O fariseu e o publicano
10 de março de 2018Confiança absoluta em Jesus
12 de março de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e abre-me o ouvido
para escutar a Palavra.
Vem, Espírito Santo, e impele-me a viver a Palavra.
Vem, Espírito Santo, neste caminho de preparação para a Páscoa,
para que junto a outros, possa crer e anunciar a Boa Nova.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 3.14-21
14 — Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, 15para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. 16Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. 17Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.
18— Aquele que crê no Filho não é julgado; mas quem não crê já está julgado porque não crê no Filho único de Deus. 19E é assim que o julgamento é feito: Deus mandou a luz ao mundo, mas as pessoas preferiram a escuridão porque fazem o que é mau. 20Pois todos os que fazem o mal odeiam a luz e fogem dela, para que ninguém veja as coisas más que eles fazem. 21Mas os que vivem de acordo com a verdade procuram a luz, a fim de que possa ser visto claramente que as suas ações são feitas de acordo com a vontade de Deus.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· Que relação vemos entre o que fez Moisés com a serpente (cf. Nm 21.4-9) e a morte de Jesus?
· Em que se manifestou o grande amor de Deus pelo mundo?
· Quem nos julgará, Jesus ou nossas próprias obras?
· Por que os que agem mal fogem da luz, ao passo que os bons dela se aproximam?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
Este texto é a continuação do diálogo de Jesus com Nicodemos sobre o tema do novo nascimento pelo Espírito (Jo 3.1-12). Aqui nos deparamos de preferência com um monólogo de Jesus sobre o tema do Mistério Redentor e sobre o julgamento dos homens.
O começo deste texto tem como pano de fundo o relato de Nm 21.4-9. Ali se narra que o povo murmurou contra Iahweh e contra Moisés; então Deus castigou esta rebelião enviando umas “cobras venenosas”. Quando o povo se arrepende e confessa seu pecado, Deus ordena a Moisés: “Faça uma cobra de metal e pregue num poste. Quem for mordido deverá olhar para ela e assim ficará curado” (Nm 21.9). Observemos que fica enfatizada a ambiguidade ou ambivalência da serpente: por um lado, as serpentes venenosas são uma expressão da serpente original, causadora do pecado do homem e símbolo da morte; por outro, a serpente de metal é benéfica para o povo e símbolo da vontade salvífica de Deus. E isto passa para o quarto evangelho, onde a ambiguidade do símbolo da serpente serve para expressar a dupla faceta do mistério pascal: uma negativa, a morte; outra positiva, a ressurreição. A morte está associada ao pecado, ao triunfo do mal e da serpente originária. Contudo, a esta negatividade se sucede a positividade do triunfo da vida mediante a exaltação ou elevação na cruz. A serpente levantada ao alto vence o mal provocado pelas serpentes venenosas. Jesus, ao ser levantado na cruz, vence o mal causado pela serpente das origens, ou seja, o pecado do mundo.
Portanto, o evangelho insiste em que a salvação nos vem pela entrega do Filho e é obra de Deus, que “tanto amou o mundo”. Diante desta doação amorosa da salvação eterna por parte do Pai, os homens têm de optar, recebê-la ou rechaçá-la, crer ou não crer nela. E esta opção é tão fundamental que decide, já no presente, a salvação ou condenação do homem. E nisto mesmo consiste o julgamento, porquanto no evangelho de João o juízo se dá já no presente e provoca a separação entre os homens conforme aceitem ou rejeitem Jesus Cristo como revelador do Pai.
Na parte final do texto de hoje, busca-se desentranhar o mistério da rejeição – por parte dos homens – de Jesus Cristo, a Luz, a Verdade. Ao que parece, existe uma opção prévia, do coração dos homens, pelas obras do mal, e eles preferem que fiquem ocultas nas trevas e na mentira que as envolvem. Não se animam a trazer à luz o mal de seu coração para serem iluminados, curados, salvados. No fundo, permanece o misterioso poder da liberdade humana, que pode rejeitar até o amor do Pai manifestado na entrega do Filho.
O que o Senhor me diz no texto?
O evangelho convida-nos a olhar a obra de Deus, o que Deus faz por e em nós; por que o faz e como o faz. Convida-nos a olhar para o alto, visto que a salvação vem de fora de nós mesmos, vem somente de Deus e de seu amor: “Sim, Deus amou o mundo tanto …”. E aqui também se redimensiona nosso agir: é preciso deixar-se iluminar por este amor e aproximar-se dele; isto é fazer a verdade, agir em plena luz. São estas as “ações feitas de acordo com a vontade de Deus” (Jo 3.21).
Diante desta primazia do agir de Deus, é preciso aprender a deixá-lo operar. O olhar introspectivo das duas primeiras semanas da Quaresma deve ceder o lugar a um olhar para Deus e sua graça. Elevar o olhar para ele, que foi elevado ao alto e de onde nos virá a salvação. Fixar o olhar em Cristo crucificado e esperar sua graça. Ele pode fazer o que nós não podemos; portanto, faz-se necessário entregar tudo em suas mãos. Evidentemente este abandono em Deus não é o mesmo que um despreocupar-se da própria vida nem das próprias obrigações. O olhar deve estar atento a Deus, mas para acompanhar seu agir, para reforçar a ação da graça e agradecer. A gratidão, a ação de graças a Deus, a Eucaristia é e será nossa melhor resposta.
Por fim, mesmo que não seja um tema menor, continua de pé a misteriosa rejeição dos homens ao amor do Pai manifestado em Cristo, o rechaço da salvação. Pode ser que nos ajude a descrição que faz o cardeal Bergoglio do coração corrupto, que se diferencia do pecador: “Perdoa-se o pecado, mas a corrupção não pode ser perdoada. Simplesmente porque na base de toda atitude corrupta há um cansaço de transcendência: diante do Deus que não se cansa de perdoar, o corrupto erige-se suficiente na expressão de sua saúde: cansa-se de pedir perdão […] O corrupto não tem esperança. O pecador espera o perdão… O corrupto, ao contrário, não, porque não se sente em pecado: triunfou”.
Hoje é um domingo de alegria porque o infinito amor do Pai se nos manifestou em Cristo; porque “a misericórdia não é apenas uma atitude pastoral, mas a essência mesma do Evangelho de Jesus” (Papa Francisco). Portanto, viver na Nova Aliança é viver em e da graça, do amor misericordioso e gratuito do Pai. Cabe-nos crer no amor de Deus e aceitá-lo e, depois, confiar e agradecer.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Olho meus pecados a partir de meus critérios de julgamento ou da misericórdia de Deus?
· Já senti que Deus me ama tanto, a ponto de haver entregue seu Filho por mim?
· Já experimentei alguma vez como Deus é capaz de dos males extrair o bem?
· Creio que minhas boas obras brotam somente de mim ou reconheço a ação da graça em mim?
· Procuro ocultar-me da luz de Deus, ou com simplicidade me aproximo dela?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Obrigado, Pai Todo-Poderoso, por dar-nos teu Filho.
Afasta de mim todo pensamento de superioridade.
Que neste tempo, possa elevar meu olhar e fixar meus olhos nele.
Faze com que não me desinteresse de minha vida nem da de meus irmãos.
Quero acompanhar tua obra em mim
com ações concretas e sinceras.
Que jamais me canse de perdoar.
E se o fizesse, que volte a começar mais uma vez.
Concede-me sempre a esperança em tua ternura e misericórdia.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, que eu possa olhar-te na cruz e ajudar-te, com minas ações, a continuar a obra que começaste em mim”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Escolho um dia da semana para celebrar a Eucaristia com minha comunidade, dando graças pela misericórdia de Deus para comigo.
“Ao dizer ‘Deus amou o mundo tanto’ indicou a imensidão de seu amor. O que vem em seguida demonstra a qualidade de seu amor, porque não nos deu nem um servo, nem um anjo (…), mas seu próprio Filho”.
São João Crisóstomo