Quem me viu, viu o Pai. (Jo 14, 7-14)
28 de abril de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e enche-me com a força da Ressurreição.
Vem, Espírito Santo, e renova-me para crer no Ressuscitado.
Vem, Espírito Santo, neste caminho pascal,
para que junto a outros, possa ser testemunha da Boa Nova.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 15.1-8
Jesus, a videira
1Jesus disse:
— Eu sou a videira verdadeira, e o meu Pai é o lavrador. 2Todos os ramos que não dão uvas ele corta, embora eles estejam em mim. Mas os ramos que dão uvas ele poda a fim de que fiquem limpos e deem mais uvas ainda. 3Vocês já estão limpos por meio dos ensinamentos que eu lhes tenho dado. 4Continuem unidos comigo, e eu continuarei unido com vocês. Pois, assim como o ramo só dá uvas quando está unido com a planta, assim também vocês só podem dar fruto se ficarem unidos comigo.
5 — Eu sou a videira, e vocês são os ramos. Quem está unido comigo e eu com ele, esse dá muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada. 6Quem não ficar unido comigo será jogado fora e secará; será como os ramos secos que são juntados e jogados no fogo, onde são queimados. 7Se vocês ficarem unidos comigo, e as minhas palavras continuarem em vocês, vocês receberão tudo o que pedirem. 8E a natureza gloriosa do meu Pai se revela quando vocês produzem muitos frutos e assim mostram que são meus discípulos.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · A comparação ou metáfora da vinha para representar a relação de Deus com seu povo não faz você lembrar de outro texto da Bíblia (cf. Is 5.1-7)?
- · O que faz o lavrador com a videira e por quê? A que se refere na vida cristã?
- · Nesta comparação, que relação os discípulos têm com Jesus e o que devem fazer?
- · Em que se revela a natureza gloriosa do Pai?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini[1]
O tema da videira tem na Bíblia muitas aplicações, mas o conteúdo destes versículos nos deixa propensos a assimilar a videira à vinha, a qual frequentemente se refere a Israel (cf. Is 5.1-7; 27.2-5; Jr 12.10). Esta videira/vinha, símbolo de Israel, é qualificada como verdadeira. “A declaração ‘Eu sou a videira verdadeira’ equivale a ‘Eu sou o verdadeiro povo escolhido por Deus” (L. Rivas).
O Pai aparece como o lavrador ou vinhateiro, assim como no Antigo Testamento se descreviam as ações de Deus sobre a vinha de Israel como a obra própria de um vinhateiro ou agricultor. Em 15.2, passa-se a especificar as ações do Pai, do vinhateiro: cortar o sarmento ou ramo que não dá fruto, ou podar e limpar a que dá fruto, para que dê mais.
Em seguida, Jesus expõe claramente a condição para poder dar fruto e sem a qual é impossível frutificar: trata-se de permanecer nele. O verbo permanecer (ménein) aparece 7 vezes e Jo 15.4-7, razão por que é o tema dominante e a atitude decisiva do discípulo, que implica estar unido ou vinculado firme e estavelmente a Jesus, como o estão os ramos ao tronco. A chave da fecundidade na vida cristã está em “permanecer” em união com Jesus.
Em 15.5, passa-se à linguagem direta e se afirma que Jesus é a videira e os discípulos são os ramos. A comunhão de vida entre Jesus e seus discípulos é a garantia dos frutos; a separação é garantia de impotência, de esterilidade (15.6).
Outro tema dominante do texto são os “frutos”. Somente pode dá-los o discípulo que permanece em Cristo; e quando os dá, o Pai poda-a para que dê mais. O sinal de ser discípulo é dar fruo e assim glorificar o Pai (15.8). Que são esses frutos? Alguns estudiosos recorrem à tradição sinótica e entendem-nos em sentido ético: são as boas obras (cf. Mt 3.8,10; 7.17; 21.34). Outros, em contrapartida, pensam que em são João têm um matiz próprio: são os frutos do apostolado, a atração das pessoas a Cristo, a comunicação da salvação às demais pessoas. Inspiram-se principalmente em Jo 12.24: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo”. Outros, por fim, pensam que o fruto primordial e do qual brotam os outros dois é o amor (ágape), sinal e conteúdo da vida nova recebida de Deus, e que move interiormente o discípulo a realizar boas obras e a comunicar a vida de Deus às outras pessoas.
O que o Senhor me diz no texto?
Na narrativa do evangelho de hoje aparecem três “atores”, cada um com sua identidade e sua missão próprias.
Em primeiro lugar, Jesus, que se apresenta como a videira verdadeira. Com esta afirmação, Jesus apresenta a si mesmo como o novo e verdadeiro povo de Deus. Reconhecemos aqui um “novo e grande passo histórico de Deus”, que volta a comprometer-se com os homens; renova sua vontade de fazer dos homens um povo onde ele possa habitar e caminhar.
Em seguida temos o Pai, o vinhateiro que se encarrega de cuidado da videira, de podar/purificar os ramos. Todos recebem sua ação ou atenção: os que estão secos e não dão frutos são cortados ou tirados; os que dão fruto são podados para que deem mais. “Purificação: a Igreja e o indivíduo sempre precisam purificar-se. Os atos de purificação, tão dolorosos como necessários, aparecem ao longo de toda a história, no decorrer de toda a vida dos homens que se entregaram a Cristo […]. É preciso cortar a autoexaltação do homem e das instituições; tudo o que se tornou demasiado grande deve voltar de novo à simplicidade e à pobreza do próprio Senhor. Somente através de tais atos de mortificação a fecundidade permanece e se renova” (J. Ratzinger).
E, por último, estamos nós, os discípulos de Jesus. E o que nos toca, nossa missão, é permanecer unidos a Jesus. O testemunho de muitos santos, para não dizer de todos, tanto de vida ativa como contemplativa, é unânime a este respeito: somente quem permanece unido a Jesus pode dar verdadeiros frutos. Portanto, é claro que a união com Jesus é o grande segredo da vida cristã, a alma de todo apostolado e a fonte de nossa felicidade duradoura neste mundo. Recentemente, o Papa Francisco recordava-nos em sua exortação apostólica Gaudete et exultate que a união com Jesus é a fonte da santidade: “No fundo, a santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspetos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor (nº 20).
“Para poder ser perfeitos, como é do seu agrado, precisamos viver humildemente na presença dele, envolvidos pela sua glória; necessitamos andar em união com ele, reconhecendo o seu amor constante na nossa vida. Há que perder o medo desta presença que só nos pode fazer bem. É o Pai que nos deu vida e nos ama tanto. Uma vez que O aceitamos e deixamos de pensar a nossa existência sem ele, desaparece a angústia da solidão (cf. Sl 139/138.7) (nº 51).
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Já experimentei, em alguma ocasião, uma “poda” da parte de Deus em minha vida?
- · Serviu-me para dar mais frutos, para dar algo melhor de mim?
- · Que meios utilizo para manter-me sempre unido a Jesus?
- · Já experimentei os benefícios de estar unido a Jesus, de sentir sua companhia em minha vida?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por seres a videira verdadeira.
Quero viver em tua presença e caminhar contigo.
Obrigado por mostrar-nos o Pai que cuida de mim, de nós.
Me animo a confiar-te meus ramos, um por um.
Entrego-te os que explodem em beleza e vida.
Ainda mais, porém, os que estão secos.
Purifica-me do que me separa de ti,
de tudo o que não me dá liberdade.
Todos os meus frutos são teus.
Toma-os. Recebe-os.
Faze-os novos, todos para teu Reino. Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, Videira Verdadeira, purifica-me e dá-me a graça de estar unido a ti
para que os frutos sejam para teu Reino”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me a identificar as podas de Jesus em minha vida e os frutos que ele me concedeu através delas.
“Nele e por ele, fomos regenerados no Espírito para produzirmos fruto de vida,
não daquela vida caduca e antiga, mas da vida nova que se funda em seu amor”.
São Cirilo de Alexandria
[1] Pe. Damián Nannini: sacerdote da Arquidiocese do Rosário (Argentina); Licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; Diretor da Escola Bíblia do CEBITEPAL – CELAM.