O “sim” de um homem de paz
4 de outubro de 2018(Lc 10, 17-24)
6 de outubro de 2018Jesus continuou:
— Ai de você, cidade de Corazim! Ai de você, cidade de Betsaida! Porque, se os milagres que foram feitos em vocês tivessem sido feitos nas cidades de Tiro e de Sidom, os seus moradores já teriam abandonado os seus pecados há muito tempo. E, para mostrarem que estavam arrependidos, teriam se assentado no chão, vestidos com roupa feita de pano grosseiro, e teriam jogado cinzas na cabeça. No Dia do Juízo, Deus terá mais pena de Tiro e de Sidom do que de vocês, Corazim e Betsaida! E você, cidade de Cafarnaum, acha que vai subir até o céu? Pois será jogada no mundo dos mortos!
Então disse aos discípulos:
— Quem ouve vocês está me ouvindo; quem rejeita vocês está me rejeitando; e quem me rejeita está rejeitando aquele que me enviou.
Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude na compreensão deste texto e nos dê os dons necessários para colocarmos em prática aquilo que a mensagem nos indicar.
A linguagem apocalíptica do texto, em um primeiro momento, causa uma certa repulsa. Como encaixar o Deus misericordioso que Jesus nos veio apresentar dentro dessa ameaça tão forte?
Senhor, eu compreendo que o sofrimento advindo de uma falha por omissão é muito maior que o sofrimento advindo de uma falha por ignorância. Creio que o Senhor busca nos instruir em relação a isso.
É muito comum que pais zelosos façam muitas recomendações aos filhos quando estes vão sair de casa para um passeio com os amigos. Não obstante, também é comum ouvir os jovens dizerem que “praga de mãe pega”. Ora, na verdade os jovens gostariam de não ouvir as recomendações para, enfim, não serem responsáveis pelas consequências de ações equivocadas.
Eu me lembro de, muitas vezes, não seguir a turma em alguma coisa por causa de uma recomendação de minha mãe, que ficava martelando em minha cabeça. Naqueles dias, preferiria que minha mãe nada tivesse falado, afinal “praga de mãe pega”, mas hoje consigo perceber que não entrei em muitas situações constrangedoras somente por causa das recomendações dela.
Isso me traz à memória a origem da palavra obediência, derivada do termo latino ob-audire, que significa “escutar com atenção”.
Muitos escutam (ou leem) o evangelho, porém não lhe dão atenção, ou, em outras palavras, não o obedecem. De que lhes adianta esta mensagem tão importante? De que adianta saber-se filho de Deus, se não se comporta como tal?
Senhor, admira-me que tenha falado de cidades, e não de pessoas, e procuro entender o porquê. Quantas pessoas conheço, à minha volta, que são boníssimas e que procuram, diariamente, caminhar sob sua luz. São muitas! Na verdade, em muito maior número do que aquelas que não querem. Muitas não professam a fé como eu professo, às vezes, porque nós, os anunciadores de sua palavra, não temos sido muito eficazes, mas, mesmo assim, entre elas conheço mais pessoas que buscam viver a essência de sua mensagem, o amor, do que pessoas que não buscam. Então, por que não temos conseguido construir uma sociedade justa? Por que tantas diferenças sociais e violência?
Senhor, sua palavra hoje me diz que estamos falhando em escutar com atenção. Faz-me questionar em que, exatamente, temos colocado nossa atenção. Porque, muitas vezes, a atenção na palavra acaba apenas em considerações muito pessoais, afinal, é muito cansativo buscar a transformação das estruturas sociais. Somos muito bons e caridosos, ajudamos muito as pessoas necessitadas, mas este negócio de mudar estrutura social é muito complicado, deixamos somente a cargo daqueles que elegemos. De anos em anos, vamos lá na urna, depositamos nossos votos e pedimos a Deus para guiar os passos dos eleitos. Mais que isso, dá muito trabalho, é muito complicado, não adianta nada etc. São muitas as desculpas.
Senhor, ajude-nos a compreender melhor quando você diz: “quem ouve vocês está me ouvindo; quem rejeita vocês está me rejeitando; e quem me rejeita está rejeitando aquele que me enviou”. Afinal, se vamos em busca de uma mudança de estruturas sociais, movidos pelos seus ensinamentos, necessitamos acreditar que somos seus porta-vozes, para uma sociedade que espelhe o Reino anunciado por você.
Senhor, lembro-me de que você disse, certa vez, que veio incendiar a humanidade e que desejava que ela já estivesse ardendo (Lc 12,49). Pois bem, compreendo também que esse ardor não pode levar a nenhum tipo de violência, pois sua mensagem sempre foi de paz e nunca forçou ninguém a segui-lo. Portanto, ajude-nos a ser anunciadores que não dão trégua, que não descansam e não se acovardam diante dos poderosos. Envie seu Espírito para nos animar a trabalhar, incansavelmente, até que todas as estruturas da nossa sociedade espelhem o Reino de justiça que você nos veio anunciar. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte