Jesus: a cura certa
29 de janeiro de 2018Do batente ao milagre, as mesmas mãos
31 de janeiro de 2018Leitura: Marcos 5, 21-43
Jesus voltou para o lado oeste do lago, e muitas pessoas foram se encontrar com ele na praia. Um homem chamado Jairo, chefe da sinagoga, foi e se jogou aos pés de Jesus, pedindo com muita insistência:
— A minha filha está morrendo! Venha comigo e ponha as mãos sobre ela para que sare e viva!
E Jesus foi com ele. Uma grande multidão foi junto e o apertava de todos os lados.
Chegou ali uma mulher que fazia doze anos que estava com uma hemorragia. Havia gastado tudo o que tinha, tratando-se com muitos médicos. Estes a fizeram sofrer muito; mas, em vez de melhorar, ela havia piorado cada vez mais. Ela havia escutado falar de Jesus; então entrou no meio da multidão e, chegando por trás dele, tocou na sua capa, pois pensava assim: “Se eu apenas tocar na capa dele, ficarei curada.” Logo o sangue parou de escorrer, e ela teve certeza de que estava curada. No mesmo instante Jesus sentiu que dele havia saído poder. Então virou-se no meio da multidão e perguntou:
— Quem foi que tocou na minha capa?
Os discípulos responderam:
— O senhor está vendo como esta gente o está apertando de todos os lados e ainda pergunta isso?
Mas Jesus ficou olhando em volta para ver quem tinha feito aquilo. Então a mulher, sabendo o que lhe havia acontecido, atirou-se aos pés dele, tremendo de medo, e contou tudo. E Jesus disse:
— Minha filha, você sarou porque teve fé. Vá em paz; você está livre do seu sofrimento.
Jesus ainda estava falando, quando chegaram alguns empregados da casa de Jairo e disseram:
— Seu Jairo, a menina já morreu. Não aborreça mais o Mestre.
Mas Jesus não se importou com a notícia e disse a Jairo:
— Não tenha medo; tenha fé!
Jesus deixou que fossem com ele Pedro e os irmãos Tiago e João, e ninguém mais. Quando entraram na casa de Jairo, Jesus encontrou ali uma confusão geral, com todos chorando alto e gritando. Então ele disse:
— Por que tanto choro e tanta confusão? A menina não morreu; ela está dormindo.
Então eles começaram a caçoar dele. Mas Jesus mandou que todos saíssem e, junto com os três discípulos e os pais da menina, entrou no quarto onde ela estava. Pegou-a pela mão e disse:
— “Talitá cumi!” (Isto quer dizer: “Menina, eu digo a você: Levante-se!”)
No mesmo instante, a menina, que tinha doze anos, levantou-se e começou a andar. E todos ficaram muito admirados. Então Jesus ordenou que de jeito nenhum espalhassem a notícia dessa cura. E mandou que dessem comida à menina.
Oração:
Pode-se dizer que o evangelho de hoje nos oferece duas cenas. Com as duas cenas, podemos rezar. Entremos nessas cenas. Olhemos. Sintamos a atmosfera. Cheiremos. Reparemos nos personagens diversos. Se a cena se repetisse, como seria hoje? Se ela se refizesse, quem seria eu?
A primeira cena é esta: Jesus está a caminho da casa de Jairo, apertado entre as muitas pessoas da multidão. Uma mulher que sofria de hemorragia há anos, cavando um caminho na multidão, consegue encostar na capa de Jesus. De Jesus, sai uma força que a cura. Ele quer saber quem o tocou. Os discípulos riem da pergunta, que parece sem sentido. A mulher se apresenta e diz que foi ela quem lhe tocou a capa.
No mesmo instante Jesus sentiu que dele havia saído poder. É curioso esse fato. Contrariamente ao que no geral ocorre nos evangelhos, a mulher fica curada sem que tenha havido com Jesus qualquer diálogo. Parece que Jesus cura “involuntariamente”, sem que possa controlar. Leio e releio o versículo. A estranheza dá lugar ao espanto com a beleza. Se um dia percebermos que Deus sempre quer nos curar… que d’Ele sempre há um poder, uma força, que sai em nossa direção e que nos cura se nós O tocamos… a força de um amor paternal, maternal… Se percebermos que a decisão d’Ele já foi tomada e que Ele não concede favores como os seres humanos, cheios de caprichos… se percebermos que a única decisão ainda a ser tomada é a nossa, pois Ele já fez o caminho, já está pronto a doar seu poder, seu amor…
O senhor está vendo como esta gente o está apertando de todos os lados e ainda pergunta isso? Os discípulos não entendem a pergunta de Jesus, que queria saber quem o havia tocado. Ora, milhões de pessoas o tocavam, pois ele caminhava espremido por uma multidão. Mesmo assim, pergunta: “Quem foi que tocou na minha capa?” Também aqui podemos sair do espanto que sentiram os discípulos com a pergunta de Jesus e passar à beleza dessa pergunta. No mundo, uma multidão rodeia Deus. Quando Deus tenta fazer seu caminho até as pessoas, Ele se aperta. Há uma multidão que encosta n’Ele, mas não O toca. Muitos ali talvez beijassem a mão de Jesus, talvez segurassem seus pés, talvez o puxassem pelo pescoço, tamanha a euforia. Mas ele sente um toque na barra de sua capa. A cena se repete hoje: muita coisa, muita gente, encosta em Deus, mas quem O toca? Quem chega a Deus porque Ele é Quem é? Quem vai a Ele porque se sente cansado, pequeno, incapaz, excluído, impossibilitado? Essas pessoas, às vezes, por diversas razões, por haver tanta gente encostando em Deus, mas sem tocá-Lo, não conseguem, à primeira vista, chegar à Sua pele. Chegam até a sua capa, as imediações de Deus. A sede é tão verdadeira, a busca é tão profunda, que Deus sente o toque. Ele então pergunta: “Que me tocou?”. Deseja saber quem é essa pessoa. Deseja falar com essa pessoa. Na oração de hoje, peçamos que sejamos pessoas que O tocam e não pessoas que apenas O rodeiam, encostando n’Ele, mas sem tocá-Lo. Sejamos menos os que vão a Deus pela curiosidade superficial, pela euforia, e mais os que Lhe chegam porque ouviram do Seu amor, da sua possibilidade de amar e, com isso, curar.
A segunda cena é esta: quando ainda estavam a caminho da casa de Jairo, seus empregados chegam com a notícia da morte de sua filha. Jesus não se importa com a notícia. Diz a Jairo para não ter medo, para ter fé. E segue até a casa. Lá, conversa com as pessoas, afirma que a menina apenas dorme, sofre chacota, vê e pega a menina pela mão, a menina se levanta… está viva.
Por que tanto choro e tanta confusão? A menina não morreu; ela está dormindo. Essa é a fala de Jesus quando chega à casa de Jairo e percebe o alvoroço. As pessoas estavam certas da morte. Jesus estava certo da vida. Diante da mesma cena, da menina inerte, sem respiração, “morta”, contrapõem-se duas “verdades”, dois futuros: para uns, a menina morreu e se seguirá o funeral; para Jesus, a menina apenas dorme e voltará à vida que levava. Em nossa vida, quem ou o que é a menina? Sim, há situações para as quais olhamos – cenas, contextos e fatos – sem esperança, constatando apenas a falta de vida. Há partes nossas – sentimentos, amores, projetos, sonhos – que, diante do nosso olhar, estão mortas. A saída que vemos é o lamento, o choro, até que tudo se enterre. Hoje, somos convidados a apresentar a Deus, juntamente com Jairo e sua esposa, “nossa menina morta”, aquilo que tanto amamos, que nos é caro, mas que parece ter se tornado inviável, sem vida… aquilo que morreu e foi tirado de nós apesar do nosso cuidado, do nosso carinho, do nosso amor, do nosso tempo investido, do nosso sonhar. Apresentemos “nossa menina” a Ele. Ouçamos Ele dizer: “apenas dorme”. E, depois: “Talitá cumi! Levante-se!”. Vejamos que “nossa menina” se levanta. Sonhos, projetos, amores… Ele pode fazer levantar com vida aquilo que, para nós, está morto. O olhar d’Ele não apenas enxerga a vida que está; Deus, ao olhar, atribui vida. Deixemos que Ele entre em nossos aposentos e olhe nossa vida até que tudo seja Vida!
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte