Maria, mãe de Deus e nossa mãe
15 de setembro de 2021Jesus e os discípulos(as)
17 de setembro de 2021QUINTA-FEIRA 16/09/2021
Lc 7, 36-50 – A MULHER PECADORA
- Leitura: O que o texto diz?
Um fariseu convida Jesus para comer com ele. Jesus não recusa o convite de um fariseu. Para João isso seria impossível. O fariseu no quarto evangelho é símbolo da oposição a Jesus. Em Lucas Jesus não faz discriminação de ninguém. Sentar-se a mesa é um ato de proximidade. Temos na cena um fariseu (digno de ser imitado) e, do outro lado, uma mulher pecadora. Jesus está entre dois polos: fariseu e pecadora. A mulher se coloca aos pés de Jesus e banha seus pés com as lágrimas.
- Meditação: O que o texto me diz?
A mulher se derrama sobre Jesus com tudo o que ela é e tem. As lágrimas representam a dor; os beijos o amor; o perfume a alma. As lágrimas, segundo os antigos, somente correm no rosto quando os olhos estão feridos. Isto ocorre no amor ou na dor. As lágrimas da tristeza nos oprimem, pois surgem de algo que nos machucou. As lágrimas da emoção nos libertam. Quase sempre as lágrimas são só nossas. Poucos choram na frente dos outros. É algo muito íntimo. Nunca choramos no lugar dos outros. Entre sorriso e lágrimas há uma grande distinção. O nosso sorriso é para os outros. Vemos que a mulher pecadora está numa dor muito profunda. As suas lágrimas banhavam os pés de Jesus. Não sabemos, em um primeiro momento, se são lágrimas de dor ou de amor. Ela enxuga as lágrimas com os cabelos e não com um manto ou véu. Ela está colocando-se inteiramente aos pés daquele homem. O cabelo representa a intimidade e o desejo de manter para si a sua dor, e não partilhar a sua dor publicamente, que é algo muito seu. A mulher cobre de beijos os pés de Jesus. Ela está beijando os pés de Jesus. Ela não sai dos pés de Jesus. O beijo no pé simboliza o arrependimento. E o beijo na boca simboliza a intimidade profunda. A mulher dá a Jesus o seu afeto. O beijo é o desejo de tocá-lo e receber dele o canal do seu perdão. Ela termina ungindo os pés de Jesus. O perfume é símbolo da alma. O perfume traz em si o espírito, que é o aroma. O perfume é símbolo do interior.o perfume é ela mesma. O odor é aquilo de mais interno que temos daquilo que sentimos
- Oração: O que o texto me faz dizer?
A mulher se lança inteira aos pés de Jesus e fica somente nos pés. O mais estranho é que os pés no AT são eufemismo do órgão sexual, mas não é o caso desta passagem. Se partimos desta perspectiva, significa que o pé tem alguma relação com a parte mais íntima da pessoa. Por ser uma parte íntima o pé pode ser símbolo da união de Jesus com a mulher. No final do texto o evangelista diz que a mulher muito amou a Jesus. O fariseu julga a atitude de Jesus. Cada um só consegue ver a realidade a partir de sua própria perspectiva. O fariseu é alguém muito preocupado com a sua própria imagem. Jesus diz que tem algo para falar. E o fariseu hipocritamente diz: “Fala, mestre”. Jesus conta uma parábola. O que deve muito é a mulher e o que deve menos é o fariseu. Como não tendo como pagar perdoa a ambos. Quem demonstra mais amor a Jesus é a mulher. Simão não ama tanto a Jesus, pois julga Jesus pelas aparências e quem ama não julga pelas aparências. O fariseu não aceita Jesus como ele era. Jesus entende que o fariseu só se preocupa consigo mesmo: não lavou os pés de Jesus, não beijou Jesus e não derramou perfume em Jesus. Jesus diz a mulher que os pecados delas estão perdoados e a despede, dizendo que a fé dela a salvou. Devemos alimentar nossa FÉ E CONVERTER DIARAMENTE A NOSSA VIDA, a exemplo dessa mulher na humildade e na experiência profunda com Jesus.
- Contemplação: o que o texto faz em mim?
Quando erramos muito, mas somos perdoados por alguém, a nossa capacidade de amar, perdoar e sentir misericórdia também é acrescida. Quanto mais amor se derrama sobre aquele que aparentemente não merece, este se torna mais alargado em transmitir este amor. Deus não se limita aos padrões que temos dele. Esta é uma questão muito importante. DEUS É MISERICÓRDIA. Eu sou fruto dessa misericórdia.
- Ação: o que posso fazer do texto?
A imagem de Deus que Lucas apresenta é a de um Deus misericórdia. Se a Palavra de Deus não for interpretada corretamente ela pode ser materializada por uma ideologia. Lucas mostra que o fariseu não entende nada de Deus. A mulher representa o que cada um de nós é chamado a ser. Conversão não é uma coisa momentânea. É uma conquista de cada dia, pois podemos dar as costas para Deus. A mulher é exemplo de que cada um é chamado a ser: reconhecer-se pecador na presença de Deus. Sempre nos sentiremos pecadores, na consciência de Lucas. A consciência de ser pecador é chamada desde a antiguidade cristã de compunção. Esta palavra vem do latim pungere significa perfurar. A compunção acontece quando choramos diante de Deus. As lágrimas sempre são fruto de uma dor ou de um amor. A compunção representa esta ferida causada pela dor. Como ela nós seremos sempre pecadores perdoados, nunca somente só perdoados. Se tirarmos esta compreensão a nossa casa espiritual desmorona. O texto revela duas coisas: a mulher e o fariseu são as faces dos discípulos e Jesus é a face do Pai. São Lucas gosta muito de figuras combinadas: Maria e Zacarias, Simeão e Ana, Elias e Eliseu, o rico e o pobre, a mulher e o fariseu. Nós nunca teremos um único lado, mas sempre teremos dois lados. Nem mesmo o corpo humano é idêntico nos dois lados. A mulher representa o discípulo que precisa do perdão e o fariseu o discípulo que não precisa ser justificado. Ela representa o pecador, que foi tocado no coração e entende que somente Deus pode perdoar. O fariseu é a representação da pessoa que se considera certa, que não precisa ser perdoado. Jesus representa como Deus é: misericordioso para com todos, pois não olha a face, o externo da pessoa, mas o interno. Jesus ama tanto a pecadora quanto o fariseu. O Jesus, no evangelho de Lucas, não olha as aparências, mas olha a totalidade da pessoa. O QUE POSSO FAZER? Vencer meus preconceitos e abrir-me a acolhida de Deus na pessoa do irmão.
Pe. Almerindo da Silveira Barbosa – padre da Diocese de Luz-MG, membro da Comissão Bíblico-Catequética do Regional Leste 2