Por que jejuamos? (Is 58,1-9a)
20 de fevereiro de 2015Cuidando do mais óbvio
23 de fevereiro de 2015Naquele tempo, Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria. Jesus lhe disse: “Segue-me”. Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu.
Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava aí grande número de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. Os fariseus e seus mestres da Lei murmuravam e diziam aos discípulos de Jesus: “Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?”
Jesus respondeu: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.
“Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu”. A pronta disposição de Levi, chamou minha atenção. Por que ele foi tão decidido? É mais comum percebermos as pessoas tendo muita dificuldade de mudar de vida, de mudar os hábitos e os costumes. Mais comum é ouvir o famoso “vamos deixar como está, para ver como é que fica”.
Talvez possamos ser levados a pensar: mas se Jesus, pessoalmente, aparecesse na minha frente, me chamando para segui-lo, é claro que eu iria! Será?
Duas outras coisas me vieram à mente: a canção Vocação, de Pe. Zezinho, e o encontro de Jesus com o “jovem rico” (Mt 19, 16-22 e Mc 10, 17-22).
Na leitura que faço da canção, o vento, que é uma forma de se referir ao Espírito, nos chama, mas o tempo, representando tudo aquilo a que nos dedicamos agora, projetos pessoais ou não, nos refreia, tenta nos impedir de seguir a voz do Espírito. A canção diz: “a decisão é tua”.
Para o encontro de Jesus com o “jovem rico”, eu destaco a passagem de Mateus e também a de Marcos, porque Mateus fala de um jovem rico que cumpre o mandamento de amar ao próximo como a si mesmo, e Marcos diz que Jesus olhou para esse jovem com amor. Na minha oração, essas três coisas são importantes.
O jovem rico é notável, um verdadeiro exemplo de pessoa, cumpridor de todos os mandamentos. Como costumamos dizer, ele era “um santo”. Contudo, se ele estava preocupado em saber o que era necessário para se ganhar a vida eterna, penso que alguma coisa o incomodava. Ele não estava tão seguro de si. Cumprir todos os mandamentos não o satisfazia. Ele sentia um vazio e precisava preenchê-lo. Jesus olha para ele com amor, como olha para cada um de nós, sempre que nos vê necessitados, sempre que lhe pedimos alguma ajuda. Porém, mesmo estando diante de Jesus e tendo pedido sua ajuda, ele não teve coragem de abandonar a “segurança de sua fortuna” para segui-lo. Quando oramos, e Jesus nos chama, qual é a nossa resposta?
Levi, por sua vez, não fez nenhum pedido, não sabemos se ele estava triste ou alegre, mas não titubeou: deixou tudo e seguiu Jesus.
A decisão é tua, é de cada um de nós. Jesus não obrigou, nem obriga ninguém a segui-lo. Ele apenas chama, e chama a todos.
Por que uns aceitam e outros não? Por que aceitamos algumas vezes e outras temos dificuldade?
Para mim, Jesus responde a questão quando Ele diz que os sadios não precisam de médico. Ora, todos devem conhecer pessoas que não aceitam ir ao médico de maneira nenhuma. Mesmo quando já estão muito adoentados, dizem que está tudo bem, que é apenas um mal-estar, que vai passar logo, mas não vão ao médico.
Se acharmos que tudo que estamos fazendo está correto, por que vamos querer mudar? Por que precisaríamos de conversão? Para que precisaríamos de Jesus?
O jovem rico queria fazer mais alguma coisa para ganhar a vida eterna. No entanto, não passava por sua cabeça ter que deixar alguma coisa para trás, desapegar-se daquilo que o enriquecia, tornar-se pobre para, quem sabe, abrir espaço à misericórdia e poder amar mais plenamente os outros, mandamento que ele julgava cumprir.
Levi não hesitou em deixar tudo. Ouviu o chamado, levantou-se e seguiu Jesus.
Estamos no tempo da quaresma. Tempo de revisão de vida e de conversão. Verifiquemos, com carinho e autenticidade, o que precisamos mudar e, com muito desapego, o que precisamos deixar. Ouçamos o chamado. O Espírito está nos chamando, continuamente. A decisão é nossa.
O tempo, que nos impede, muitas vezes, de aceitar o convite, está passando e não voltará mais, por isso transcrevo a última estrofe da canção Vocação:
O trigo já se perdeu
Cresceu, ninguém colheu
E o mundo passando fome
Passando fome de Deus
A decisão é tua
A decisão é tua
Maria, mãe de Deus e nossa, acompanhe nosso caminho de conversão e nos ajude a ouvir a Jesus e a fazer tudo o que Ele nos disser. Amém!