29º Domingo do Tempo Comum – Ano B
17 de outubro de 2015A visita do Pai
20 de outubro de 2015Leitura: Lucas 12, 13-21
Um homem que estava no meio da multidão disse a Jesus: — Mestre, mande o meu irmão repartir comigo a herança que o nosso pai nos deixou. Jesus disse: — Homem, quem me deu o direito de julgar ou de repartir propriedades entre vocês? E continuou, dizendo a todos: — Prestem atenção! Tenham cuidado com todo tipo de avareza porque a verdadeira vida de uma pessoa não depende das coisas que ela tem, mesmo que sejam muitas. Então Jesus contou a seguinte parábola: — As terras de um homem rico deram uma grande colheita. Então ele começou a pensar: “Eu não tenho lugar para guardar toda esta colheita. O que é que vou fazer? Ah! Já sei! — disse para si mesmo. — Vou derrubar os meus depósitos de cereais e construir outros maiores ainda. Neles guardarei todas as minhas colheitas junto com tudo o que tenho. Então direi a mim mesmo: ‘Homem feliz! Você tem tudo de bom que precisa para muitos anos. Agora descanse, coma, beba e alegre-se.’” Mas Deus lhe disse: “Seu tolo! Esta noite você vai morrer; aí quem ficará com tudo o que você guardou?” Jesus concluiu: — Isso é o que acontece com aqueles que juntam riquezas para si mesmos, mas para Deus não são ricos.
Oração:
No evangelho de hoje, Jesus nos convida a pensar em nossa relação com os bens materiais, não sem antes dizer Ele próprio o que Ele pensava sobre a expectativa do homem que Lhe pedia que ajudasse na divisão da herança deixada por seu pai.
“Quem me deu o direito de julgar ou de repartir propriedades entre vocês?” A resposta de Jesus nos lembra que a Igreja – comunidade de fé – não pode deixar que seu papel se reduza à de um justiceiro social. O aparente desdém de Jesus com a questão do homem que se sentia injustiçado tem objetivo certo: deseja nos falar que não se vive a fé para gerir os bens materiais; que a intimidade com Deus não tem como fim último a diminuição das desigualdades; finalmente, que não devemos nos dirigir a Deus para que Ele solucione nossos conflitos e dificuldades advindas da propriedade e da posse. Quem sustenta esse tipo de teologia não tem outra saída senão a decepção que viveu o homem que se dirigiu a Jesus, que provavelmente continuou com seu problema em relação à herança e não chegou a ter uma relação de amizade com Jesus.
Se o evangelho parasse por aí, teríamos outro problema: poderíamos dizer que a fé não toca o chão; ou que a fé nada tem a ver com a vida desse mundo; ou até que a fé respalda as desigualdades e injustiças geradas pela gestão egoísta dos recursos do planeta.
Porém, Jesus responde com a parábola do homem que, podendo ajuntar muito mais do que já possuía, resolveu ampliar seus depósitos e, todo feliz, pensava que poderia descansar, beber e alegrar-se, sem saber que, na verdade, ainda naquela noite cessaria sua vida.
Deixemos que a beleza da parábola ressoe em nossa mente e coração. Os depósitos de cereais do homem da parábola lembram-me das várias garantias que tentamos obter: seguro de vida, seguro-saúde, seguro-desemprego, previdência privada… temos vários direitos ou preocupações que visam a nos dar segurança. São todos instrumentos necessários para uma vida mais confortável e menos incerta, mas a parábola vem dizer-me: não garante. A oração com a Palavra lembra-me dos meus planos, cuja concretização eu às vezes trato como se fosse questão de tempo: formar-me, casar-me, ter filhos, viajar, estudar, ter um emprego… Mais uma vez a Palavra me diz: quem garante?
Jesus conta que o triste fim do homem da parábola é também o fim de todos quantos juntam tesouros para si e não os têm segundo o critério do Pai. Fico pensando, então, que algo bem diferente é o que ocorre com aqueles cujo tesouro está na construção do Reino. Eles não têm a vida extraordinariamente prolongada, mas nunca terão a decepção de morrer na angústia de terem trabalhado, acumulado e não gozado. E aí está a resposta de Jesus que realmente responde ao homem que Lhe pedira que ajudasse na divisão da herança. O papel precípuo da Igreja não é dividir os bens. A essência da comunidade de fé deve ser apontar o que é essencial à vida do homem. A essência é a amizade com Deus, e essa relação se torna impossível quando o homem ou a mulher se preocupa demais apenas em ter, acumular e gerir as aquisições para si ou seu núcleo familiar. Ao contrário, se alguém se dispõe a essa amizade, trilhará caminhos em que não será necessário perder tempo – e vida – cuidando de tantas coisas, ou seguirá por caminhos em que esse cuidado será sempre com o objetivo de que todos tenham acesso aos bens. Na sobriedade e na partilha somos todos convidados a contemplar e a amar quem o Pai mais ama: nós mesmos, homens e mulheres.
João Gustavo H. M. Fonseca – Família Verbum Dei de Belo Horizonte