“Vocês vão me procurar”
20 de março de 2018“Jesus e Abraão”
22 de março de 2018Evangelho: João 8, 31-42
“Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: ‘Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’.
Responderam eles: ‘Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres?’
Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai’.
Eles responderam então: ‘O nosso pai é Abraão’.
Disse-lhes Jesus: ‘Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! Mas agora vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. Vós fazeis as obras do vosso pai’.
Disseram-lhe, então: ‘Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus’.
Respondeu-lhes Jesus: ‘Se Deus fosse vosso Pai, vós certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou’.”
Reflexão:
Na oração de hoje, peçamos ao Espírito a graça da abertura à sua condução, mesmo quando ela aconteça por caminhos absolutamente novos e desconcertantes para nós, fora do que poderíamos imaginar ou traçar.
No Evangelho de João, o embate dos judeus com Jesus aumenta cada vez mais, levando à sua morte. Nesse trecho acima, já está acirrado, por isso é colocado neste final da Quaresma, quando vamos nos aproximando da grande festa da nossa fé, na qual celebramos a morte e ressurreição de Cristo.
Curioso é que o conflito aqui é com os “judeus que nele tinham acreditado”. Cada um pode se colocar aqui, pois quantas vezes é no interior da Igreja, dentro da própria prática da fé que vivenciamos conflitos – entre os esquemas religiosos tradicionais que recebemos e repetimos, misturando Tradição e tradições, e o sopro de novidade e abertura; entre o “sagrado” e o “profano”; entre a letra e o Espírito. Não é fácil discernir, entre coisas aparentemente boas, qual a que leva a mais vida, para onde o Espírito do Senhor conduz.
Como critério, o Senhor nos convida a permanecer em Sua Palavra. Refere-se mais ao “dizer” que ao “dito”, mais à busca do seu chamado através do texto, do movimento vivo suscitado por ele do que a interpretações literais que cristalizam e enrijecem o que é para ser vivo e gerar vida. Por isso, a oração é experiência de encontro com o próprio Cristo que nos fala e interpela, levando-nos a conhecer a verdade que liberta.
Os discípulos aqui do texto não se viram necessitados de libertação. “Nunca fomos escravos.” Não conseguiram chegar ao profundo de si mesmos e perceber suas amarras. E eu? Sou capaz de reconhecer hoje, diante do Filho, o que me trava, amarra, alimenta carências, impede de amar, enfim, de que sou escrava? O que acaba se tornando senhor da minha vida, do meu tempo, dos meus sentimentos e pensamentos?
Ontem assisti a um vídeo da Jout Jout em que ela comentava como os feeds das redes sociais são intermináveis e, à medida em que nosso dedinho movimenta-se de baixo para cima, passando-os sem parar e insaciavelmente por dez, vinte, trinta minutos, não vemos a vida escorrendo entre os nossos dedos. Como é real! E acaba sendo uma das coisas que nos dominam ultimamente sem nos darmos conta. E quantas outras nos levam a viver escravos de aparências, cada vez mais longe da verdade que liberta!
O Evangelho nos provoca a tomar posição: ter com Jesus o mesmo diálogo desses discípulos judeus, que não conseguiram entrar, não se abriram, sequer compreenderam do que Ele estava falando, ao que se referia; ou, com humildade, deixar que a Sua Palavra penetre no fundo de nós e ilumine onde quer atuar, o que quer transformar, o que ainda não vi ou reconheci, mas Ele quer me mostrar.
Que Maria, tão acolhedora do Verbo que desinstala, vira do avesso, mas gerando vida, nos ajude a receber como ela o Seu Filho, Palavra de Deus.
Tania Pulier, esteticista da alma, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei