“Então Jesus disse para os que creram nele:

— Se vocês continuarem a obedecer aos meus ensinamentos, serão, de fato, meus discípulos e conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.

Eles responderam:

— Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como é que você diz que ficaremos livres?

Jesus disse a eles:

— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem peca é escravo do pecado. O escravo não fica sempre com a família, mas o filho sempre faz parte da família. Se o Filho os libertar, vocês serão, de fato, livres. Eu sei que vocês são descendentes de Abraão; porém estão tentando me matar porque não aceitam os meus ensinamentos. Eu falo das coisas que o meu Pai me mostrou, mas vocês fazem o que aprenderam com o pai de vocês.

— O nosso pai é Abraão! — responderam eles.

Então Jesus disse:

— Se vocês fossem, de fato, filhos de Abraão, fariam o que ele fez. Mas eu lhes tenho dito a verdade que ouvi de Deus, e assim mesmo vocês estão tentando me matar. Abraão nunca fez uma coisa assim! Vocês estão fazendo o que o pai de vocês fez.

Eles responderam:

— Nós não somos filhos ilegítimos; nós temos um Pai, que é Deus!

Jesus disse a eles:

— Se Deus fosse, de fato, o Pai de vocês, então vocês me amariam, pois eu vim de Deus e agora estou aqui. Eu não vim por minha própria conta, mas foi Deus que me enviou.”

Nesta semana, o capítulo 8 do Evangelho de São João apresenta um acirramento cada vez maior do conflito contra Jesus. O estranho aqui é que o diálogo de Jesus é com os que creram nele. Estranho, mas tão real! Pois quantas vezes nós, que abraçamos a fé e o caminho de seguimento, colocamos resistências às palavras de Jesus e o que Ele nos propõe! Peçamos em nossa oração que Ele nos ajude a entrar num diálogo profundo com Ele, no qual coloquemos as resistências que experimentamos para fazer caminho de liberdade e busca da verdade.

“Então Jesus disse para os que creram nele: ‘Se vocês continuarem a obedecer aos meus ensinamentos, serão, de fato, meus discípulos e conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.’” A obediência não é submissão. A raiz da palavra, ob-audire, nos fala de uma escuta. É não ser surdos aos ensinamentos de Jesus, que vêm do Pai, mas entregar-nos numa escuta filial, aquela que se abre à acolhida. O conhecer bíblico é conhecer por dentro, intimamente, penetrar. Quem escuta e acolhe assim os ensinamentos de Jesus é introduzido na verdade que liberta.

Aqui começa a resistência dos discípulos, que se dizem livres. Nós também muitas vezes nos julgamos livres, afirmamos nossa liberdade por cima de tudo. Confundimos liberdade com fazer o que se quer e constantemente, de fato, fazemos o que nos dá na telha.

Mas Jesus ensina algo mais profundo sobre liberdade ou falta de. “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem peca é escravo do pecado.” Como quem tem um vício se acha muito livre – “para quando quiser” – e efetivamente não é bem assim, também percebemos nossas escravidões e dependências apenas quando tentamos dar passos fora delas – não agir com agressividade; pensar no outro primeiro etc. Ao nos colocar para dar o passo é que experimentamos na própria pele as dificuldades e amarras e podemos nos dar conta do quão presos estamos nos nossos vícios.

Mas o Filho nos liberta, a relação com Ele dá forças para o passo a passo. “Se o Filho os libertar, vocês serão, de fato, livres.”

Vamos pedir a Jesus o dom da verdade e da liberdade, da verdade que liberta. E que Seu Espírito quebre nossas resistências para que não o queiramos matar dentro de nós.

Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner.