Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? (Jo 14, 6-14)
3 de maio de 2014O pão que dá vida ao mundo (Jo 6,30-35)
6 de maio de 2014No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos.
Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum.
Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.
Jesus havia saciado cinco mil homens com apenas cinco pães de cevada e dois peixinhos, porém, ao perceber que queriam fazer dele rei, refugiou-se, sozinho, na montanha e, depois, caminhou sobre o mar para ir ao encontro de seus discípulos, que partiram sozinhos no único barco disponível.
Neste contexto é que se encontra o trecho do evangelho de hoje.
Logo se percebe que a multidão está interessada em Jesus e, apesar de não o ter visto partir, pressupõe que Ele atravessou o mar, como fizeram seus discípulos, e parte para encontrá-lo.
Quais são as razões pelas quais a multidão está em busca de Jesus? Esta pergunta deverá nos nortear na oração de hoje: por que buscamos a Jesus?
O próprio Jesus quer nos ajudar a discernir. Nós o buscamos por questões terrenas ou por causa daquilo que transcende a nossa vida? Nós queremos resolver nossos problemas imediatos ou pretendemos participar da construção do reino de Deus?
Que tipo de crença nutrimos por Jesus? Nós o constituímos rei? Que tipo de rei? O seu reino não é deste mundo (cf. Jo 18,36), portanto, precisamos entender que tipo de reinado Jesus terá em nossa vida.
A multidão viu em Jesus a possibilidade de resolver seus problemas imediatos – já que Ele podia multiplicar pães, também poderia multiplicar outras coisas e, assim, estariam resolvidas as questões básicas de todos. Seria somente instituí-lo rei e todos poderiam viver com fartura. Os problemas do povo estariam resolvidos. Será?
Jesus critica a postura da multidão: “estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”.
Ora, se a multidão foi atrás de Jesus, ela percebeu um sinal, mas parece que se equivocou no sinal percebido.
Jesus sabe de nossas necessidades terrenas e, sem dúvida, se compadece delas, pois demonstrou isso inúmeras vezes, inclusive na própria multiplicação dos pães que Ele acabara de fazer, contudo Ele quer que avancemos mais. Ele sabe que somente essas coisas não nos satisfazem completamente. Ele sabe que possuímos outras fomes e são essas fomes, principalmente, que Ele nos propõe satisfazer.
No diálogo com Jesus, a multidão quer saber, então, o que fazer para conseguir o alimento que permanece até a vida eterna.
Quantas vezes já nos perguntamos: o que devo “fazer” para conseguir a vida eterna?
Jesus apresenta a fé nele próprio, como sendo a obra de Deus. O que importa não é tanto o que podemos fazer, mas aceitar a obra de Deus. Crer em Jesus, o Cristo, enviado do Pai, é, ao mesmo tempo, um dom de Deus, como também é o que podemos “fazer” para conseguirmos o alimento que permanece até a vida eterna.
Que tipo de crença é esta que necessita esforço, como na tradução do texto acima: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde…”, ou que necessita trabalho, como em outra tradução, que diz: “Trabalhai, não pelo alimento que se perde…”?
Não pode ser uma crença meramente intelectual. Há de ser uma crença que ocupe nossa mente, mas, principalmente, nosso coração. Tudo o que fizermos há de ser feito porque, sendo Ele o enviado de Deus, precisamos fazer como Ele nos ensinou. Ele é o modelo ao qual devemos nos conformar, até que possamos dizer como São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20).
Na minha oração, ajudava-me perceber que tudo isso não será minha obra, antes, porém, será possível como obra de Deus que se faz em mim.
Assim, creio, deve ser como vamos em busca de Jesus. Menos para que nos conceda benefícios imediatos e terrenos e mais para que Ele possa nos dar a si próprio como alimento. Um alimento que fortalece a presença do Espírito Santo, que já recebemos no batismo, mas que necessita ser alimentado para fazer crescer, em nós, o dom da fé.
Jesus, deixe que nos aproximemos de você e recebamos esse dom. Ajude-nos a cultivá-lo. Ajude-nos a discernir o que é agradável a Deus e nos fortaleça, de tal modo, que possamos sempre seguir o seu caminho. Amém!
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG