A vida de fé e os bens materiais
19 de outubro de 2015Nós, Igreja: que empregado temos sido?
21 de outubro de 2015Leitura: Lucas 12, 35-38
E Jesus disse ainda: — Fiquem preparados para tudo: estejam com a roupa bem presa com o cinto e conservem as lamparinas acesas. Sejam como os empregados que esperam pelo patrão, que vai voltar da festa de casamento. Logo que ele bate na porta, os empregados vão abrir. Felizes aqueles empregados que o patrão encontra acordados e preparados! Eu afirmo a vocês que isto é verdade: o próprio patrão se preparará para servi-los, mandará que se sentem à mesa e ele mesmo os servirá. Eles serão felizes se o patrão os encontrar alertas, mesmo que chegue à meia-noite ou até mais tarde.
Oração:
A imagem que Jesus traz para a apreciação de seus discípulos – os empregados atentos ou displicentes em relação à chegada do patrão – é muitas vezes utilizada para que reflitamos sobre a incerteza do tempo em que teremos com o Pai nosso encontro definitivo. A fé nos diz que, depois de encontros e desencontros, altos e baixos, fé e descrença, ânimo e desesperança, contemplaremos a Verdade da qual ouvimos falar e que nessa vida vemos apenas de relance. “Fiquem preparados para tudo” é um alerta que nos soa, às vezes, aterrorizador. “Felizes aqueles empregados que o patrão encontra acordados e preparados” é uma constatação que pode nos encher de medo, pois percebemos que muitas vezes não somos conscientes da presença de Deus.
A palavra de Jesus é, contudo, de alegria e esperança. Vejamos a cena mais bonita: o patrão chega à casa e, contrariamente ao que sempre se viu e sempre se verá no mundo, ele não dá ordens para que o sirvam. O patrão diz aos empregados que se sentem e põe-se ele próprio a servi-los. O patrão da parábola de Jesus não é um patrão, pois Jesus se refere ao Pai. O patrão da parábola não é patrão de verdade, pois Jesus mesmo afirma, noutro momento, que seus discípulos não são servos, mas amigos.
Da mesma forma, pensemos nos empregados. Onde se exige que os empregados estejam acordados o tempo todo, especialmente quando não sabem a hora de retorno do patrão? Estariam acordados o tempo todo para quê? Não seria mais conveniente estarem descansados para desempenharem bem os serviços do patrão? Os empregados da parábola de Jesus também não são exatamente empregados.
Pensemos numa parábola assim: sejam ansiosos e empolgados como os jovens filhos de um pai que saiu para viajar e não disse exatamente quando voltaria. Quando o pai bater à porta, os filhos que estiverem acordados se alegrarão primeiro e receberão primeiro os presentes que o pai lhes trouxe da jornada; ouvirão, em primeira mão, os casos da viagem.
A alegoria de Jesus nos fala disso. Fala-nos das visitas do Pai à nossa vida, ao nosso cotidiano. Se o Pai nos vem e estamos dormindo, simplesmente continuamos o sono. Acordamos descansados, mas perdemos a alegria do encontro imediato. Ao contrário, se estamos atentos aos sinais da aproximação de Deus, então nos levantamos ao mínimo ruído, podemos abrir-Lhe as portas e ouvir, de sua boca, as novidades que Ele nos traz do caminho d´Ele para o nosso caminho.
Essa é a vida de oração com a Palavra à qual Jesus nos convida no evangelho de hoje. Se quisermos dormir, se quisermos o conforto do sono na noite escura, o amor de Deus nos envolve da mesma forma, mas não falamos com Ele, e Ele não tem a chance de nos falar. Talvez entre no nosso quarto e nos beije a testa. Sairá de lá e d´Ele só ouviremos por meio de intermediários. Ao contrário, se à noite nos dispusermos ao cansaço da vigília; se aguçarmos nossos ouvidos, enfrentando o desconforto de ter de distinguir os passos do Pai dos passos de simples animais que caminham fora da casa, então sim teremos o prazer de saber quando Ele de fato chegar. Nós Lhe abriremos as portas e Ele nos dirá: “sente-se aí, vou preparar um café e contar do que vi. Sempre me lembrei de você pelo caminho…”
Será assim em vários momentos da vida e definitivamente ao final dessa jornada. Será assim se nós nos dispusermos à vigília que fazem os filhos que aguardam ansiosos pela chegada de um pai…
João Gustavo H. M. Fonseca – Família Verbum Dei de Belo Horizonte