A dimensão do perdão (Mt 5,20-26)
23 de fevereiro de 2018“Ó Senhor, eu sou teu servo”
25 de fevereiro de 2018Leitura: Mateus 5, 43-48
Naquele tempo, Jesus disse aos discípulos:
Vocês ouviram o que foi dito: “Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.”
Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu. Porque ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal.
Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam que Deus lhes dê alguma recompensa? Até os cobradores de impostos amam as pessoas que os amam!
Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que estão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso!
Portanto, sejam perfeitos, assim como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu.
Palavra da Salvação.
PISTA PARA A ORAÇÃO:
O Evangelho de hoje é sem dúvida um dos mais marcantes e desafiadores de toda a tradição cristã. “Amai os vossos inimigos” ordena o Senhor. A aspiração a um amor sem fronteiras, muito além do afeto ordinário por nossos amigos, familiares e conhecidos mais próximos, é indicada por Jesus como o caminho de perfeição que nos confirma como “filhos do Pai que está no céu”.
Mas é possível ao ser humano alcançar a plenitude de amor? Que quer Jesus de nós? Que soframos calados e passivos todas as humilhações e desonras que nos são infligidas e ainda apresentemos preces e louvores a Deus por nossos malfeitores? Não seria essa uma postura de ingenuidade e até de autodestruição?
Em primeiro lugar devemos considerar nas palavras do Mestre uma dimensão misteriosa da ação divina no mundo. O Criador, em sua infinita sabedoria, não aniquila o mal, embora o pudesse fazer. A cada homem sobre a terra recai a responsabilidade de ser livre diante do Senhor, assumindo ou não uma vida de virtude e amor. A liberdade humana é dom de Deus e não nos é tirada, mesmo que através dela optemos radicalmente por caminhos de morte e destruição. Sobre maus e bons Deus faz nascer o sol, e justos e injustos conviverão sobre a terra regidos pela mesma norma, cuidados pelo mesmo zelo, amados com o mesmo Amor. A muitos de nós, que buscamos trilhar a via do bom senso e de uma razoável retidão moral, esta verdade parece profundamente escandalosa. No entanto, ela nos assinala um caminho seguro de maturidade e aperfeiçoamento humano.
Em primeiro lugar, o amor aos inimigos é reconhecimento de que também eu, ao menos em potência, posso praticar o mal. As inúmeras variáveis que influenciam as atitudes humanas podem facilmente me colocar em uma posição que desafie meu senso de justiça, minha misericórdia, minha honestidade ou paciência. Afinal, aquele que em uma situação limite não escolheu o caminho do auto favorecimento e do egoísmo, que atire a primeira pedra!
Em segunda instância, acolher a falta do irmão com misericórdia é reconhecimento de que não sou superior a ninguém, mas filho do mesmo Pai que a ambos, santos e pecadores, criou e alimentou. O perdão é a porta da humildade e esta, por sua vez, é não tomar em nossas consciências um lugar que pertence somente a Deus. Para o verdadeiro cristão, está claro que não são simplesmente seus méritos que o fazem alguém melhor, mas a graça do Amor de Deus que nos foi revelada na gratuidade do Evangelho. Se o Cristo não tivesse feito de sua vida uma entrega absoluta pelo anúncio da Boa Nova, que benfeitorias poderíamos desempenhar? Não estaríamos, por certo, todos nós sujeitos ainda a leis opressoras e ritos segregadores?
Por fim, em contrapartida à pesada exigência, Jesus nos oferece uma doce promessa: sermos filhos do Pai que está no céu! É quando nos reconhecemos como verdadeiros irmãos e irmãs que praticamos a justiça, o perdão e a fraternidade. Estas, por sua vez, superam toda violência e nos apontam a concretude de um Reino que não é daqui, mas que já está aqui e agora, como semente esperando por ser plantada e cuidada. Amar e orar por quem nos ofende é reconhecer-se enquanto sacerdote deste Reino. Aquele que consagra o mundo ao Coração bondoso de Jesus, na esperança de que o Amor supere todo ódio e construa verdadeiramente um mundo de paz. Quem reza por aqueles que odeia, em breve não odiará mais ninguém.
A partir da minha oração de hoje posso me perguntar: de quem, nos caminhos da vida, eu me fiz inimigo? Aquilo que endurece meu coração ao perdão, também não é sinal de meu pecado? E meus discursos, alimentam nos demais a misericórdia pregada por Cristo ou perpetuam no seio da comunidade o rancor e o desejo de vingança? Afinal, comporto-me de fato como filho de Deus ou como algoz de meus irmãos e irmãs que erraram?
Que Maria Santíssima, exemplo de perdão e Mãe da Misericórdia, mostre-nos o caminho da virtude e da perfeita filiação divina.
Boa oração!
Matheus Cedric Godinho, Comunidade Santo Estanislau Kostka – CVX Curitiba