“Ele conserva a paz nas fronteiras e alimenta o povo com o melhor do trigo”.
27 de junho de 2017Mateus 7,21-29
29 de junho de 2017“— Cuidado com os falsos profetas! Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos selvagens. Vocês os conhecerão pelo que eles fazem. Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos. Assim, toda árvore boa dá frutas boas, e a árvore que não presta dá frutas ruins. A árvore boa não pode dar frutas ruins, e a árvore que não presta não pode dar frutas boas. Toda árvore que não dá frutas boas é cortada e jogada no fogo. Portanto, vocês conhecerão os falsos profetas pelas coisas que eles fazem.”
Na oração de hoje, vamos pedir ao Pai a graça de compreender profundamente o que Jesus nos diz e o Seu Espírito para discernir no cotidiano a voz da vida.
“Cuidado” é palavra-chave no texto de hoje. Que cuidado é este que o Senhor nos convida a ter? “Cuidado com os falsos profetas! Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos selvagens.” Na atual situação do nosso país, não é difícil entender num primeiro nível o que Jesus diz. Quantas promessas maravilhosas de vida, de desenvolvimento, vêm de pessoas interessadas apenas em si mesmas! Na hora que nos são apresentadas, parecem a sétima maravilha do mundo, a última bolacha do pacote, o remédio de que estamos precisando, a salvação da lavoura, a solução dos problemas. Depois, vemos que não é bem assim e que caímos no conto do vigário.
Caímos no macro, enquanto nação, e caímos no micro, no nosso cotidiano também. No último sábado, estava eu chegando meio em cima da hora na minha faculdade, e meio sentida de ter conseguido estudar quase nada naquele mês, devido a um freela puxado que peguei. De repente, aparece na minha frente um rapaz bonito, simpático e sorridente, oferecendo-me o presente de uma revista na minha área de estudos (que não é minha área original de conhecimento, daí aumentar o peso que eu sentia por não ter estudado). Já sei que essas coisas são “presente de grego” – que me perdoem os gregos (essa expressão deve vir por causa da invasão de Troia, não é? Se for, é perfeita para o que aconteceu), mas por algum motivo parei. Aí ele seguiu a conversa e num primeiro lance falou que aquele trabalho fazia parte do seu estágio de Comunicação. Eita, acertou a tecla sem que eu percebesse! Comunicação é minha área, rolou uma identificação naquele momento, sobretudo – repito – por saber que a área nova não é a minha. Ou seja, ele – um dos meus – oferecia-me conhecimento (de que estava sentindo falta) na minha área nova (da qual sou consciente não saber). Pimba! Quando expôs os valores, eu já achei compensadores, mesmo que fossem para adquirir três tipos de revista (e olha que na hora eu disse “Bom, compartilho com minhas amigas”. Sim, porque já sei que mal mal consigo ler uma, quando consigo). Fui para a sala na sensação ainda de bom negócio, e aí, pouco a pouco voltando à razão, percebi que o desconto era real, mas não era tanto assim, e que aquele valor mensal que eu agreguei às minhas contas com as revistas era o que pretendia gastar com os livros, que eram, aliás, a minha prioridade neste momento. Que sensação terrível, mas quanto aprendizado veio daí!
Primeiro vemos o outro e aprendemos por fora o que Jesus está nos falando: “Eles chegam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos selvagens. Vocês os conhecerão pelo que eles fazem.” Outra tradução diz: “Por seus frutos os reconhecereis.” Quais as verdadeiras intenções do outro com o que me fala, me oferece ou com o que faz? Super difícil saber, não é? Às vezes até as nossas mesmo são misturadas. Porém, onde me leva isso que o outro me oferece? Quais os frutos que isso gera? Leva-me a mais vida? Opa! Jesus tem razão! Pelos frutos é mais fácil reconhecer. No exemplo que dei, me levou a um engano. Me levará mais a uma dispersão do que ao aprofundamento do conhecimento na área nova do qual necessito. Tantas propostas hoje em dia! Coachs de tudo quanto há, treinamentos, palestras, compras e mais compras… De forma alguma tudo está no mesmo balaio! Mas como discernir? A primeira dica é esta de Jesus: veja onde te leva. “Veja se te levará a mais vida, à plenitude. Veja se tem a ver com a minha proposta e o meu chamado para você.”
Começamos a olhar para fora, mas com essa mesma dica do Senhor podemos olhar para dentro também, para os frutos gerados em nós, na nossa vida e no nosso interior. “Os espinheiros não dão uvas, e os pés de urtiga não dão figos.” Vendo o fruto, posso reconhecer a semente, reconhecer de onde ele partiu, o que o gerou, quais eram as minhas reais razões e motivações para acabar dando no que deu. Voltando ao meu exemplo, vendo onde fui parar, perguntei-me: “Mas como eu caí? Por que vim parar nessa?” (sobretudo porque já tinha pensado “Lá vem esse povo dessas revistas!”) Aí reconheci como cheguei ali: culpada (por não ter estudado), fragilizada (pelo cansaço), questionada (pelas minhas prioridades, por ter desequilibrado a energia investida e talvez estar desperdiçando a oportunidade do estudo) e de certa forma inferiorizada (por não saber, não estar na minha área e ainda ter chegado tão por fora). Elementos perfeitos pra ser pega pelo lobo com pele de ovelha! O discurso (de fora) ressoou na minha carência (de dentro). A semente da carência não pode dar frutos de vida plena, frutos no pomar dos desejos mais profundos. Olhar para nós mesmos e reconhecer: quais são as minhas sementes? São mais de carência ou mais de desejo? Onde tenho cultivado as plantações da minha vida? Que frutos tenho colhido?
“Assim, toda árvore boa dá frutas boas, e a árvore que não presta dá frutas ruins.” Santo Inácio ensinava a olhar o começo, o meio e o fim das ações para discerni-las se vinham de um impulso do “bom espírito” ou do “mau espírito”. E é isso mesmo: quando me vir diante de uma “fome”, de uma “falta” ou de uma intenção ou proposta, olhar para a frente: “Onde isso me leva?” É bom no começo, no meio e no fim? E, quando me vir diante de um fruto, colhendo algo (que comprei, fiz, recebi, etc.), refletir: “Mas onde isso começou? De onde veio? Por que vim parar aqui?” É bom no começo, no meio e no fim? Começou bem e terminou mal? Por que? Onde mudou? Começou mal e terminou bem? Estranhar… O que as reais razões e motivações geram de fato em mim? Em quem me transformam?
Reconhecer diante de Jesus e do seu alerta “cuidado!” que o cuidado de fora é cuidado também do interior. Ir reconhecendo a nossa ovelha e o nosso lobo interior, não para eliminar, mas para perceber mais rapidamente os movimentos interiores e fazer boas escolhas. Diante de um pensamento, uma decisão, uma proposta, questionar-se: isso ressoa na minha ovelha ou no meu lobo faminto?
O final desse trecho do Evangelho, que parece uma ameaça, na verdade é uma constatação: o que não dá frutos bons não serve para a vida.
Peçamos, então, ao Espírito da vida, que nos conduza ao (re)conhecimento de dentro e de fora, para cuidar bem da vida – nossa e ao nosso redor – fazendo opções de vida plena que gerem frutos para o Reino.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei