Ser luz nas fronteiras (Mateus 4, 12-17.23-25)
5 de janeiro de 2015Não tenham medo! (Marcos 6,45-52)
7 de janeiro de 2015“Quando Jesus desceu do barco, viu a multidão e teve pena daquela gente porque pareciam ovelhas sem pastor. E começou a ensinar muitas coisas.
De tardinha, os discípulos chegaram perto de Jesus e disseram: ‘Já é tarde, e este lugar é deserto. Manda esta gente embora, a fim de que vão aos sítios e povoados de perto daqui e comprem alguma coisa para comer.’
Mas Jesus respondeu: ‘Deem vocês mesmos comida a eles.’
Os discípulos disseram: ‘Para comprarmos pão para toda esta gente, nós precisaríamos de duzentas moedas de prata.’
Jesus perguntou: ‘Quantos pães vocês têm? Vão ver.’
Os discípulos foram ver e disseram: ‘Temos cinco pães e dois peixes.’
Então Jesus mandou o povo sentar-se em grupos na grama verde. Todos se sentaram em grupos de cem e de cinquenta. Aí Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu e deu graças a Deus. Depois partiu os pães e os entregou aos discípulos para que eles distribuíssem ao povo. E também dividiu os dois peixes com todos. Todos comeram e ficaram satisfeitos. E os discípulos ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe. Foram cinco mil os homens que comeram os pães.”
Marcos apresenta Jesus neste trecho do Evangelho como o Bom Pastor. Alguns detalhes que ele insere, diferentes dos outros evangelistas – como a “grama verde” –, fazem lembrar diretamente o Salmo 23 (“O Senhor é meu Pastor, nada me faltará. Ele me faz descansar em pastos verdes”). Na oração de hoje, vamos pedir-lhe a experiência de ser cuidados e restaurados por Ele, pelo Bom Pastor, e chamados a ser pastores no Pastor.
“Quando Jesus desceu do barco, viu a multidão e teve pena daquela gente porque pareciam ovelhas sem pastor.” Quantas pessoas encontramos no nosso cotidiano, nos nossos “de repentes”, que parecem “ovelhas sem pastor”! Deixar vir à mente e ao coração estes rostos. Podem ser pessoas do trabalho… por que estão assim? Carecem de uma liderança mais clara e orientativa? Carecem de significado? Podem ser da nossa família, perdidas em meio aos burburinhos, às maledicências, às mágoas… Podem ser nossos amigos – quais são as conversas deles? Quais as suas preocupações e ocupações? Pessoas que vemos no dia a dia das nossas cidades, ou até comunidades… Por que parecem ovelhas sem pastor? E eu, às vezes pareço também? Por que?
“E começou a ensinar muitas coisas.” Foi a atitude que Jesus tomou diante destes Rostos e suas carências. Quais atitudes eu tomo?
Observar o olhar de Jesus para aquelas pessoas e delas para com Ele. Observar o dia caindo, os discípulos se aproximando, suas preocupações. Escutar o que falam para Jesus e o que Ele responde. “Deem vocês mesmos comida a eles.” Diante das nossas preocupações e soluções apressadas, Jesus nos oferece um chamado. Um chamado desafiador. Que chamado é este?
Os discípulos responderam fazendo conta. “Para comprarmos pão para toda esta gente, nós precisaríamos de duzentas moedas de prata.” O que esta conta tem a ver com a compaixão de Jesus diante das pessoas que pareciam ovelhas sem pastor? Parece que há um abismo aí, uma distância entre a “possível solução” e a experiência. Será que as respostas que entendemos serem necessárias à nossa realidade ou que nos sentimos cobrados a dar, exigidos a oferecer estão de fato ligadas à experiência do coração tocado pela carência do outro? Ou será que as contas que fazemos – contas dos gastos, dos recursos, dos custos; contas do trabalho que supõe; contas do tempo – nos distanciam da compaixão?
“Quantos pães vocês têm? Vão ver.” Jesus chama os discípulos de novo à realidade. A solução que eles imaginavam nem era possível para eles. A consciência da nossa pobreza é boa. Ruim é quando achar que dependemos apenas do que temos para responder ao chamado nos paralisa. A oração é o lugar onde deixamos Jesus pedir o que temos e o que somos. Ele não pede mais que isso. E podemos a experimentar a alegria de entregar em suas mãos, entregar a Ele que acolhe, que valoriza, que oferece ao Pai e que dá graças por isso que entregamos. É Ele que pode fazer em nós e por meio de nós.
E quando Ele toma nas mãos para oferecer ao povo, o milagre se faz, a multiplicação acontece, o que as contas não davam conta o dom de Deus torna possível. A compaixão de Jesus inspira a nossa solidariedade e a plenitude chega, ela que brota da Eucaristia, da ação de graças. O movimento de Jesus de tomar, dar graças, partir e distribuir, que fazemos memorial a cada Eucaristia, transforma os carentes em saciados. A mesa eucarística é alimento que faz de nós também em Jesus Eucaristia para muitos que estão como ovelhas sem pastor.
O Salmo 23 pode nos ajudar a finalizar esta oração, experimentando o cuidado e a compaixão do Bom Pastor com nossas vidas, o restaurar das nossas forças. Abaixo um trechinho dele:
“O Senhor é meu pastor:
nada me faltará.
Ele me faz descansar em pastos verdes
e me leva a águas tranquilas.
O Senhor renova as minhas forças
e me guia por caminhos certos,
como ele mesmo prometeu.
Preparas um banquete para mim.
Tu me recebes
como convidado de honra.”
Senhor, desperta em mim o desejo de ser pastor(a) em Você e como Você!
Tania Pulier, comunicadora social – Palavra Acesa Editora – Família Missionária Verbum Dei e pré-CVX Cardoner