Efatá! (Mc 7,31-37)
9 de fevereiro de 2018“Todos vocês que são corretos, alegrem-se e fiquem contentes por causa daquilo que o Senhor tem feito!”
11 de fevereiro de 2018LEITURA: Marcos 8, 1-10
“Pouco tempo depois, ajuntou-se outra vez uma grande multidão. Como eles não tinham nada para comer, Jesus chamou os discípulos e disse:
— Estou com pena dessa gente porque já faz três dias que eles estão comigo e não têm nada para comer. Se eu os mandar para casa com fome, eles vão cair de fraqueza pelo caminho, pois alguns vieram de longe.
Os discípulos perguntaram:
— Como vamos encontrar, neste lugar deserto, comida que dê para toda essa gente?
— Quantos pães vocês têm? — perguntou Jesus.
— Sete! — responderam eles.
Aí Jesus mandou o povo sentar-se no chão. Depois pegou os sete pães e deu graças a Deus. Então os partiu e os entregou aos discípulos, e eles os distribuíram ao povo. Eles tinham também alguns peixinhos. Jesus deu graças a Deus por eles e mandou que os discípulos os distribuíssem. Todos comeram e ficaram satisfeitos; e os discípulos ainda encheram sete cestos com os pedaços que sobraram. As pessoas que comeram eram mais ou menos quatro mil.
Jesus mandou o povo embora, e, logo depois, subiu no barco com os seus discípulos, e foi para a região de Dalmanuta.
Palavra da Salvação.
PISTA PARA A ORAÇÃO:
Um dos grandes destaques dados pelos Evangelhos à vida de Jesus, é sua atuação através de milagres. O Cristo, que se manifesta no meio do povo como Palavra Viva do Pai, atua de modo particular nas dimensões do sofrimento humano, restaurando, curando e transformando pela ação da Graça, tudo aquilo que em nós é dor e desordem.
No entanto, é sabido que os escritos evangélicos não descrevem todas as ações extraordinárias praticadas por Jesus. O próprio João, ao final de seu Evangelho, diz que não haveria livros suficientes para narrar todas as obras do Messias enquanto esteve conosco na terra. Cada evangelista, portanto, resgata na memória de sua comunidade aquilo que lhe parece mais significativo e simbólico para a mensagem que deseja manifestar e, deste modo, há uma certa seleção dos prodígios que são narrados na escritura, sendo que alguns contados por Mateus, não necessariamente aparecem também em Marcos ou Lucas, bem como podem ser recontados com outra ênfase em João e assim por diante.
A liturgia de hoje, porém, nos apresenta um milagre que curiosamente é descrito por todos os quatro evangelistas: a multiplicação dos pães. Aparentemente, para as primeiras comunidades cristãs, este evento teve um impacto profundo e uníssono, de tal forma que se tornou referência unânime na caminhada espiritual dos discípulos de Jesus. Mas, quais são os dados tão relevantes desta narrativa? Muito mais do que o aspecto “fantástico” da multiplicação física do alimento, a narrativa de Marcos que meditamos hoje nos apresenta alguns aspectos fundamentais da doutrina cristã.
Em primeiro lugar, a ação do Cristo que sacia a fome das multidões é motivada única e exclusivamente pela gratuidade da compaixão do coração de Jesus. Vendo a fidelidade do povo que o seguia (impossível não reparar aqui o simbolismo do número três: “já faz três dias que eles estão comigo”) Jesus é movido de compaixão e não permite que seus discípulos retornem fracos e desamparados às suas casas. É necessário alimentá-los, pois muitos “vieram de longe”, ou seja, fizeram uma longa caminhada existencial, de conversão, renúncias e entregas para que pudessem estar na companhia do Mestre. O Senhor, portanto, não desconsidera nossa luta diária em busca da coerência pela construção do Reino. Mas, ao contrário, sacia em abundância todas aquelas necessidades que nos impedem de progredir no caminho da fé.
No entanto, é importante notar também que tratamos aqui de uma “multiplicação” de pães e peixes que foram oferecidos pelos discípulos. Jesus, embora pudesse agir assim, não faz surgir o alimento do nada, mas conta com a força da partilha e colaboração humana para que o milagre aconteça. O Senhor, que é bondoso e compassivo, não abre mão também da generosidade dos homens e mulheres de boa vontade que se dispõe a serem intermediadores da sua graça. Enquanto é Jesus que parte e faz aumentar o alimento, são os discípulos que o distribuem ao povo faminto. Há, portanto, na comunidade dos fiéis um sinal permanente: a solidariedade dos cristãos colabora na manifestação do dom de Deus, na medida em que esteja constantemente disponível a aliviar o sofrimento do próximo. Se nossos recursos são poucos, o Senhor os multiplicará.
Aos olhos pragmáticos dos discípulos, é difícil perceber uma solução viável para a fome do povo. Mas diante do deserto de desolação e falta de saídas para a restauração das forças, Jesus aponta um caminho de esperança e comprometimento: “quantos pães você tem?” O que nós podemos oferecer à realidade concreta dos que padecem no abandono? Quais os talentos que nos foram dados e que podem ser apresentados como serviço aos meus irmãos e irmãs? Será que, de fato, esgotamos todos os nossos recursos e possibilidades em prol da restauração da justiça, do bem e da vida digna de cada ser humano com o qual convivemos?
Peçamos, ao longo desta meditação, o dom de sermos generosos com os irmãos e confiantes na graça abundante e compassiva de Jesus. Peçamos também que a Eucaristia, presença permanente do Cristo, pão partilhado entre nós, ensine-nos cada dia mais a assumirmos nosso discipulado na dinâmica do serviço aqueles que tem fome de pão, de afeto, de justiça e de vida em plenitude.
“Senhor, dai pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão.”
Boa oração!
Matheus Cedric Godinho, Comunidade Santo Estanislau Kostka – CVX Curitiba