Decidir com fé (Mt 1,16.18-21.24a)
19 de março de 2014A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular (Mt 21,33-43; 45-46)
21 de março de 2014“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico… E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio. Então exclamou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou atormentado nesta chama’. Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro por sua vez os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós’.
Ele replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até a casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento’.
Abraão, porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos’. Disse ele: ‘Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão’. Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’”.
Depois de ler várias vezes o texto, começo minha oração questionando a quem, ou a que, estamos escutando? Estamos cegos e surdos para entender o que já está aí?
Penso nas diferenças sociais enormes com que convivemos. Penso na distância que existe entre as camadas mais pobres e as mais ricas, um verdadeiro abismo. Penso nas multidões de pessoas que vivem com muitas necessidades e não são nem sequer notadas pelos que estão abastados de muitos bens, muitas riquezas.
Quem teria que ressuscitar para nos fazer mudar tudo isso?
Eu gostaria de mudar tudo isso. Você também gostaria?
Fico pensando o que podemos fazer.
Na minha oração me vêm três coisas à mente:
A primeira é uma estorinha que ouvi certa vez sobre um jovem que, olhando para um mundo que não o agradava, ficou com o coração cheio de compaixão e pensou consigo: “Vou mudar o mundo”. Ficou muito feliz com sua decisão e se trancou no quarto para traçar o plano de como faria para alcançar seu objetivo. Pensou, pensou e chegou à conclusão de que o mundo era muito grande para ele mudar. Então começou a pensar como faria para mudar seu país. Pensou, pensou, pensou e também chegou à conclusão de que seu país era muito grande para ele mudar. A mesma coisa se deu quando ele começou a pensar em mudar sua cidade e até mesmo sua casa. Por fim, ele pensou: vou mudar a mim mesmo, nunca mais mentirei para mim.
A segunda coisa que me veio foi a frase “Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”, de Gandhi.
E a terceira coisa foram as parábolas de Jesus sobre o grão de mostarda e o fermento na massa.
Assim, penso, minha oração diz que primeiro preciso deixar de mentir para mim, pois não consigo mudar nada que está fora de mim, se, primeiro, não mudar a mim mesmo, se não me tornar mais autêntico. Depois, me diz que aquilo que pretendo que o mundo seja eu preciso começar a construir em mim e, por fim, me dá esperança, porque o pequeno grão de mostarda cresce e se torna um grande arbusto, onde as aves do céu vêm fazer seus ninhos, e uma pequena porção de fermento é capaz de fermentar uma grande quantidade de massa.
Ora, temos que procurar os Lázaros que estão a nossa volta, diminuir as distâncias, conviver, participar, ser mais fraternos, abrir nossos olhos para enxergar a dor e os problemas dos outros.
Examinemos nossas consciências e pensemos nas pessoas com quem convivemos, quem nos atende na lanchonete, no restaurante, na padaria, quem trabalha no condomínio em que moramos ou mantém a limpeza do local de nosso trabalho, no gari que limpa a praça ou a rua, por onde passamos todos os dias. Estamos olhando para eles? Olhamos nos olhos e damos um bom dia com um sorriso nos lábios? Criamos possibilidade de um acolhimento?
Pensemos no nosso chefe, naquele cliente exigente, nos nossos colegas de trabalho ou escola. Estamos procurando criar um ambiente que proporcione uma maior aproximação?
E dentro de nossa casa? Estamos nos aproximando ou nos distanciando das pessoas?
Penso que, para conseguirmos aumentar e estreitar nossos laços de fraternidade, precisamos, também, procurar os Lázaros que estão dentro de nós. Toda vez que esquecemos de nosso ser, em função de parecer alguma coisa que não somos ou em busca de prazeres fugazes, estamos deixando um Lázaro à míngua.
Em que momentos e em quais situações não conseguimos ser autênticos? Não conseguimos agir em sintonia com o que realmente somos?
Fica então o convite: leve tudo que tenha passado em sua mente para uma conversa íntima com Jesus. Exponha para Ele todas as dificuldades que você sente em se tornar mais próximo dos outros. Peça a Ele orientação e fique em silêncio por algum tempo.
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG