“Perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora”
6 de março de 2018O poder de Jesus para expulsar demônios (LC 11,14-23)
8 de março de 2018Não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos Profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado da Lei — nem a menor letra, nem qualquer acento. E assim será até o fim de todas as coisas. Portanto, qualquer um que desobedecer ao menor mandamento e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem obedecer à Lei e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado grande no Reino do Céu.
Senhor, nosso desejo agora é fazer deste momento de pausa o lugar de nosso encontro e permanecer inteiramente na sua presença. Abrindo nosso coração, deixamos que o Espírito Santo traga a ele fogo e luz, ardor e entendimento.
Algumas passagens que lemos nos levam, muitas vezes, a imaginar Jesus sendo contrário à lei de Moisés e aos ensinamentos dos profetas. Isso, porque essa lei, tão cara aos judeus, bem como os ensinamentos dos profetas, eram as principais fontes usadas por fariseus e mestres quando queriam justificar seus atos e palavras. Atos e palavras distanciados do coração da lei, revestidos de intransigência quanto à obrigação de cumprir todos os inúmeros preceitos sob quaisquer circunstâncias, sem possibilidade de exceção. Várias discussões com doutores e fariseus se deram pela não observação do sábado, por parte de Jesus. E por que isso se dava? Jesus era um transgressor da lei? Se atentarmos para esta fala, perceberemos que é exatamente o contrário: “Não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos Profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo”. Jesus ainda afirma que: “enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado da Lei — nem a menor letra, nem qualquer acento”.
O que seria dar à lei o seu sentido completo? O que seria não tirar dela a menor letra ou qualquer acento?
No texto da primeira leitura de hoje (Dt 4, 1.5-9), Moisés diz ao povo: “Obedeçam a todas as leis e a todas as ordens que eu estou dando a vocês agora, para que vivam e tomem posse da terra que o Senhor, o Deus dos nossos antepassados, vai dar a vocês. Mas é importante notar que essa ordem de obediência se atrela a outra: “Não acrescentem nada à lei que lhes estou dando, nem tirem dela uma só palavra. Guardem todos os mandamentos do Senhor, nosso Deus.”
Para aprofundar um pouco mais na oração, tomemos a palavra obediência.
De sentido deturpado para nós, a obediência tem sido entendida como imposição de algo a alguém contra a sua vontade. No entanto, em seu sentido etimológico, obedecer deriva do verbo latino ob-audire e seria, estritamente: escutar aquele que está diante de si. Essa escuta pressupõe proximidade e atenção, postar-se à frente, não do lado, não atrás, não distante. Aquele que se coloca diante olha nos olhos, cala-se para escutar e escuta a fala com suas entonações, percebendo gestos e expressões faciais. Está atento, inteiro. Essa é a obediência desejada. Obediência livre, não a obrigação de fazer, a servidão ou a subserviência.
Para obedecer à lei, é preciso que, antes, se chegue ao coração da lei, o que só é possível se a fizermos chegar também a nosso próprio coração. Só a partir dessa conexão, coração a coração, se dará o ato de cumprir, em concordância com a ordem dada, por livre adesão a ela.
Jesus entende que a lei existe em função dos homens, não os homens em função da lei. Acredita que a vida estava acima de qualquer lei. Que urgente é a salvação, não o cumprimento da lei. Caso fosse necessário quebrar o repouso do sábado para dar vida a quem lhe pedisse, Ele o faria, como de fato o fez. Com isso gera o descontentamento e a acusação de fariseus e mestres, que não chegavam ao coração da lei. Ficavam à margem, na superfície, preocupados em executar o que se determina.
O que Jesus fazia era dar à lei o seu sentido completo. Sentido que se foi perdendo, sendo esquecido ou menosprezado, apesar da advertência de Moisés, logo quanto a lei foi entregue ao povo. Na verdade, o que mestres e fariseus faziam era alterar a lei, ora retirando o que lhe dava o sentido exato, ora acrescentando o que lhe deturpava o sentido.
Para terminar, observo que o versículo 20, que não faz parte dessa passagem, diz o seguinte: “Pois eu afirmo a vocês que só entrarão no Reino do Céu se forem mais fiéis em fazer a vontade de Deus do que os mestres da Lei e os fariseus.”
Senhor, que aprendamos a chegar ao coração da lei. Saber que ela existe, ou pelo menos deveria existir, para benefício de uma comunidade, para benefício de pessoas que precisam ser respeitadas em sua dignidade. Que aprendamos, a seu exemplo, dar à lei o seu sentido completo. Amém!
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Regina Maria – Família Missionária Verbum Dei-BH