Graça! (Lc 1, 57-66)
23 de dezembro de 2017Nascimento do Amor
25 de dezembro de 2017PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e unge-me.
Derrama-te com força e dá-me a vida nova.
Desperta em mim a alegria.
Converte-me e converte minha comunidade.
Sê a luz que me impulsiona para o testemunho crível.
Vem, Espírito Santo, durante este advento, para que eu possa crer
e anunciar que a Palavra se faz carne e habita entre nós.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Lucas 1.26-38
O nascimento de Jesus é anunciado
26Quando Isabel estava no sexto mês de gravidez, Deus enviou o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia chamada Nazaré. 27O anjo levava uma mensagem para uma virgem que tinha casamento contratado com um homem chamado José, descendente do rei Davi. Ela se chamava Maria. 28O anjo veio e disse:
— Que a paz esteja com você, Maria! Você é muito abençoada. O Senhor está com você.
29Porém Maria, quando ouviu o que o anjo disse, ficou sem saber o que pensar. E, admirada, ficou pensando no que ele queria dizer. 30Então o anjo continuou:
— Não tenha medo, Maria! Deus está contente com você. 31Você ficará grávida, dará à luz um filho e porá nele o nome de Jesus. 32Ele será um grande homem e será chamado de Filho do Deus Altíssimo. Deus, o Senhor, vai fazê-lo rei, como foi o antepassado dele, o rei Davi. 33Ele será para sempre rei dos descendentes de Jacó, e o Reino dele nunca se acabará.
34Então Maria disse para o anjo:
— Isso não é possível, pois eu sou virgem!
35O anjo respondeu:
— O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Deus Altíssimo a envolverá com a sua sombra. Por isso o menino será chamado de santo e Filho de Deus. 36Fique sabendo que a sua parenta Isabel está grávida, mesmo sendo tão idosa. Diziam que ela não podia ter filhos, no entanto agora ela já está no sexto mês de gravidez. 37Porque para Deus nada é impossível.
38Maria respondeu:
— Eu sou uma serva de Deus; que aconteça comigo o que o senhor acabou de me dizer!
E o anjo foi embora.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · Quem envia o anjo Gabriel? Aonde o envia e a quem?
- · Como o anjo chama Maria e por quê?
- · Como a Virgem reage ante esta saudação e por quê?
- · O que diz o anjo à Vigem e o que lhe anuncia? O que a Virgem pergunta ao anjo?
- · O que o anjo responde a Maria? Que sinal lhe anuncia?
- · Qual é a resposta de Maria diante do anúncio do anjo?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini
O evangelho coloca-nos diante da figura de Maria, sem nada contar-nos do passado da Virgem. Nada nos diz sobre seus pais, seu lugar de nascimento, sua criação. Nem sequer como conheceu José e quando o havia desposado. Somente nos diz onde vivia – na cidade de Nazaré da Galileia; seu estado civil – era virgem, mas prometida ou comprometida com José; e seu nome: Maria. Somente dois versículos de apresentação, pois a intenção do evangelista é concentrar-se no que se segue: a vocação e a escolha de Maria para ser a Mãe do Messias e Filho de Deus. Por isso, não conta tanto o passado, mas, antes, o futuro: o que Maria é chamada a ser no plano de Deus, sua colaboração na missão redentora de seu futuro Filho. O evangelho vai diretamente ao momento presente porque o mais importante é o tempo da salvação, que o grego chama kairós, momento da intervenção de Deus na história, momento único e de plenitude.
No texto que escutamos se veem três temas: a concepção virginal, os feitos futuros do Menino e o retrato de Maria.
A concepção de Jesus por parte de Maria Virgem remete, de preferência, à teologia da nova criação, onde o Espírito de Deus, ativo já nas origens da vida (Gn 1,2), opera algo realmente novo e maravilhoso. A exclamação de Maria – “Isso não é possível, pois eu sou virgem!” – tem como função, dentro do gênero literário de anunciação, servir de pretexto para a clara explicação do anjo Gabriel, que não deixa dúvidas sobre a ação exclusiva do Espírito Santo. Além do mais, ficam evidentes tanto a paternidade exclusiva de Deus sobre Jesus quanto o alcance de sua filiação divina, de seu ser Filho de Deus.
A descrição dos feitos futuros do Menino lança luz sobre sua identidade e missão. Neste relato, Jesus é apresentado como futuro Messias e Filho de Deus pela força do Espírito Santo. Ambos os títulos têm suas raízes na terminologia do Antigo Testamento e nas expectativas do judaísmo, mas no terreno da fé cristã, floresceram de modo muito superior ao esperado. Jesus é o herdeiro do trono de Davi segundo as promessas do Antigo Testamento, mas é Filho de Deus, visto que foi gerado pelo próprio Deus, sem concurso do homem, e isto superou em muito as expectativas de Israel.
No final do relato, Maria é retratada como aquela que escuta a Palavra de Deus e obedece a ela; a seu respeito se diz que era serva ou escrava.
O que o Senhor me diz no texto?
O evangelho de hoje traz-nos o anúncio e também o começo do cumprimento das promessas do Antigo Testamento. Cumprimento que as supera por sua plenitude e por sua novidade. Tal como na criação, o Espírito de Deus volta a agir para dar origem à nova criação, ao nascimento do novo Adão, Jesus Cristo, filho de Davi e Filho de Deus.
Este “desenvolvimento histórico” da Revelação pode ajudar-nos a tomar consciência de quem é aquele que virá, que nascerá. Até agora, o Advento convidava-nos, com João Batista, a preparar o caminho, a converter-nos para recebê-lo. Também João Batista nos convidava a ir além de seu batismo e de sua pessoa, para esperar aquele que é maior e vem depois dele. Hoje se nos revela o mistério oculto: Deus mesmo se faz homem em Jesus Cristo. É o próprio Deus que, em Jesus Cristo, faz-se menino para salvar e recriar a natureza humana.
Hoje se nos revela o que vamos receber neste Natal: a presença do Senhor em nossa vida. De certo modo, receberemos o próprio Senhor Jesus que a Virgem Maria recebeu. Com efeito, “o Senhor está com você” – a saudação do anjo a Maria – é a expressão do rosto de Deus que hoje se nos oferece também a nós. Ele está conosco muito antes de que nos demos conta. “Pode começar a nascer uma vida nova levando-se a sério estas palavras, mas não conheceremos esta confiança em Deus se, concretamente, não nos pusermos a caminhar com ele, como Maria” (G. Zevini-P.G. Cabra).
Sendo assim, temos que dispor-nos a receber o Senhor como o fez Maria. O evangelho de hoje nos apresenta a Virgem Maria como modelo e exemplo dos que sabem receber a visita de Deus em suas vidas. Maria pôde entregar-se tão plenamente à vontade de Deus, à sua Palavra, porque era muito humilde. A atitude fundamental do humilde em seu agir é a obediência à vontade de Deus. Vale dizer que a obediência a Deus é a outra face da humildade. E esta foi justamente a atitude de Maria: a obediência da fé. Maria acreditou na Palavra de Deus. Sua humildade a fez tomar esta atitude de Servidora da Palavra, disponível à vontade de Deus: “Que aconteça comigo o que o senhor acabou de me dizer!”. Disse sim ao Plano de Deus a seu respeito, mesmo sem entendê-lo plenamente. Confiou em Deus, em seu poder para realizar seu desígnio para além das leis humanas. Acreditou no impossível para os homens, mas possível para Deus. Tudo é graça na vida de Maria. Mas não apenas graça. Encontra-se também a aceitação livre, a decisão pessoal, que em Maria outra coisa não é senão sua correspondência a essa graça inicial. Sim, no princípio era a graça, mas graça recebida, aceita e, portanto, fecunda. Em Maria, diríamos, até biologicamente fecunda. Conceberá em seu seio, dará à luz, será Mãe do Salvador. No entanto, esta “fecundidade biológica” foi precedida por uma fecundidade espiritual. Como belamente nos diz santo Agostinho, antes de conceber em seu seio, concebeu a Palavra em sua mente pela fé. Recebeu a palavra, aceitou a palavra de Deus; acreditou na Palavra de Deus. Por isso, antes de ser Mãe da Palavra encarnada, foi discípula da Palavra. E ao mesmo tempo, missionária da Palavra, já que a concebe para si e para o mundo inteiro. “E aos que participam, dentro da Igreja, da fecundidade de Maria, ele lhes dá também uma participação em sua maternidade” (von Balthasar).
O mais importante do evangelho de hoje é o tema do anúncio que Deus nos faz e que temos o privilégio de receber, de escutar. Mas também é preciso crer e esperar com confiança seu cumprimento em nossa vida. E, em seguida, sermos testemunhas e portadores deste anúncio.
Por fim, que o Senhor nos conceda esperar tudo dele, inclusive da forma que menos esperamos, mas com a certeza de que vem salvar-nos. Porque “o único caminho para a felicidade consiste em ser homem, mulher de advento: alguém que escuta mais do que fala, principalmente alguém que está consciente de que nada é impossível para Deus. Se Deus nos dá pouco, significa que esperamos pouco; e, de fato, é impossível alimentar alguém que não tem fome” (G. Dannles).
Façamos nossas as palavras do Papa Francisco: “’Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1.38). A palavra ‘faça-se’ não é apenas uma aceitação, mas também uma abertura confiante ao futuro. Este «’aça-se’ é esperança! Maria é a mãe da esperança, o ícone mais expressivo da esperança cristã. Toda a sua vida é um conjunto de atitudes de esperança, a partir do ‘sim’ proferido no momento da Anunciação. Maria não sabia como poderia tornar-se mãe, mas confiou-se totalmente”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Temos medo do que Deus nos pode pedir? Por quê?
- · Fechamo-nos em nossos projetos pessoais, ou humildemente os apresentamos ao Senhor?
- · Custa-nos dar um sim ao plano de Deus? Por quê? O que nos falta?
- · Mantemos nosso sim a Deus ao longo do tempo, na vida cotidiana?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Também quero saudar-te, Maria.
Alegra-te, quero sentir-me filho teu!
Meu desejo é poder estar a teu lado hoje
e vivermos juntos o nascimento.
Entrego-te minhas dúvidas
e o que não me deixa seguir o plano de Deus Pai.
Concede-me tua mesma docilidade para receber o Senhor que vem à minha vida
Que eu possa deter-me em teus gestos e não em minhas preocupações.
Quero abrigar este Menino que vem para mudar minha vida e o mundo inteiro.
Dá-me tua ternura e erguerei Jesus que quer ficar em meus braços.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Maria, ajuda-me a ser dócil e a escutar o que Deus pensou para mim!”
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me visitar uma paróquia ou capela e ali deixar uma flor para Nossa Senhora.
“Quando passamos diante de uma imagem da Virgem, é preciso que digamos:
‘Eu te saúdo, Maria! Saúda a Jesus por mim!’”
Padre Pio de Pietrelcina