Que recompensa tereis? (Lc 6, 27-38)
13 de setembro de 2018A relação entre Israel e a comunidade de Jesus (JO 19,25-27)
15 de setembro de 2018Ninguém subiu ao céu, a não ser o Filho do Homem, que desceu do céu.
— Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.
Hoje a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz.
Na passagem do evangelho de hoje, Jesus nos propõe uma comparação entre sua crucifixão e o episódio das cobras venenosas que não podiam matar os que elas mordessem, desde que eles olhassem para a serpente de bronze colocada sobre uma haste, conforme Deus orientou Moisés a fazer (veja primeira leitura de hoje em Nm 21, 4b-9). E o evangelho termina com uma afirmação fundamental para nosso aprofundamento na fé e na oração: “Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo”. Também, no deserto, o povo de Deus não foi julgado. Todos aqueles mordidos por cobras venenosas, que olhavam para a serpente de bronze colocada sobre a haste, não morriam. Não havia julgamento, nem interrogatório. Somente a graça da vida.
Diante dessas cenas e dessas palavras, coloquemos-nos de forma muito simples diante do Senhor e deixemos que ele nos fale hoje. O que devemos aprender? Por que há uma cruz?
Dois versículos, de outras passagens do evangelho, podem nos ajudar no aprofundamento de nossa oração.
O primeiro deles diz assim: “Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe” (Mc 8,34), ou, na tradução utilizada nas missas: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.
O segundo versículo diz assim: “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso” (Mt 11,28).
Jesus faz uma proposta muito clara para todos nós. Não há julgamento, porém não é possível retirar a cruz do nosso caminho. Por que, então, Jesus insiste em falar da cruz? Ele vem para nos dar uma vida plena, e a plenitude da vida traz em si todas as alegrias e todas as dores que o caminhar em comunidade nos oferece. O mundo do consumo, em contrapartida, quer nos vender a ilusão de uma vida somente de prazeres, de festas, de curtição.
Quando nos sentimos vazios, quando sofremos por não nos sentirmos acolhidos, amados e queridos, o que o mundo do consumo nos oferece? Oferece-nos mais da mesma coisa de sempre, como se consumir mais e mais pudesse satisfazer nossos desejos mais profundos. Como se o vazio que sentimos pudesse ser preenchido por coisas que adquirimos. Pura ilusão! Nenhum objeto, nenhum show, diploma, festa, viagem, ou seja lá o que for que adquiramos poderá preencher o vazio que sentimos sob o peso das cruzes que temos de carregar sozinhos.
Hoje, Jesus se oferece no seu despojamento sobre o madeiro, quando sozinho, abandonado e castigado por só ter feito o bem nos convida a estarmos com Ele nos momentos em que também nos sentimos sozinhos, abandonados e injustiçados. Ele nos convida a não sermos escravos das ilusões que o mundo do consumo nos oferece. Ele nos convida a aceitar nossa cruz com dignidade, a carregá-la sem preconceitos e sem medo. Ele próprio irá suavizar o peso de nossas dificuldades e nos dar descanso, ensinando-nos a ser misericordiosos para com nós mesmos e para com os outros, perdoando a quem nos fere e nos humilha, tornando nossa travessia mais leve e suave.
Há, pelo menos, duas situações distintas em que costumamos sentir um imenso vazio. Quando nos frustramos com coisas, físicas, intelectuais ou espirituais, que queremos e não conseguimos conquistar ou quando, simplesmente, nos aquietamos e nos silenciamos para a oração. Na verdade, apesar de serem situações bem distintas, o vazio é o mesmo. Este imenso vazio, um verdadeiro universo existente em nós, é o espaço de encontro com Deus. Pela minha experiência e observação, quem se acostuma a orar e se encontrar com Deus neste espaço, enfrenta com muito mais tranquilidade as adversidades da vida, pois pode reconhecer a presença de Deus, que está lá para suavizar o jugo de nossa cruz.
Obrigado, Senhor! Em você nós podemos encontrar tudo de que precisamos. Em você, podemos descansar quando estamos cansados de carregar os fardos que vamos acumulando no dia a dia. O Senhor não questiona por que quisemos ajuntar tanto, por que quisemos ser melhores que os outros, ter mais conhecimento, mais poder, mais status, mais riqueza. Simplesmente nos convida a carregar nossa cruz.
Obrigado, Senhor, por nos ensinar, com sua própria vida, que o despojamento na cruz, quando deixamos para trás tudo que ajuntamos no caminho: nossas vaidades, nossos desejos mesquinhos, nossa mania de grandeza, é a possibilidade de trocarmos todos os nossos teres por um simples ser com você, estar na sua intimidade e participar da sua paz.
Obrigado, Senhor, por fazer este caminho conosco, por nos sustentar em nosso encontro com a cruz. Ajude-nos a tomá-la o quanto antes. Queremos segui-lo, estar com você na cruz que nos salva, que retira de nós os pesados fardos de nossos pecados, de nossas faltas.
Que a Santa Cruz seja sempre um sinal da alegria de sabermos que Deus nos espera. Despojados de nossas riquezas e poder, Ele nos acolherá e renovará nossa vida. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte