Abrindo caminho (Mt 8, 28-34)
2 de julho de 2014A leveza da misericórdia (Mt 9, 9-13)
4 de julho de 2014Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.
Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”. Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus lhe disse: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”
Lendo e relendo este trecho do evangelho, o que mais me chamou a atenção foi a necessidade de tocar nas feridas, nas chagas de Jesus. Por que, para acreditar, Tomé quer tocar nas feridas de Jesus?
É curioso, pois Tomé, a quem hoje a Igreja dedica a liturgia, tem destaque no evangelho segundo João, enquanto nos outros e nos Atos dos Apóstolos, apenas é citado na lista de apóstolos, sem destaque especial.
João o cita em outros dois momentos muito especiais.
Num deles, foi quando Jesus, declarando que Lázaro havia morrido, decide ir ao encontro dele. Tomé faz, aos outros discípulos, um convite muito interessante, ou melhor, um ultimato: “Vamos nós também para morrermos com ele” (Jo 11, 16).
No outro, foi logo após o lava pés. Jesus está anunciando tudo que vai se passar com Ele, no momento em que percebe uma certa pertubação nos discípulos. Então, começa a animá-los, dizendo que para onde Ele vai os discípulos já conhecem o caminho, porém Tomé intervém: “Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5). Ao que Jesus responde: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram” (Jo 14, 6-7).
Por essas dois momentos, percebo que Tomé está decididamente comprometido com Jesus. Na primeira ele não titubeia em seguir Jesus para a morte, que já estava se desenhando, devido ao clima tenso com as autoridades em Jerusalém. No segundo momento, ele se mostra muito atento ao que Jesus está dizendo, contudo, aparentemente, Tomé possuía um espírito investigativo. Ele está disposto a morrer pelo que acredita, mas quer provas de que acredita em alguma coisa que faça sentido.
Fico imaginando tudo que possa ter passado na cabeça de Tomé, entre o dia do lava pés e este, no qual encontrou Jesus Ressuscitado. Ora, Jesus havia afirmado que conhecê-lo era o mesmo que conhecer o Pai, que vê-lo era ver o Pai, porém Jesus morreu crucificado. Como assim? Será que o Pai também morreu crucificado?
Embora seja difícil conceber o mistério da Trindade, já temos, por tradição, o costume de saber que nosso Deus é trinitário e, embora não entendamos direito, o mistério já está encarnado e o tratamos com naturalidade, porém penso que deve ter sido muito complicado para os apóstolos e os primeiros seguidores acatar esta doutrina.
Por que não bastava a Tomé o testemunho de seus companheiros ou apenas ver Jesus? Por que ele tinha que tocar nas feridas?
Penso que é para nos deixar este testemunho único: “Meu Senhor e meu Deus”.
Tomé conclui, finalmente, que Jesus é Deus. O rosto do Pai está, definitivamente, revelado em Jesus. Em sua misericórdia infinita, carrega consigo nossas chagas e nos redime para sempre.
Compreendo, finalmente, que tocar as feridas me chamou a atenção no início da oração, porque Deus precisa continuar agindo no mundo para curar as feridas e, para isso, conta conosco.
Jesus Ressuscitado está em nós e, por meio de nós, continua agindo no mundo para livrá-lo de todas as feridas. Portanto, precisa de discípulos comprometidos como Tomé, dispostos a morrer com Ele. Quais são nossas dúvidas? Apresentemos a Jesus e deixemos que Ele também nos diga: “não sejas incrédulo, mas fiel”.
São Tomé, interceda por nós, para que sejamos, verdadeiramente, instrumentos de Deus no mundo. Amém!
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG