À beira do caminho
14 de novembro de 2016“Tive medo do senhor”
16 de novembro de 2016Jesus entrou em Jericó e estava atravessando a cidade. Morava ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos. Ele estava tentando ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, pois Zaqueu era muito baixo. Então correu adiante da multidão e subiu numa figueira brava para ver Jesus, que devia passar por ali. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse a Zaqueu:
— Zaqueu, desça depressa, pois hoje preciso ficar na sua casa.
Zaqueu desceu depressa e o recebeu na sua casa, com muita alegria. Todos os que viram isso começaram a resmungar:
— Este homem foi se hospedar na casa de um pecador!
Zaqueu se levantou e disse ao Senhor:
— Escute, Senhor, eu vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais.
Então Jesus disse:
— Hoje a salvação entrou nesta casa, pois este homem também é descendente de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar quem está perdido.
Neste início de manhã, abramos nosso coração ao Senhor, deixando que sua Palavra nos conduza a lugares profundos de nosso ser e ilumine o que está escondido, revelando o que deve ser revelado, para nosso bem e nossa salvação.
A leitura de hoje me faz perceber um movimento de conversão que apresenta quatro etapas. Também percebo que, em nossas vidas, não ocorre um único movimento de conversão, eles vão se encadeando em uma espiral que, pouco a pouco, ao largo de muita perseverança, nos permite ir crescendo na fé e na esperança, enquanto vamos aprendendo a vivenciar o amor de uma maneira mais profunda e encarnada, na concretude de nossas experiências diárias.
A primeira etapa deste movimento se dá com o desejo de conhecer a Jesus. Apesar do evangelista apresentar poucas coisas sobre Zaqueu, podemos imaginar, pelas nossas próprias experiências, as razões pelas quais ele quis tanto ver quem era Jesus. O mesmo acontece conosco, diante de um mundo materialista, onde o consumo e a aparência são aquilo que mais se valoriza, não conseguimos satisfazer a sede que temos de encontrar o que dá razão à nossa existência. Procurar ver quem é Jesus é nossa resposta ao vazio existencial que se instala em nós quando caímos nas tentações do consumo como resposta ao nosso desejo de felicidade.
Lembro-me da oração de Santo Agostinho, quando diz assim: “Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava…”.
Nossa vida, normalmente, não faz uma linha reta na direção de nos conformarmos a Cristo. Estamos em amadurecimento espiritual, portanto muitas vezes ainda experimentamos “os anos de juventude” e nos perdemos nas tentações que nos seduzem. Por esta razão é importante voltarmos aqui todas as manhãs e escutando a Palavra Viva do evangelho conhecer melhor o nosso Mestre e, com muita confiança, sermos cada vez mais íntimos de seus desejos.
A segunda etapa deste movimento de conversão é o nosso esforço para ver quem é Jesus. Assim como aconteceu a Zaqueu, são muitas as dificuldades que podem nos afastar dele. A sua altura e a multidão eram os entraves que existiam para Zaqueu. Nós precisamos identificar aquilo que nos impede de conhecê-lo mais e, com a disposição de Zaqueu, buscar os meios para superar as dificuldades.
Trazer, com muita sinceridade, estas dificuldades para o diálogo íntimo com o Senhor, é uma ótima oportunidade para iluminarmos as sombras que nos habitam.
Que possamos hoje, abrir nosso coração para Jesus e falar de tudo que nos faz sentir pequenos e da multidão de problemas e tarefas que nos têm impedido de reservar mais tempo para conhecê-lo melhor.
Assim, passamos para a etapa seguinte, que é saber escutá-lo. Na verdade, escutar a Jesus é um dom e a recompensa ao esforço de vencer as dificuldades que nos impedem de vê-lo.
A escuta é um dom, com o qual todos nós nascemos, porém nem sempre desenvolvemos. A escuta pressupõe uma abertura para além de nossos preconceitos. Nunca sabemos o que a Palavra irá nos dizer/revelar, portanto é necessário estar aberto para, além de entendê-la, também atendê-la. Zaqueu queria apenas ver a Jesus, contudo ele foi recompensado com a visita do Mestre. Certamente Zaqueu não esperava aquele convite surpreendente e inusitado, pois normalmente nós é que convidamos os outros para nos visitar, porém Jesus convida Zaqueu a recebê-lo em sua casa.
O texto nos mostra que Zaqueu estava preparado para atender a Jesus, uma vez que já havia superado seus preconceitos ao fazer o papel, aparentemente ridículo, de subir em uma árvore. E nós? Quais preconceitos podem nos atrapalhar a ouvir o que Jesus tem para nos dizer? Estamos preparados para atender seus ensinamentos?
A outra etapa da conversão é a gratidão. Zaqueu recebeu Jesus com alegria, ou melhor, conforme o texto, com muita alegria. Receber Jesus, deixar tocar-se por Ele transformou a vida de Zaqueu. Então aquele homem muda sua relação com a riqueza e diz: “Escute, Senhor, eu vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais”.
Qual tem sido nossa resposta ao convívio com Jesus?
Acho bonito ao final deste processo de conversão de Zaqueu, Jesus dizer que a salvação entrou na casa dele. Sim, a salvação consiste em nos deixarmos tocar por Cristo e nos conformarmos a Ele. Zaqueu se abre aos outros. De um olhar egoísta, que buscava a riqueza para a satisfação própria, agora ele vai distribuí-la. Sua atitude o aproxima de Jesus, revelando que seu coração foi verdadeiramente transformado.
Quais são nossas atitudes que revelam que nossa convivência com Jesus tem nos transformado verdadeiramente? Podemos dizer que a salvação entrou em nossas casas?
Jesus, nós desejamos conhecê-lo melhor e a deixar nosso coração ser transformado pelo seu amor. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte