Vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão.
14 de junho de 2018“Ó Senhor Deus, como é bom dar-te graças!
17 de junho de 2018— Vocês ouviram o que foi dito: “Não cometa adultério.” Mas eu lhes digo: quem olhar para uma mulher e desejar possuí-la já cometeu adultério no seu coração. Portanto, se o seu olho direito faz com que você peque, arranque-o e jogue-o fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ser atirado no inferno. Se a sua mão direita faz com que você peque, corte-a e jogue-a fora. Pois é melhor perder uma parte do seu corpo do que o corpo inteiro ir para o inferno.
— Foi dito também: “Quem mandar a sua esposa embora deverá dar a ela um documento de divórcio.” Mas eu lhes digo: todo homem que mandar a sua esposa embora, a não ser em caso de adultério, será culpado de fazer com que ela se torne adúltera, se ela casar de novo. E o homem que casar com ela também cometerá adultério.
Oração:
Espírito Santo, companheiro de todas as horas, acalme meu coração e meu espírito, de tal forma que as agitações e barulhos externos não me impeçam de compreender a mensagem trazida pelo texto de hoje.
Senhor, compreendo que são forças muito poderosas e muito profundas que necessitamos dominar para nos alinharmos com o ensinamento que suas palavras nos transmitem.
Há instintos cultivados durante inúmeras gerações que nos impelem a desejos sexuais muito fortes, contudo, o Senhor vem nos dizer que se deixar levar por eles é o suficiente para corromper nossos corações. Além disso, propõe ações muito radicais para estirparmos os males, arrancar o olho ou a mão direita e jogá-los fora.
Mesmo que eu entenda que o Senhor se utilizou de sentidos figurados, pois creio que não é seu desejo ver pessoas se automutilando, percebo que o assunto é muito grave e importante.
Para aprofundar no entendimento do que o Mestre quer nos ensinar, valho-me da primeira leitura, 1Rs 19, 9a.11-16, na qual o profeta Elias, fugindo da ameaça de ser morto a mando de Jezabel, chega ao monte Sinai e entra em uma caverna para passar a noite, porém Deus lhe ordena que vá para fora, onde ficará diante do Senhor. Sopra um vento muito forte, depois vem um terremoto e depois fogo, porém, Deus não se encontra em nenhum destes fenômenos. Então, vem uma leve brisa. Ao escutar seu ruído, Elias cobre o rosto com a capa, sai e se põe diante da caverna, pois percebe a presença de Deus.
Entendo que Jesus também quer nos mostrar o quanto podemos nos desviar dos planos de Deus, quando nos deixamos levar, levianamente, pelas paixões. Em nossas vidas, haverá paixões e, muitas delas, serão importantes para nos mover, para nos fazer avançar, contudo, é necessário ter calma para verificar se, no meio delas, encontramos a presença de Deus. Quando a paixão é fruto de um dom desenvolvido com muito amor, ela será motivo de alegria e promoverá a paz, no entanto, quando a paixão leva ao desassossego do coração, a uma confusão mental e não traz alegria e nem paz, não podemos deixar que ela governe nossas ações.
A experiência de Elias é interessante para refletirmos sobre isto. Elias ouviu o vento muito forte, sentiu o tremor do terremoto e o calor do fogo, mas se conservou protegido pela caverna e não foi atingido pelos fenômenos. Ele se conservou íntegro até poder ouvir a voz de Deus, que veio do meio de uma brisa suave.
Assim acontece conosco. Muitas vezes, somos verdadeiramente sacudidos por sentimentos muito fortes e que nos levam a uma perturbação, nosso coração bate em um ritmo desconhecido e não conseguimos coordenar nossos pensamentos. Precisamos ter a sabedoria de nos colocar em uma posição segura e observar o que tudo isso significa. Tomar o cuidado para não cortar muito cedo o que poderá se revelar desejável e nem se deixar levar com muita facilidade pelo que será revelado como equívoco. Quem pode conter o vento que sopra muito forte? Quem pode aplacar o terremoto? Ou quem pode apagar o fogo que queima florestas? Às vezes é necessário ficar na caverna observando e conhecendo melhor todos os fenômenos, iluminando as sombras que nos levam ao erro.
Compreendo assim, Senhor, que não é o meu olho que me leva a pecar, mas pode me trazer imagens que não apontam para Deus. Não é minha mão direita que me leva a pecar, mas pode me permitir tocar e me apropriar daquilo que Deus não planejou para mim. Como Elias, preciso ficar resguardado na caverna do respeito e da sobriedade, até que meus olhos possam ver o que Deus preparou para mim e aquilo que colocou ao alcance de minhas mãos.
É bastante comum nos sucumbirmos às nossas paixões e depois nos arrependermos amargamente. O fato é que somos levados a confiar demais em nossa capacidade de discernimento e autocontrole e, se assim fazemos, sem considerar adequadamente o risco que corremos, depois pode ser muito tarde para reconsiderações.
Conta-se que Ulisses, ao saber que iria passar ao largo da Ilha de Delfos, onde havia sereias que encantavam os marinheiros com seu canto e os levavam à morte, teve vontade de ouvir e conhecer o famoso canto das belas criaturas. Apesar de toda sua força, ele não subestimou o risco que corria. Ordenou que toda a tripulação do barco colocasse tampões nos ouvidos e que o amarrassem ao mastro do navio. Ninguém deveria, em hipótese alguma, por mais que ele implorasse, soltá-lo das amarras. Pois assim sucedeu, e Ulisses pôde ouvir o canto das sereias e passar incólume pela Ilha de Delfos.
E você? Que cuidados precisa tomar para não cair nas tentações? Tem sabido observar, da caverna, os fenômenos que acontecem em sua vida, até perceber onde está a presença de Deus?
A melhor amarra para ficarmos firmes e não nos deixarmos levar pelo canto das sereias é a Palavra de Deus. Conhecê-la, saboreá-la na oração e na comunhão é a caverna segura para observarmos os fenômenos até ouvirmos a voz de Deus.
Do salmo de hoje: “Estou certo de que verei, ainda nesta vida, o Senhor Deus mostrar a sua bondade. Confie no Senhor. Tenha fé e coragem. Confie em Deus, o Senhor” (Sl 27, 13-14). Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte