Das migalhas à expansão (Marcos 7,24-30)
9 de fevereiro de 2017Solidariedade (Marcos 8,1-10)
11 de fevereiro de 2017Jesus saiu da região que fica perto da cidade de Tiro, passou por Sidom e pela região das Dez Cidades e chegou ao lago da Galileia. Algumas pessoas trouxeram um homem que era surdo e quase não podia falar e pediram a Jesus que pusesse a mão sobre ele. Jesus o tirou do meio da multidão e pôs os dedos nos ouvidos dele. Em seguida cuspiu e colocou um pouco da saliva na língua do homem. Depois olhou para o céu, deu um suspiro profundo e disse ao homem:
— “Efatá!” (Isto quer dizer: “Abra-se!”)
E naquele momento os ouvidos do homem se abriram, a sua língua se soltou, e ele começou a falar sem dificuldade. Jesus ordenou a todos que não contassem para ninguém o que tinha acontecido; porém, quanto mais ele ordenava, mais eles falavam do que havia acontecido. E todas as pessoas que o ouviam ficavam muito admiradas e diziam:
— Tudo o que faz ele faz bem; ele até mesmo faz com que os surdos ouçam e os mudos falem!
Bom dia Trindade Santa, Pai, Jesus Cristo e Espírito Santo! Bom dia mãezinha querida! Neste pequeno momento de oração, desejo estar aberto e atento, para ouvir o que necessito e receber os dons que me sustentarão na vivência da fé. Vinde, Espírito Santo!
“Jesus o tirou do meio da multidão”.
Quando conheci o Verbum Dei, uma das coisas que mais me encantaram foi fazer os exercícios espirituais. Já havia participado de vários retiros, porém jamais havia feito exercícios espirituais. Passar alguns dias em silêncio, afastado de tudo para estar inteiramente na presença de Deus, criar as condições adequadas para escutar a Deus, passar a compreender, de forma mais profunda, a oração com a Palavra, perceber que ali é o próprio Jesus dialogando comigo a respeito do que estou vivendo, a partir das minhas experiências, reconhecer que a Palavra é viva e somente necessita de um simples “sim”, para se atualizar e se encarnar novamente, são experiências tão significativas, que nunca mais deixei de fazer, pelo menos uma vez ao ano.
Hoje, tudo isso me veio à mente e aqueceu meu coração, pois Jesus tira aquele homem do meio da multidão, para tocá-lo e curar sua surdez, para se fazer íntimo ao ponto de colocar um pouco de sua saliva na língua dele e liberá-la da prisão.
Em nossa vida, muitas vezes ficamos no meio de multidões que têm o poder de retirar nossos sentidos próprios. Acabamos, se não houver cuidado, por apenas repetir o que a multidão diz e apenas escutar o que a multidão aceita. Tornamo-nos surdos e mudos funcionais. Ouvimos os sons, mas não entendemos seus significados, produzimos palavras, mas não dizemos nada de nós mesmos.
Eu gosto de futebol e gosto de ir ao estádio torcer pelo meu time do coração. Certa vez, eu ri muito, pois estávamos disputando as semifinais e o meu time perdeu. Saindo do campo, os torcedores começaram a xingar todo mundo. Jogadores que, até a última partida, eram aplaudidos, agora eram execrados. Os dirigentes, que foram elogiados no início por causa de boas contratações, agora não valiam nada. Bem, a certa altura eu ouvi um torcedor dizendo que não voltaria mais ao campo, que já estava cansado etc. Achei muita graça, pois sabia que ele esqueceria daquilo com o tempo e voltaria ao estádio. E, eu disse para ele: a gente tá chateado agora, mas no ano que vem estaremos todos aqui de novo.
Parece uma bobeira, mas, neste exemplo tão simples, podemos perceber o perigo de nos perdermos no meio da multidão. Começamos a reproduzir o que a multidão faz, passamos a ser iguais a todos, não distinguimos nossa individualidade. Um começa a xingar aqui, outro ali. Depois de um tempo, são vários xingando e reclamando, repetindo coisas que, às vezes, não sabem nem explicar, não foram refletidas e não representam o que realmente pensam.
A primeira leitura de hoje, que traz o relato da queda (Gn 3,1-8), diz que Adão e Eva, após comerem o fruto proibido e perceberem que estavam nus, “ouviram a voz do Senhor Deus, que estava passeando pelo jardim. Então se esconderam dele, no meio das árvores”.
Às vezes, perdemo-nos no meio da multidão, por não exercer consciência crítica dos acontecimentos. Outras vezes, utilizamos a multidão para nos escondermos de Deus, pois, colocar-se nu diante dele, é um ato que necessita de coragem. Expor o que realmente somos pode nos doer muito, então, preferimos nos esconder com argumentos pouco válidos: “isto é normal, todo mundo faz” ou “não tem problema, não é pecado…” ou ainda, “nossa, eu trabalho tanto, me esforço tanto, eu mereço…”
Uma tarefa para hoje é reconhecer as multidões que têm nos deixado surdos e travado nossa língua. Ter a coragem de nos afastar um pouco delas, de nos despir das aparências e, na presença de Jesus, deixar que ele nos toque.
“Depois olhou para o céu, deu um suspiro profundo e disse ao homem: ‘Efatá!’ (Isto quer dizer: ‘Abra-se!’)”.
Que sentimentos estavam contidos no “suspiro profundo” dado por Jesus?
Quantas vezes Jesus deu um suspiro profundo diante de nossos pedidos?
Quantas vezes o Senhor nos disse: “abra-se!”?
Senhor, nestes momentos de oração, sinto, várias vezes, a dificuldade de abrir-me para as coisas do alto. Estou ligado a muitas necessidades físicas e emocionais, que me roubam a coragem de aventurar mais no desapego, na partilha e no amor. Como ouvir, se o medo me faz mais fechado em mim? Como falar, se não ouço e não vivo as boas novas que o Senhor me oferece? Minha sorte é a Sua infinita paciência, que me aceita aqui todos os dias, para ir, pouco a pouco, alargando minha audição e destravando minha língua.
Certa vez, Jesus disse: “Por isso eu digo: peçam e vocês receberão; procurem e vocês acharão; batam, e a porta será aberta para vocês” (Lc 11, 9).
Temos que insistir. A porta de nosso coração, às vezes, somente se abre com muita oração. Todos os dias, colocamo-nos diante do Senhor e ele força um pouquinho mais. Pouco a pouco, vamos nos abrindo e permitindo que a graça de Deus nos preencha.
“Tudo o que faz ele faz bem”.
Na era do “tempo é dinheiro”, soa um pouco estranho a ênfase no “fazer bem”. Fala-se muito em qualidade, porém, cada vez mais, assistimos, por exemplo, às indústrias automobilísticas fazendo recall. A qualidade é desejável, é vendida pelo marketing, mas os prazos precisam ser cumpridos, o produto precisa ser entregue na data, mesmo que “alguma coisa” não esteja completamente “bem feita”.
Jesus, ao contrário, não fará, se não for “bem feito”. Penso que isso pode servir para nos acalmar e nos ajudar a perceber melhor a ação de Deus em nossas vidas. Não seremos atendidos em nada do que pedirmos, se o que pedimos não fizer um bem para nós, pois “tudo o que faz ele faz bem”. Pensemos nisso!
Mãezinha querida, acompanhe-nos no dia de hoje e nos ensine a abrirmo-nos para receber a ação de seu Filho Jesus. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte