“Ele fez isso porque seus moradores não haviam se arrependido dos seus pecados”
18 de julho de 2017Coração humilde, coração aberto
20 de julho de 2017“Naquele tempo, Jesus pôs-se a dizer
‘Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.’”
Na oração de hoje, vamos pedir ao Pai a graça de um coração de pequenino, aberto ao novo que Ele traz.
No Evangelho de ontem, Jesus acusava as cidades nas quais, apesar de ter feito muitos sinais, encontrou resistência e fechamento. Hoje, em contraste, louva o Pai por tantas pessoas que se abriram à revelação, os “pequeninos”, em contraste com aquelas às quais os caminhos de Pai em Cristo ficaram escondidos, os “sábios e entendidos”. De fato, entre o povo simples Jesus encontrou muito mais acolhida do que entre os doutores da Lei e fariseus.
Do que se trata esse “ser pequenino” que Jesus fala? Não tem a ver necessariamente com dinheiro ou grau de instrução. Afinal, entre os que se abriram e receberam Jesus estão Mateus e Zaqueu; algumas mulheres, esposas dos chefes do povo, que o seguiam e serviam com seus bens; e mesmo Nicodemus que, apesar de se encontrar com Jesus “à noite”, de não ter dado conta de assumir um seguimento, não se fechou à novidade que Jesus trazia, ao contrário, se deixou tocar por ela. A pequena por excelência é Maria, modelo para nós do que Jesus está louvando ao Pai. Uma pessoa completamente aberta à novidade que Deus traz, à inversão de valores, conceitos e até normas que ela representa. Uma pessoa capaz de acolher em si mesma, na própria vida, o Enviado do Pai, e deixar que Ele modifique sua vida, que Ele determine os passos, o “quando”, “onde” e “como” da vontade do Pai. É como um copo que se esvazia do que traz para receber o melhor que Deus quer colocar, e por isso experimenta: “O Senhor fez em mim maravilhas! Olhou para a humildade de sua serva.” Ao contrário, os “sábios e entendidos” agarram-se no que têm, no que sabem, nas tradições, no “sempre foi assim”, nas experiências já vividas, ou seja, têm o copo cheio e não aceitam a troca, não o querem esvaziar para receber a novidade de Jesus. Vão embora tristes, na mesmice, porque se fecharam à alegria do novo.
Pode nos ajudar na oração lembrar de pessoas que conhecemos (sempre é mais fácil ver primeiro fora). Lembrei de um amigo que está passando por uma fase longa de grandes dificuldades – traições na empresa, processos, dívidas, etc. Ele veio conversar, no entanto, não encontrei entrada alguma. Tem certezas muito arraigadas de que as pessoas estão erradas e ele está certo, e não consegue ver relação alguma entre atitudes e valores que cultivou em seu negócio e os passos (sim, errados) que as pessoas tomaram. Mal mal se abriu a um questionamento, mas mais para uma resposta rápida e “correta” do que para uma abertura que pudesse jogar luz sobre o caminho. Ele agiu como “sábio e entendido” com relação à própria vida; então, seguirá na mesma. Quantas vezes também vamos para a oração ou para o diálogo com alguém – e mesmo para as circunstâncias do dia a dia – fechados: “Isso eu já sei”; “isso é assim”… Não há espaço algum para o novo!
Por outro lado, lembrei – novamente, já comentei mais de uma vez sobre ele aqui – do “seu” Laudelino, um senhor de 101 anos que conheci numa missão no interior de Minas. Fomos visitá-lo e ficamos boquiabertos com tudo o que ele já viveu, com suas histórias, suas experiências e sabedoria. Mais boquiabertos, no entanto, porque, com tudo aquilo que ele tinha, estava longe de ser alguém que pensa: “Eu já sei”, “eu já vi”, “tô careca de conhecer isso”… Ao contrário, com uma abertura de criança, os olhos curiosos, a escuta atenta, o desejo do novo, o coração acolhedor ao que jovenzinhos vinham trazer. Que alegria e leveza daquele homem! Um “pequenino” que nos faz louvar ao Pai por tamanha abertura à revelação! Afinal, Deus resolveu se revelar nas mínimas coisas e, sobretudo, por Jesus, no ser humano. Se não estou aberta a tudo e aos demais, não estou aberta à revelação do Pai.
Conversar com Jesus: “Senhor, que abertura Você vê em mim? E onde tem encontrado fechamento?”
E talvez, para trabalhar essa abertura, Ele nos dê a mesma dica que o Pai deu a Moisés na primeira leitura de hoje: “Tira as sandálias dos pés,
porque o lugar onde estás é uma terra santa”. Vive em tudo com a atitude de quem se descalça diante do outro e da vida, porque se abre à presença de Deus que ser se manifestar aí.
Pedir-lhe a graça do coração de pequenino, no modelo de Maria e de tantas pessoas que nos servem de exemplo.
Se nos ajudar, podemos terminar com a oração do Magnificat, que está em Lucas 1, 47-55.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei