Ele veio para nos dar a vida
14 de setembro de 2017A árvore e as suas frutas (LC 6,43-49)
16 de setembro de 2017Perto da cruz de Jesus estavam a sua mãe, e a irmã dela, e Maria, a esposa de Clopas, e também Maria Madalena. Quando Jesus viu a sua mãe e perto dela o discípulo que ele amava, disse a ela:
— Este é o seu filho.
Em seguida disse a ele:
— Esta é a sua mãe.
E esse discípulo levou a mãe de Jesus para morar dali em diante na casa dele.
Neste dia, em que a Igreja nos propõe celebrar a memória de Nossa Senhora das Dores, peçamos ao Espírito Santo uma melhor compreensão das experiências de dor que, invariavelmente, todos nós vivemos.
Comumente, a não ser por algum desequilíbrio ou outra coisa desconhecida para mim, as pessoas não gostam de sentir dor. A medicina busca, incessantemente, formas de acabar com as dores, ou aliviá-las. Nos pacientes terminais, quando já não há solução conhecida para o mal, todo o esforço é para que eles não sofram mais, até o derradeiro suspiro.
Dentro da religião, muitas vezes, pode-se criar uma sensação de que sentir dores é bom, pois ajuda a pagar os pecados cometidos. Contudo, não há garantia nenhuma de que as dores e os sofrimentos levem ao perdão. Às vezes, pelo contrário, males que causam grande dor podem levar a um sofrimento muito grande, jamais superado, tornando a vida amargurada e rancorosa. Não se consegue experimentar o perdão de Deus, embora ele esteja lá para ser colhido.
O perdão é dom que Deus nos concede por ser todo misericordioso. Jesus já nos ensinava o perdão como prática permanente. Em vez de perdoar uma ou duas vezes, perdoar setenta vezes sete, ou seja, infinitamente.
Quando sentimos dor e conseguimos reconhecer que somos os responsáveis por causá-la, torna-se mais fácil não ficarmos presos ao sofrimento e conseguirmos, com maior facilidade, superá-la. Porém, quando a dor advém da ação de outros, costumamos ter mais dificuldade para nos livrarmos do sofrimento.
Ao contemplar a cena trazida pelo texto, podemos perceber pessoas com dores imensas e provocadas injustamente, sem nenhuma responsabilidade delas. No entanto, observar atentamente este quadro e o resultado advindo dessa experiência de dor nos dá a possibilidade de uma oração profunda e fortalecedora de nossa fé.
Jesus sofria, além da dor do quase completo abandono, também a dor física de estar pregado na cruz. Os poucos que o seguiram e que continuavam ao pé da cruz sofriam a amarga dor de contemplar aquele, no qual depositaram toda a esperança, morrer de forma inacreditável. A quem iriam recorrer depois de tudo isso? E a mãe de Jesus? Além da dor que os discípulos sofriam, ela que também era discípula, sofria a dor de mãe que custa a compreender porque seu filho, que só desejou o bem, morre exatamente por obedecer a vontade de Deus.
Contemplando este quadro, somos convidados a rezar para saber suportar, com a máxima dignidade, nossas experiências de dor. Jesus não abre a boca para reclamar ou causar comiseração de sua condição, mas para reconfortar. Diante da injustiça que sofre, Ele não se desespera, mas olha em volta em busca do que fazer para amenizar a dor dos que sofrem. Quem irá cuidar da minha mãe, que cuidou de mim com tanto carinho? Quem poderá orientar e reconfortar os discípulos que tanto me amam e que ficarão no mundo?
A dor não é desejada e é bonito fazermos todo o esforço possível para evitarmos causar dor, tanto em nós como nos outros, porém a dor é inevitável e ela é, de uma certa forma, uma prova para o cristão. Talvez, por esta razão, muitas vezes comete-se o engano de acreditar que o cristão procura a dor como motivo de expiação dos pecados. Como um estudante se prepara para as provas das disciplinas que estuda, também temos de estar preparados para viver as dores que a vida nos traz. No lugar do sofrimento, podemos, a exemplo de Jesus e de Maria, colocar o amor aos outros e a esperança na misericórdia do Pai, como forma de superar esses momentos difíceis. Olhar mais para as necessidades dos outros, ao invés de se voltar somente para o próprio umbigo, é uma tarefa a ser desempenhada sempre, inclusive nos momentos de dor.
Como tenho vivido minhas dores? Peço e penso somente em mim, ou lembro-me dos outros e de suas necessidades? Desenvolvo um sofrimento que dificulta a superação ou mantenho a confiança na misericórdia de Deus e reavivo minha esperança?
Maria, que experimentou tantas dores e soube se manter fiel ao amor e à esperança, caminhe conosco e nos ajude a superar os sofrimentos, fortalecidos pela confiança de que, no amor, a dor e a morte nunca têm a última palavra. Nele, tudo renasce. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte