Como purê de batata (João 17, 11b.17-23)
9 de junho de 2016Dicas para a vida plena (Mt 10,7-15)
11 de junho de 2016— Vocês ouviram o que foi dito: “Não cometa adultério.” Mas eu lhes digo: quem olhar para uma mulher e desejar possuí-la já cometeu adultério no seu coração. Portanto, se o seu olho direito faz com que você peque, arranque-o e jogue-o fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ser atirado no inferno. Se a sua mão direita faz com que você peque, corte-a e jogue-a fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno.
— Foi dito também: “Quem mandar a sua esposa embora deverá dar a ela um documento de divórcio.” Mas eu lhes digo: todo homem que mandar a sua esposa embora, a não ser em caso de adultério, será culpado de fazer com que ela se torne adúltera, se ela casar de novo. E o homem que casar com ela também cometerá adultério.
Venha Espírito Santo! Ilumina nossos corações e nos conceda a melhor compreensão da palavra que acabamos de ler. Que pelo intermédio desta palavra possamos aumentar nosso amor e alcançar a paz.
Diante deste texto tão duro e vivendo em uma realidade tão distinta daquela, qual é a mensagem que o Senhor deseja nos oferecer?
Depois de ler muitas vezes o trecho do evangelho apresentado para hoje, chego à conclusão de que há nele dois aspectos muito importantes a serem considerados, nos quais podemos aprofundar deixando que iluminem nossos passos.
O primeiro deles, que não me parece perceptível em uma leitura pouco atenta, está relacionado à igualdade de gênero.
Muito mais que estabelecer uma norma ou conduta idealizada para a união entre um homem e uma mulher, Jesus está igualando o direito da mulher ao direito do homem.
Para uma época em que a mulher era tratada como um objeto sobre o qual o homem tinha posse, Jesus é muito claro ao dizer: “Mas eu lhes digo: quem olhar para uma mulher e desejar possuí-la já cometeu adultério no seu coração”.
Não se trata de desejar a mulher do próximo, como pode nos parecer em uma leitura muito rápida, mas se trata do desejo de transformar a mulher em posse. Nesse momento, nosso coração, que foi feito para amar, se adultera, ou seja, já não cumpre sua função. O amor nos conduz sempre para uma relação em que o outro é sujeito de si mesmo, jamais um objeto para uso de outrem.
Naquele tempo, uma mulher rejeitada pelo seu marido normalmente ficava em uma situação extremamente vulnerável e era comum acabar na prostituição. Daí Jesus complementa dizendo que o homem que mandasse a mulher embora seria responsável por ela se tornar adúltera.
Ora, o amor exige que sejamos responsáveis pelas pessoas com as quais convivemos. Não é cristão abandonar uma pessoa à sua própria sorte, principalmente quando sabemos que a possibilidade de ela se sucumbir é muito grande.
Jesus não é um moralista. Fica claro em inúmeras passagens do evangelho e, de forma especial, na passagem que ele conclama a atirar a primeira pedra na adúltera apanhada em flagrante adultério. No final da passagem, Ele simplesmente diz a ela: “Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais!” (Jo 8, 11b). Simplesmente assim, sem sermões, sem moralismos.
Jesus pretende atingir o centro do coração de cada um de nós. É lá que se constrói a paz e a felicidade, como também é lá que se constroem todos os desejos que nos levam a pecar, a perder o curso de nossa vida e nos desorientam.
Então, este é o primeiro aspecto que sobressaiu, para mim, na leitura de hoje: o homem que deseja possuir a mulher como um objeto, está com seu coração adulterado, ou seja, se perdeu e não cumpre sua finalidade básica que é amar. Lógico que o contexto desta passagem pode, e deve, ser expandido para outras relações, como pai e filho, patrão e empregado etc.
O segundo aspecto que me pareceu importante é quanto ao cuidado que devemos ter para não permitir que o desvio de rota se estabeleça em nós. A dureza das palavras utilizadas, arrancar o olho direito ou cortar a mão direita e jogá-los fora, é muito impactante. Contudo, parece-me muito conveniente. É necessário sermos deslocados do nosso lugar de conforto para alargarmos nossa compreensão.
Uma das grandes vantagens, dentre várias outras, de se manter um bom casamento por muitos anos, é poder aprender com o outro, que certamente é diferente de nós e, por isso mesmo, está sempre nos “cutucando”, fazendo-nos crescer como pessoa.
Há bastante tempo, em uma boa discussão da relação, minha esposa me disse: “ninguém é de ninguém”.
Assim como no trecho do evangelho de hoje, houve um grande impacto inicial. Como entender aquilo? O que realmente essa pequena frase diz?
Hoje, posso perceber, claramente, que aquilo que nos desvia do caminho vai entrando aos poucos em nossa vida. Normalmente, vem embalado em embrulhos muito sedutores e vai tomando espaço. Quando percebemos e, se conseguimos perceber, retirar aquilo da nossa vida pode ser tão dolorido como arrancar o olho direito ou cortar a mão.
No caso do meu exemplo, se perceber machista e percorrer o caminho de volta, para deixar de ser, ou, pelo menos, abrandar algumas características, foi uma dessas experiências doloridas, porém libertadora.
Para minha felicidade, continuo casado com a mesma pessoa até hoje, porém, poderia ser diferente se eu não tivesse resolvido arrancar meus antigos olhos para buscar um outro olhar.
Rezando com a leitura de hoje, lembrei-me dessa experiência vivida e pude perceber como, no menor descuido, as coisas que nos desviam do caminho vão entrando em nossa vida. Um carro bonito que nos seduz a “ajuntar um pouco mais”, aquela viagem fenomenal que um amigo diz ser imperdível, que nos faz sacrificar mais algumas coisas para poder fazê-la, ou, pior ainda, quando “passamos por cima” dos outros para alcançarmos objetivos pessoais.
Pode ser que achemos o evangelho muito radical, mas se não formos assim radicais, em muitos aspectos, não conseguiremos nos manter no bom caminho.
Senhor, queremos seguí-lo! Temos muitas dificuldades, muitas limitações e muito apego aos nossos velhos costumes e crenças. É muito difícil conseguirmos nos mutilar de nossos velhos corpos e nos fazermos pessoas novas. Contamos com a sua ajuda, pois, sem você, nada podemos. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte