O Reino de Deus é como uma semente de mostarda.
27 de janeiro de 2017IV Domingo do Tempo Comum – Ano A
29 de janeiro de 2017Naquele dia, de tardinha, Jesus disse aos discípulos:
— Vamos para o outro lado do lago.
Então eles deixaram o povo ali, subiram no barco em que Jesus estava e foram com ele; e outros barcos o acompanharam. De repente, começou a soprar um vento muito forte, e as ondas arrebentavam com tanta força em cima do barco, que ele já estava ficando cheio de água. Jesus estava dormindo na parte detrás do barco, com a cabeça numa almofada. Então os discípulos o acordaram e disseram:
— Mestre! Nós vamos morrer! O senhor não se importa com isso?
Então ele se levantou, falou duro com o vento e disse ao lago:
— Silêncio! Fique quieto!
O vento parou, e tudo ficou calmo. Aí ele perguntou:
— Por que é que vocês são assim tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?
E os discípulos, cheios de medo, diziam uns aos outros:
— Que homem é este que manda até no vento e nas ondas?!
No silêncio do coração, diante da Trindade e sob o olhar de Maria, retiremos os calçados do orgulho, egoísmo e desamor e, com cuidado e suavidade, não tenhamos receio de pisar o terreno sagrado ao qual o Espírito nos conduz. Senhor, estamos aqui para escutá-lo atentamente e segui-lo.
Jesus convida os seus a irem para o outro lado do lago e faz isso à tardinha. A tardinha é o final de mais um dia. Para o calendário hebraico, regido pela lua, a tardinha é literalmente o final de um dia, pois, após o crepúsculo, já se inicia o dia seguinte. Isso me levou a pensar nos finais de etapas que, tantas vezes, nos deixam inseguros. O que virá depois?
Jesus, pleno do Espírito Santo, é um homem em movimento. Quando ele compara os nascidos do Espírito com o vento que sopra onde quer (Jo 3, 8), ele fala com muita propriedade, pois vive assim. Jesus está sempre em movimento, percorrendo cidades e vilas, fazendo o caminho de construção do Reino de Deus. O evangelho segundo Mateus finaliza com Jesus enviando os seus pelo mundo, para fazer outros seus seguidores, portanto, o movimento constante da vida de Jesus deve ser estendido à vida de seus seguidores.
Ao final de etapas em nossas vidas, costumamos temer o que virá. Assim acontece quando perdemos ou deixamos um emprego: como será daqui para a frente? Acontece também quando perdemos entes queridos, quando terminamos relacionamentos amorosos e várias outras situações.
Jesus nos faz um convite: vamos para o outro lado do lago? O lago é sempre um lugar de incertezas, é um meio onde não conseguimos sobreviver com facilidade, temos dificuldade de nos locomover, precisamos nos esforçar para ficar na superfície, pois não podemos respirar debaixo d’água, nossa visão é muito limitada e podemos ser surpreendidos com coisas que estão ocultas. Contudo, precisamos atravessar o lago para viver outras experiências, para continuar levando a missão.
Atravessar o lago, mudar de lado, nem sempre deve acontecer somente quando “perdemos” alguma coisa, mas também quando estamos no topo. Mesmo com tudo aparentemente indo muito bem, vale considerar a necessidade de mudar alguma coisa. Deixar-se acomodar no sucesso não é conveniente.
No contexto do trecho do evangelho de hoje, Jesus vivia um momento de sucesso. As multidões o seguiam, ele pregava para um povo que o aplaudia, mas não podia se acomodar. A construção do Reino de Deus exigia mais.
E, nós hoje, que lago precisamos atravessar? Que incertezas, dúvidas e medos nos impedem de ir para a outra margem? O que nos tem impedido de sermos bons, honestos, compassivos, humildes e mansos? O que nos tem impedido de buscar a justiça do Reino de Deus?
“De repente, começou a soprar um vento muito forte”.
Quem nunca experimentou uma força tentando impedir-lhe de alcançar os objetivos que temos? Provavelmente, ninguém, pois até Jesus foi tentado. Satanás, o enganador, está sempre colocando dúvidas, criando tempestades para desistirmos de alcançar os objetivos dentro do plano de Deus.
Na primeira leitura de hoje (Hb 11, 1-2.8-19), que recomendo não deixarem de ler e rezar com ela também, Paulo diz: “A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver” (Hb 11, 1). E, sobre Abraão e sua descendência, acrescenta: “Não ficaram pensando em voltar para a terra de onde tinham saído. Se quisessem, teriam a oportunidade de voltar” (Hb 11, 15).
Ora, a fé não é uma coisa inerte, precisa ser alimentada. Perseverar na fé, como Abraão e sua descendência, é alimentar a fé constantemente.
Jesus estava no barco com os seus como sempre está conosco. E como percebemos isso? Os discípulos duvidaram de que Jesus se importava com eles, e nós, o que achamos?
As dificuldades não deixam de existir. Lagos, mares e rios precisam ser atravessados, porém, eles não podem nos impedir de prosseguir. Esse é o exemplo de Abraão e de sua descendência: apesar de todas as dificuldades, não ficaram pensando em voltar para a terra de onde tinham saído.
A importância da oração diária e constante é manter viva e cada vez mais forte a fé que nos conduz. Conversar com Jesus, que vem ao nosso encontro na Palavra, ajuda-nos a mantê-lo sempre acordado em nós. Uma vez acordado, Ele acalma os nossos medos e nossas inseguranças. Caso contrário, Jesus pode adormecer no nosso coração e, então, deixamos de acreditar que será possível fazermos as travessias necessárias.
Maria, mãezinha querida, exemplo de fé e de perseverança, acompanhe-nos em nossas travessias, sempre nos lembrando de fazer tudo que Jesus disser. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte