“Num sábado, Jesus estava atravessando uma plantação de trigo. Os seus discípulos começaram a colher e a debulhar espigas, e a comer os grãos de trigo. Então alguns fariseus perguntaram:

— Por que é que vocês estão fazendo uma coisa que a nossa Lei proíbe fazer no sábado?

Jesus respondeu:

— Vocês não leram o que Davi fez, quando ele e os seus companheiros estavam com fome? Ele entrou na casa de Deus, pegou os pães oferecidos a Deus, comeu e deu também aos seus companheiros. No entanto é contra a nossa Lei alguém comer desses pães; somente os sacerdotes têm o direito de fazer isso.

E Jesus terminou, dizendo:

— O Filho do Homem tem autoridade sobre o sábado.”

Na oração de hoje, sob a inspiração de Santo Inácio, vamos pedir a graça do conhecimento interno de Jesus, para mais amá-lo e segui-lo.

Este Evangelho é polêmico. Para os judeus, o sábado era o sétimo dia, o dia em que Deus descansou da obra da criação, Por isso, se observava o Shabat, era um dia especialmente voltado a Deus, em que não se fazia nenhum trabalho, o ser humano também descansava. Colher espigas era considerado um trabalho e os fariseus, que observam a Lei à risca, questionam a atitude dos discípulos de Jesus.

Na nossa oração, observar a atitude de Jesus, o que Ele fala, que relação isso tem com todos os seus gestos e ensinamentos.

Em nossa sociedade atual, é fácil relativizar as leis por interesses próprios. O que mais vemos são poderosos buscando brechas na lei para sair com a sua, geralmente para ganhar mais ou para não cumprir alguma penalidade em função de algo que já ganharam, retiraram ou sonegaram.

Não se trata disso aqui. Em Mateus 5,17 Jesus afirma: “Não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos Profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo.”  O que dá sentido a este trecho é a última frase de Jesus: “O Filho do Homem tem autoridade sobre o sábado.” Ele é a Palavra do Pai, é a própria autoridade e a Lei encontra sentido pleno em sua vida.

Em todo o Evangelho, vemos Jesus defendendo a vida plena do ser humano. A polêmica sobre o sábado acontece também em várias passagens em que ele cura neste dia e o questionam: Por que não cura em outro dia? Mas Ele quer mostrar que o sentido do sábado é a vida, é celebrar a criação de Deus que encontra seu ápice no ser humano. Como se aceitar então com tranquilidade e se adiar a resolução de situações de opressão?

Não vemos Jesus legislando em causa própria, mas tomando como critério a vida, e a isso nos convidando. Temos leis civis e religiosas, além de costumes sociais vários. Muitas vezes, eles são opressores, deixam de fora muita gente. Nas situações que se apresentam a nós durante o dia, como viver e discernir tendo a vida como critério? Como agir com sabedoria, buscando responder ao questionamento: “O que a vida me pede neste momento?”

Peçamos ao Espírito que nos ajude a deixar que de fato seja o Filho do Homem e sua vida quem tenha autoridade máxima sobre nós. E a reconhecer quem é Ele e qual o seu chamado no nosso cotidiano.

Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner