelhou aos pés dele. Era estrangeira, de nacionalidade siro-fenícia, e pediu que Jesus expulsasse da sua filha o demônio.” Contemplar colocando-me na cena e participando dela. Sou a mulher? A filha? Os donos da casa? Jesus? Ver-me aí e ver as pessoas, ouvir o que dizem, observar o que fazem. Como a mulher entra na casa onde Jesus estava? Que gestos ela faz? Qual a sua feição? Como é sua voz quando faz o pedido a Jesus?
Jesus dá uma resposta que assusta os espíritos atuais politicamente corretos. É uma resposta fortemente marcada por sua cultura e pela crença do seu povo. De fato, os judeus chamavam os pagãos de “cachorros”. Ora, se a questão de “puro” e “impuro” está abolida, como vimos ontem, também não há mais distinção entre judeus e não judeus.
A mulher não sai indignada, não bate de frente, mas humildemente acolhe o que Jesus diz a partir de sua cultura e a “implode”, desde dentro provoca uma expansão. “Mas, senhor, — respondeu a mulher — até mesmo os cachorrinhos que ficam debaixo da mesa comem as migalhas de pão que as crianças deixam cair.” É uma das mulheres da vida de Jesus que o ajudam a se expandir. Chega ao nível de entendimento que faz com que ela possa participar do projeto de Jesus, simbolizado pela cura.
Peçamos ao Espírito a mesma abertura de Jesus para deixar-nos expandir a partir da presença e provocação do outro, do diferente, e que sejamos também canais de expansão da fé, do amor, da justiça e da mentalidade para os demais.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei