Duas moedas no Tesouro… uma gota no Oceano
24 de novembro de 2014Meu nome
26 de novembro de 2014Leitura: Lucas 21,5-11
Naquele tempo, algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: ‘Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.’ Mas eles perguntaram: ‘Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer? Jesus respondeu: ‘Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ – e ainda: ‘O tempo está próximo.’ Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim.’ E Jesus continuou: ‘Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu.
Oração:
No evangelho de hoje Jesus se refere à destruição do templo de Jerusalém, que era o centro da fé do povo judeu: para lá peregrinavam, lá rezavam e faziam suas ofertas. O templo era o lugar de encontro com Deus e o sinal de Sua presença.
Na oração de hoje, deixo-me espantar com a franqueza de Jesus: “Vós admirais estas coisas?” – pergunta Ele. A admiração que os fieis de então demonstravam pelo Templo, suas belezas e o volume das ofertas feitas não é algo para causar estranhamento, pois o Templo não era só um prédio, mas história da fé daquele povo. Assim, quando Jesus questiona, fico pensando que Ele deve ter percebido alguma desproporcionalidade na relação dos fieis com o Templo ou um foco diferente daquele que deviam ter.
“Vós admirais estas coisas?” – pergunta Jesus aos que olhavam as pedras do templo e as ofertas feitas. Essa pergunta atravessa os séculos e chega à minha vivência da religiosidade. Quando me lembro de que Jesus se considera o Templo por excelência (Jo 2, 21), isto é, o lugar onde Deus e o homem se encontram, começo a entender que o espanto de Jesus com a relação dos fieis com o Templo devia-se ao fato de que, para Ele, o verdadeiro Templo é todo ser humano onde ocorre o diálogo com Deus.
Quando Jesus olha para os crentes daquele tempo, que se impressionavam pelas pedras do Templo e pelas ofertas, sem admirarem a si próprios, sem olharem para os irmãos ao lado e sem enxergar sua história como povo oprimido e peregrino, Jesus não contém a sua própria admiração: “Vós admirais estas coisas?”
Sinto que Ele também me faz essa pergunta. Sempre que eu vivo minha religiosidade olhando para as pedras bonitas ou para o volume das ofertas, Ele me pergunta: “Você admira isso?” Sempre que eu desvio meu olhar das pessoas e penso que Deus está em outros cantos – regras, doutrinas, teorias –, Ele me pergunta: “É isso mesmo que você admira?” Sempre que eu me confundo, esquecendo que é no ser humano que Deus habita e onde o diálogo entre Pai e Filho ocorre, focando minha atenção em outros detalhes menos importantes – condutas, cumprimento estrito de leis, seguimento moral –, Ele me questiona: “Tem certeza de que é isso que lhe causa admiração?”
Para tudo que eu admiro sem razão, ouço d’Ele: “não ficará pedra sobre pedra”. De fato, o tempo acaba por derrubar o que não é essencial e verdadeiro. Quando eu entendo o que importa na religiosidade, ouço Ele dizer: “e eu o levantarei em três dias” (Jo 2, 19). Fico feliz por Ele insistir em levantar, em mim, aquilo que importa; por Ele não deixar morrer em mim a busca e o zelo pela verdade; por Ele querer que ressurja em mim sempre, mesmo através das crises de fé, a consciência da beleza que é o ser humano, sempre um Templo muito mais bonito e com muito mais possibilidade de oferta que qualquer construção.
A oração de hoje nos ajude a viver uma espiritualidade que construa uma religião onde a admiração surja do olhar para o ser humano. Que cada vez mais homens e mulheres sejam Templo onde Deus está e fala com a humanidade.
João Gustavo H. M. Fonseca – estudante de Direito da UFMG – membro da Família Missionária Verbum Dei de Belo Horizonte