“Vejam! Aqui estão minha mãe e meus irmãos”
21 de novembro de 2017Jesus chora com pena de Jerusalém
23 de novembro de 2017Evangelho: Lucas 19, 11-28
“Jesus contou uma parábola para os que ouviram o que ele tinha dito. Agora ele estava perto de Jerusalém, e por isso eles estavam pensando que o Reino de Deus ia aparecer logo. Então Jesus disse:
— Certo homem de uma família importante foi para um país que ficava bem longe, para lá ser feito rei e depois voltar. Antes de viajar, chamou dez dos seus empregados, deu a cada um uma moeda de ouro e disse: “Vejam o que vocês conseguem ganhar com este dinheiro, até a minha volta.”
— Acontece que o povo do seu país o odiava e por isso mandou atrás dele uma comissão para dizer que não queriam que aquele homem fosse feito rei deles.
— O homem foi feito rei e voltou para casa. Aí mandou chamar os empregados a quem tinha dado o dinheiro, para saber quanto haviam conseguido ganhar. O primeiro chegou e disse: “Patrão, com aquela moeda de ouro que o senhor me deu, eu ganhei dez.”
— “Muito bem!” — respondeu ele. — “Você é um bom empregado! E, porque foi fiel em coisas pequenas, você vai ser o governador de dez cidades.”
— O segundo empregado veio e disse: “Patrão, com aquela moeda de ouro que o senhor me deu, eu ganhei cinco.”
— “Você vai ser o governador de cinco cidades!” — disse o patrão.
— O outro empregado chegou e disse: “Patrão, aqui está a sua moeda. Eu a embrulhei num lenço e a escondi. Tive medo do senhor, porque sei que é um homem duro, que tira dos outros o que não é seu e colhe o que não plantou.”
— Ele respondeu: “Você é um mau empregado! Vou usar as suas próprias palavras para julgá-lo. Você sabia que sou um homem duro, que tiro dos outros o que não é meu e colho o que não plantei. Então por que você não pôs o meu dinheiro no banco? Assim, quando eu voltasse da viagem, receberia o dinheiro com juros.”
— E disse para os que estavam ali: “Tirem dele a moeda e deem ao que tem dez.”
Eles responderam:
— “Mas ele já tem dez moedas, patrão!”
— E o patrão disse:
— “Eu afirmo a vocês que aquele que tem muito receberá ainda mais; mas quem não tem, até o pouco que tem será tirado dele. E agora tragam aqui os meus inimigos, que não queriam que eu fosse o rei deles, e os matem na minha frente.”
Depois de dizer isso, Jesus foi adiante deles para Jerusalém.”
Reflexão:
Na oração de hoje, peçamos ao Pai a graça de purificar nossas falsas imagens dele, e experimentá-Lo como o Deus da vida.
O trecho do Evangelho de hoje é a versão de Lucas da parábola dos talentos que ouvimos do Evangelho de Mateus no domingo. Uma versão diferente, mas que também nos leva a questionar a nossa relação com Deus e com nossa própria vida.
O trecho insere-se na ida de Jesus a Jerusalém, percurso ressaltado por este evangelista. No início, diz que Jesus já estava próximo a Jerusalém e colocou-se a ensinar por parábola a quem tinha ouvido o que Ele disse. Já não eram muitos os que davam ouvidos ao ensinamento de Jesus, porque compromete muito a vida e questiona para provocar grandes transformações. Aqui Jesus ensina aos que estavam escutando. No entanto, ensinar por parábolas já revela que tratará de algo delicado e precisa deste recurso para fazer entender o que seria difícil de outro modo.
Lucas não fala para os judeus. A figura do rei aqui, então, não diz respeito ao Messias esperado. A experiência de “rei” de seus ouvintes era política, povos muitas vezes submetidos a governantes autoritários e por isso indesejados. No entanto, também questiona o que eles estavam esperando de Jesus – alguém que tomaria o poder à força (como havia grupos subversivos em sua época) e subjugaria alguns para dar vantagem a outros? Ao longo da História, misturar religião com política só oprimiu e tirou a vida de muitos. E será que não corremos esse risco agora, querendo eleger quem se arvora em “representante de Deus” e não pensar no bem comum, sobretudo dos mais pobres, e na liberdade democrática?
Qual é a nossa imagem de Deus? Quando afirmamos “Deus isso”, “Deus aquilo”, de que Deus estamos falando? Essa é a grande questão do Evangelho de hoje. Jesus vai mostrar, então, a relação do rei de sua parábola com os seus empregados, aos quais confiou uma moeda de ouro para que ganhassem mais com ela. Perceber a acolhida do rei aos empregados que voltaram, tendo feito o que podiam e davam conta com o que haviam recebido. Um rei que acolhe, agradece e valoriza ambos, e confia-lhes mais, segundo a sua capacidade. Não há uma comparação de “dez” ou “cinco”, mas uma relação mútua, que gera mais vida.
O empregado que embrulhou e escondeu a moeda não foi capaz de entrar nesse tipo de relação com o patrão. Por que? Porque teve medo, devido à imagem que tinha dele. “Tive medo do senhor, porque sei que é um homem duro, que tira dos outros o que não é seu e colhe o que não plantou.” Que imagem é essa? Não seria a que o povo tinha do rei? E que imagem nós temos de Deus? Não será que muitas vezes agimos – ou não agimos – por medo, influenciados por tantas imagens que nos foram passadas ao longo da vida, e não por uma experiência pessoal e profunda do Pai de Jesus Cristo?
O rei da parábola respondeu como o homem lhe falou. Chegou a dizer: “Vou usar suas próprias palavras”. Não se trata de castigo, não é isso que Jesus está ensinando. Ao contrário. Ele alerta que não vamos além do que acreditamos. Nossa vida – pessoal e social – não tem força, sustento e impulso para ir a mais com esse tipo de imagem de Deus.
E o que Jesus, aquele que verdadeiramente revela o Pai, faz neste momento? “Depois de dizer isso, Jesus foi adiante deles para Jerusalém.” Entrega a sua vida. Entrega tudo o que é por amor.
Peçamos a Ele que transforme nossa relação com Deus, que nos dê a graça de crer de verdade e agir como quem acredita no Deus amor e por Ele se entrega.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei