O Reino é dom e partilha (MC 10,28-31)
29 de maio de 2018Jesus: aliança de Deus com o seu povo
31 de maio de 2018Evangelho: Mc 10,32-45
“Jesus e os discípulos iam pela estrada, subindo para Jerusalém. Ele caminhava na frente, e os discípulos, espantados, iam atrás dele; as outras pessoas que iam com eles estavam com medo. Então Jesus chamou outra vez os discípulos para um lado e começou a falar sobre o que ia acontecer com ele. Jesus disse:
— Escutem! Nós estamos indo para Jerusalém, onde o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos não judeus. Estes vão zombar dele, cuspir nele, bater nele e matá-lo; mas três dias depois ele ressuscitará.
Depois Tiago e João, filhos de Zebedeu, chegaram perto de Jesus e disseram:
— Mestre, queremos lhe pedir um favor.
— O que vocês querem que eu faça para vocês? — perguntou Jesus.
Eles responderam:
— Quando o senhor sentar-se no trono do seu Reino glorioso, deixe que um de nós se sente à sua direita, e o outro, à sua esquerda.
Jesus respondeu:
— Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber e podem ser batizados como eu vou ser batizado?
Eles disseram:
— Podemos.
Então Jesus disse:
— De fato, vocês beberão o cálice que eu vou beber e receberão o batismo com que vou ser batizado. Mas eu não tenho o direito de escolher quem vai sentar à minha direita e à minha esquerda. Pois foi Deus quem preparou esses lugares e ele os dará a quem quiser.
Quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar zangados com Tiago e João. Então Jesus chamou todos para perto de si e disse:
— Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.”
Reflexão:
Na oração de hoje, peçamos ao Senhor a graça de manter-nos, unidos a Ele, nos desafios que a vida nos apresenta, e não fugir para ilusões.
Nesse trecho do Evangelho de Marcos, Jesus anuncia aos discípulos o Mistério Pascal, sua Paixão, morte e ressurreição, enquanto já fazem caminho em direção a ele. Os discípulos, porém, tomados pelo espanto e pelo medo, desviam o assunto, a partir de outras buscas.
Os filhos de Zebedeu pedem a Jesus: “Quando o senhor sentar-se no trono do seu Reino glorioso, deixe que um de nós se sente à sua direita, e o outro, à sua esquerda.” Eles simplesmente saltam a Paixão. É como se Jesus não tivesse dito: “Estes vão zombar dele, cuspir nele, bater nele e matá-lo; mas três dias depois ele ressuscitará.” Só pegam o final, e já interpretado: “no trono do seu Reino glorioso”. Onde foi que Jesus falou isso?
Como os demais ficam zangados, pode-se perceber que também traziam o mesmo dentro de si, de forma mais ou menos consciente. Jesus responde: “Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber e podem ser batizados como eu vou ser batizado?”
Quando a gente salta uma parte, não sabemos onde estamos, não tomamos consciência. E isso não é algo racional, mas experiencial. Podemos até dizer algumas coisas, mas, no fundo, onde os nossos sentimentos e o nosso desejo se fixam?
Geralmente, vamos para o mesmo lugar que os discípulos. Tentamos fugir dos problemas, dificuldades, desafios pessoais, familiares e sociais e olhar apenas para a glória, para um mundo cor-de-rosa que não nos foi anunciado, mas inventamos a partir de uma compreensão deturpada do “paraíso”. Não toma o cálice do Senhor. Alguns grupos e movimentos na própria Igreja induzem às vezes a isso, ao excesso de louvor desconectado do chão da realidade.
No entanto, o contrário também é ilusório. Quem fica só na dor, na depressão, no pessimismo esquece da força de Deus, não consegue enxergar os sinais de esperança na realidade. Não passa pelo batismo do Senhor, pela passagem da morte para a vida. Aqui também ficam alguns grupos eclesiais, quando enrijecem tanto na luta que não conseguem levantar os olhos aos céus, ver além da dureza do dia a dia.
Caímos em contradições quando queremos ficar em ambos os extremos. Mas a graça continua a agir para nos levar ao outro lado. Apesar de Tiago e João responderem “podemos” sem ter ideia do que dizem, Jesus diz que eles passarão. Agradecer porque a vida nos leva de volta aos contrastes.
Qual o caminho para não fugir constantemente desse jogo de polaridades que a vida nos oferece como oportunidade de crescimento e que caracteriza do seguimento de Jesus, que percorreu esse caminho? Ele mesmo nos ensina: “Quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.” Não se trata de ser bonzinhos, politicamente corretos, e não admitir que queremos o que no fundo queremos. Trata-se de assumir os desejos que parecem da sombra, que nos soam contrários ao que “deveria” ser, mas descobrir que alcançá-los é nos lançar ao oposto. Quer ser grande? Sirva! Quer salvar a vida? Entregue-a.
Peçamos ao Espírito Santo que nos leve por essas trilhas que de forma alguma percorremos sem sua luz e fortaleza.
Tania Pulier, esteticista da alma, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei