Deixai vir a mim as crianças! (Mt 19, 13-15)
19 de agosto de 2017Dois lados de um mesmo amor (Mateus 13, 44-46)
23 de agosto de 2017PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Obrigado, Senhor, porque ao ler e ao estudar tua Palavra,
convida-nos a seguir-te com fidelidade.
Tua mensagem deixa marcas em nossa mente e em nosso coração.
Fortalecidos por tua luz, dispomo-nos a tornar realidade
tudo quanto teu Espírito nos faz compreender.
Agora, Senhor, estamos preparados para viver segundo tua vontade.
Que tua Santa Mãe, a Virgem Maria, também nossa Mãe,
seja nossa estrela e guia na missão de anunciar até o fim dos séculos
a Boa Nova a toda a criação. Amém.[1]
TEXTO BÍBLICO: Mt 15.21-28
A mulher estrangeira
Marcos 7.24-30
21Jesus saiu dali e foi para a região que fica perto das cidades de Tiro e de Sidom. 22Certa mulher cananeia, que morava naquela terra, chegou perto dele e gritou:
— Senhor, Filho de Davi, tenha pena de mim! A minha filha está horrivelmente dominada por um demônio!
23Mas Jesus não respondeu nada. Então os discípulos chegaram perto dele e disseram:
— Mande essa mulher embora, pois ela está vindo atrás de nós, fazendo muito barulho!
24Jesus respondeu:
— Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel.
25Então ela veio, ajoelhou-se aos pés dele e disse:
— Senhor, me ajude!
26Jesus disse:
— Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorros.
27— Sim, senhor, — respondeu a mulher — mas até mesmo os cachorrinhos comem as migalhas que caem debaixo da mesa dos seus donos.
28 — Mulher, você tem muita fé! — disse Jesus. — Que seja feito o que você quer!
E naquele momento a filha dela ficou curada.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Tiro Sidom ficam dentro ou fora de Israel? Como a mulher cananeia se aproxima e o que pede a Jesus? Que título ela dá a Jesus? Como Jesus reage diante do pedido e por que o faz? Como a mulher cananeia reage diante da recusa de Jesus? Como Jesus reforça a rejeição? Como Jesus reage à resposta final da mulher?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini
É preciso lembrar novamente que nesta seção do evangelho de Mateus Jesus se distancia ou se retira para concentrar-se na “formação” de seus discípulos. A partir desta perspectiva, pode-se entender melhor o evangelho de hoje.
De fato, depois da controvérsia que Jesus tem com os fariseus e os escribas a respeito da pureza dos alimentos, no início do evangelho de Mateus, ele retira-se para a região de Tiro e de Sidom, ou seja, para a Fenícia. Dessa região é que vem a seu encontro uma mulher cananeia. Cananeu era o termo com que se designavam os fenícios por aqueles tempos e, para os israelitas, era sinônimo de pagão, o que se contrapõe “à casa de Israel”, de Mt 15,24.
A mulher cananeia grita como muitos outros desesperados que buscam a cura junto a Jesus (cf. Mt 9,17; 14,30; 20.30-31). Pois bem, a mulher chama Jesus de “Senhor”, o que é praticamente uma oração de súplica na qual pede piedade ou misericórdia para sua filha enferma ou atormentada por um demônio. A denominação “filho de Davi” implica uma confissão de fé em Jesus como Messias, como salvador enviado por Deus ao povo de Israel. Nos Salmos, menciona-se diversas vezes esta expressão, mas aplicada aqui a Jesus, reconhecido como “Senhor” e “Filho de Davi”, é toda uma profissão de fé.
Jesus não responde a esse grito de súplica; por outro lado, os discípulos reagem intercedendo por ela, mas com uma motivação bastante egoísta, porquanto não reparam na desgraça da mulher, mas em sua atitude incômoda.
Diante dessa “intercessão” dos discípulos, Jesus responde expondo o alcance de sua missão segundo o plano de Deus: “Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel”. De fato, Deus quis cumprir sua promessa com o povo eleito, com todo o Israel e, por isso, enviou Jesus. A expressão de Jesus “Eu fui mandado” é interpretada como: “Eu fui mandado pelo Pai às ovelhas perdidas de Israel, não aos pagãos; por isso, não posso atender à petição desta mulher pagã; afastar-me-ia da missão que me foi encomendada por Deus”. É o mesmo alcance que Jesus já havia dado à missão dos Apóstolos antes da ressurreição: “Não vão aos lugares onde vivem os não judeus, nem entrem nas cidades dos samaritanos. Pelo contrário, procurem as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10,5-6).
Diante desta negativa, a mulher-mãe-cananeia dobra sua aposta: prostra-se diante de Jesus e já não pede misericórdia, mas socorro, auxílio. É o grito doloroso de uma mulher desesperada. Este grito de ajuda recebe nova resposta “teológica”: o pão da salvação é para os filhos, não para os cachorros da casa. Esta última expressão reflete o tratamento e a desconsideração habitual dos judeus em relação aos pagãos. Se não perdermos de vista o desenlace final, tal expressão não nos parecerá tão chocante, e aceitaremos que Jesus está pondo à prova a fé desta mulher.
Em seu desespero, a mulher assume a atitude de mendiga: mesmo que sejam apenas umas migalhas. O pão foi dado em abundância ao povo eleito, que o menosprezou e até rejeitou. Em contrapartida, esta mulher o reclama veementemente. De certo modo, ela dá razão a Jesus, mas se vale da comparação para insistir em seu pedido de ajuda para sua filha. E com esta atitude de fé confiante e perseverante, finda por vencer, pois “arranca” de Jesus o milagre: “E naquele momento a filha dela ficou curada”. De certo modo, tal como nas bodas de Caná, Jesus antecipou sua “hora”, o tempo fixado por Deus para agir, diante da petição da mulher. Com efeito, o mandato missionário de abertura universal – “Vão, a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores” (Mt 28,19) – será dado por Jesus depois de sua ressurreição a seus discípulos, encerrando com isto o evangelho de Mateus.
O que o Senhor me diz no texto?
Em primeiro lugar, Mateus recorda-nos que já durante a vida de Jesus, a porta da salvação é a fé, e não a pertença a uma raça. Salva-se aquele que crê que Jesus é o filho de Davi, o Senhor, e nada mais importa. Este Evangelho convida-nos a antecipar a verdade cristã de que a Salvação é para todos (Mt 28,19), mesmo que o envio a todas as nações só seja feito depois da ressurreição.
Em segundo lugar, Jesus ensina aos discípulos, mediante o exemplo da mulher pagã, o que é ter fé. Recordemos que, no domingo passado, Pedro supunha ter fé suficiente para imitar Jesus em seu prodígio de caminhar sobre um mar agitado. No entanto, adveio-lhe a dúvida, e recebeu do Senhor a repreensão: “Como é pequena a sua fé! Por que você duvidou?” (Mt 14,31). Em compensação, hoje Jesus diz a uma mulher cananeia, ou seja, a uma pagã, de uma raça de idólatras: “Mulher, você tem muita fé!”. Portanto, se quisermos um exemplo concreto do que seja uma fé grande, olhemos e admiremos essa mãe de uma filha enferma. Podemos dizer, de verdade, que não aceita nem argumentos nem negativas. Ama sua filha enferma, quer desesperadamente que se cure e viva. E acredita que Jesus pode curá-la.
O que é, pois, tem uma fé grande? É ter a atitude perseverante e batalhadora que teve essa mulher-mãe; é ter uma confiança ilimitada, demonstrada na súplica incessante. Ter fé é suportar o silêncio de Deus; ou como dizia muito bem o Cardeal Newman, á fé é a capacidade de suportar dúvidas.
Para além de nossa formação e de nossa condição de religiosos, peçamos ao Senhor que nos dê uma fé tão grande quanto a dessa mulher pagã.
Por fim, não podemos deixar de ver na cananeia, como o fazia santo Agostinho, um grande modelo de humildade e de oração. Com efeito, “uma das causas mais profundas de sofrimento, para aquele que crê, são as orações não atendidas. Temos rezado durante semanas, meses, talvez anos, por determinada coisa. No entanto, nada. Deus parece surdo. A mulher cananeia está ali, elevada para sempre ao papel de instrutora e mestra de perseverança na oração […] Deus escuta até mesmo quando… não escuta. E seu não escutar é já um socorrer. Demorando a ouvir, Deus faz com que nosso desejo cresça, que o objeto de nossa oração se engrandeça; que das coisas materiais passemos às espirituais; das coisas temporais às eternas; das pequenas coisas, passemos às grandes. Deste modo, ele pode dar-nos muito mais do que inicialmente tínhamos vindo pedir-lhe”.
A fé da cananeia pôde superar o silêncio de Deus. Isso não nos deve assustar, pois o próprio Jesus teve de passar por tal situação, assim como os santos. Deste silêncio fala com profundidade o Papa Bento XVI em Verbum Domini nº 21: “Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Onipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra encarnada. Suspenso no madeiro da cruz, o sofrimento que lhe causou tal silêncio fê-lo lamentar: ‘Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?’ (Mc 15.34; Mt 27.46). Avançando na obediência até ao último respiro, na obscuridade da morte, Jesus invocou o Pai. A ele se entregou no momento da passagem, através da morte, para a vida eterna: ‘Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito’ (L c 23.46).
“Esta experiência de Jesus é sintomática da situação do homem que, depois de ter escutado e reconhecido a Palavra de Deus, deve confrontar-se também com o seu silêncio. É uma experiência vivida por muitos santos e místicos, e que ainda hoje faz parte do caminho de muitos fiéis. O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, ele fala no mistério do seu silêncio. Portanto, na dinâmica da revelação cristã, o silêncio aparece como uma expressão importante da Palavra de Deus”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Já senti, alguma vez, que Jesus não ouve minha oração? Qual é minha reação quando ele não responde a minha oração como lhe peço? Oro com fé suficiente em que Jesus é o Salvador e que me concederá o melhor para mim? Faço oração de intercessão pelas necessidades dos outros?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Senhor Jesus, Filho de Deus e Salvador dos homens,
ilumina minha vida com tua luz e dá-me a graça de crer em ti
com uma fé alegre e prazerosa, jubilosa e entusiasta,
sejam quais forem as circunstâncias da vida nas quais me encontre.
Dá-me, Senhor, uma fé que sabia rir e cantar em meio à dor e apesar dela;
uma fé capaz de enfrentar as adversidades e os fracassos
com tranquilidade e bom-humor.
Dá-me, Senhor, uma fé que atraia; uma fé que motive;
uma fé que entusiasme outros a crer;
uma fé viva, alegre e contagiosa.
Dá-me, Senhor, uma fé ativa e criativa,
que não seja somente de palavras, de rezas e promessas,
mas também, e mui especialmente,
uma fé de obras. [2]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Senhor, minha fé está colocada inteiramente em ti“.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Oro por uma enfermidade pessoal ou de um enfermo de minha família. Falo com Deus, aceitando esta situação e pedindo a saúde e a salvação com esperança e fé, aceitando inclusive o “silêncio” de Deus…
“A fé e a esperança são as duas asas da alma:
com elas se eleva das coisas terrenas e ascende do visível ao invisível.”
Santo Antônio de Pádua