O juízo final (MT 25, 31 – 46)
19 de fevereiro de 2018Pequenos sinais convocando a liberdade
21 de fevereiro de 2018Leitura: Mateus,6, 7-15
Naquele tempo, Jesus disse:
— Nas suas orações, não fiquem repetindo o que vocês já disseram, como fazem os pagãos. Eles pensam que Deus os ouvirá porque fazem orações compridas. Não sejam como eles, pois, antes de vocês pedirem, o Pai de vocês já sabe o que vocês precisam. Portanto, orem assim:
“Pai nosso, que estás no céu,
que todos reconheçam
que o teu nome é santo.
Venha o teu Reino.
Que a tua vontade seja feita aqui na terra
como é feita no céu!
Dá-nos hoje o alimento que precisamos.
Perdoa as nossas ofensas
como também nós perdoamos
as pessoas que nos ofenderam.
E não deixes que sejamos tentados,
mas livra-nos do mal.
E disse ainda:
— Porque, se vocês perdoarem as pessoas que ofenderem vocês, o Pai de vocês, que está no céu, também perdoará vocês. Mas, se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês.
Oração:
Para nossa oração de hoje, a Igreja nos dá um texto no qual Jesus fala sobre a oração. A oração é uma das práticas cristãs que o tempo quaresmal convida a intensificar. Assim, depois de silenciar nosso interior, perguntemos a Jesus o que ele gostaria que aprendêssemos, hoje, com sua Palavra.
Não sejam como eles, pois, antes de vocês pedirem, o Pai de vocês já sabe o que vocês precisam. No início de sua fala, Jesus já afirma que a oração não requer inúmeras repetições e também não se faz por palavras compridas. Parece que Jesus está querendo revelar que, “do outro lado”, não há uma máquina que atenderá aos comandos repetidos de quem insiste sem saber muito bem qual botão deve apertar. “Do outro lado”, que é o lado de dentro, está Alguém próximo, íntimo, pois “já sabe o que vocês precisam”. Jesus começa a introduzir seus amigos na oração que ele próprio praticava. Quem está “do outro lado” é Alguém que já nos conhece; não está longe, mas perto; prefere poucas palavras sinceras a longos discursos sem intimidade.
Pai nosso. Jesus não se contenta em dizer o que a oração não é. Olhando para seus amigos, decide ensiná-los a orar. Começa com um vocativo bem simples: Pai nosso. Jesus continua seu caminho de revelar a identidade d’Aquele a Quem se dirige na oração. É o Pai. Alguém próximo, mas não é um vigia, um patrão. É o Pai. Isso diz que somos filhos e filhas. Não somos escravos, servos ou empregados… não precisamos “puxar saco”, “fazer média”, cumprir metas, realizar serviços… filiação não se perde… o amor d’Ele não tem condições. E o Pai é “nosso”. A relação com Ele não se percebe muito bem, não se realiza plenamente, se não há, ao redor, os irmãos e irmãs. Vê-se o Pai quando se veem os irmãos. Não há conversa verdadeira com Deus se não se percebe a presença dos outros filhos. Não somos filhos únicos e é o primogênito quem nos ensina isso.
Mas, se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês. Jesus prossegue ensinando os passos e conteúdos de uma conversa autêntica com o Pai. Finaliza ensinando sobre o perdão. Pedir o perdão faz parte da oração. Dá-lo é condição para recebê-lo. No fim, pode nos parecer estranho que o Pai, que é tão bondoso, não queira perdoar se nós não perdoarmos. Mas o Pai quer sempre perdoar. Nós, porém, não podemos experimentar o perdão quando não perdoamos quem nos machuca. Como podemos nos convencer de que Alguém perfeito queira viver conosco, esquecendo-se das nossas faltas, quando nós, que falhamos de tantas e diversas formas, somos incapazes de conviver com as falhas dos outros? Jesus está a nos dizer que nunca nos convenceremos plenamente do perdão que recebemos – que é verdadeiro, pleno – se não nos esforçarmos, também nós, para perdoar completamente. A dificuldade que isso implica ele não nega, mas é categórico ao dizer que esse é o caminho para ser perdoado: perdoar também.
Peçamos ao Espírito que esse tempo quaresmal seja um no qual nossa oração se torna mais íntima… que nos leve a experimentar que Deus é Pai e que Ele é Pai de todos e todas – irmãos e irmãs… mesmo quando não for possível apagar a lembrança do que nos feriu, que seja possível continuar o caminho com menos peso – porque o tiramos de dentro de nós e das costas do outro.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte