II Domingo do Tempo Comum – Ano A
15 de janeiro de 2017O sábado foi feito para o homem – Mc 2, 23-28
17 de janeiro de 2017Evangelho – Mc 2,18-22
18Os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Algumas pessoas chegaram perto de Jesus e disseram a ele:
— Os discípulos de João e
os discípulos dos fariseus jejuam. Por que é que os discípulos do senhor não jejuam?
19Jesus respondeu:
— Vocês acham que os convidados de um casamento jejuam enquanto o noivo está com eles? Enquanto ele está presente, é claro que não jejuam! 20Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar!
21 — Ninguém usa um retalho de pano novo para remendar uma roupa velha; pois o remendo novo encolhe e rasga a roupa velha, aumentando o buraco. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se alguém fizer isso, os odres rebentam, o vinho se perde, e os odres ficam estragados. Por isso, o vinho novo é posto em odres novos.
Vinde Espírito Santo e ilumine essa nova semana de trabalho (ou de férias) que hoje iniciamos, dando sabedoria para discernirmos a respeito das mudanças que precisamos fazer em nossa vida.
Mais que refletir sobre o jejum propriamente dito, parece fazer sentido que nossa reflexão de hoje se encaminha em torno da resposta dada por Jesus a seus questionadores no evangelho de hoje.
Jejum e aliança com o novo são conceitos chave para nossa reflexão de hoje. Jesus, no evangelho, é questionado por seguidores da tradição que apontavam um comportamento supostamente inadequado dos discípulos e, com sua resposta, encaminha a conversa para uma reflexão que mexe com as raízes dos seus interlocutores.
Várias são as referências no Antigo Testamento apontando para uma ordem de Deus para que o povo se dedicasse à prática do jejum. A expressão hebraica usada para designar uma atitude que levava a esse hábito era ‘anah nephesh’, que significa afligir a alma. Trata-se de um dia que, inicialmente, era guardado pelo povo de Israel e que, depois, passou a ser acompanhado pelo sacrifício do alimento. Sacrifício para expiação dos pecados cometidos. Incomoda aos questionadores de Jesus o fato de seus seguidores não seguirem essa tradição, mas Jesus discorda deles.
Se basearmos nossa interpretação no que a palavra “jejum” significa (como definido acima), sendo Jesus motivo de alegria, como ficarmos aflitos em sua companhia? A parábola do noivo, sob esse aspecto, faz todo o sentido. Ao citar a festa de casamento, o significado atribuído ao jejum por Jesus é o mesmo entendido pelas pessoas que o cercavam: tristeza profunda. Ora, não poderíamos nos entristecer em uma festa de casamento, sobretudo se considerarmos que Jesus é o noivo citado texto. Jesus é o noivo de uma nova aliança que Deus propõe a nós. Uma aliança que quebra os medos e a rigidez do Antigo Testamento para instaurar a prática do Amor. Devemos nos lembrar ainda de que o jejum do tempo de Jesus já havia se tornado uma prática seguida mais pela tradição que pelo coração, de fato, uma prática já quase destituída de sentido, em que as pessoas estavam mais preocupadas com a tristeza aparente que com aquela do interior.
Como fazer o jejum e reafirmar a antiga aliança se os discípulos estavam diante de outra que parecia fazer muito mais sentido? Se o fizessem, estariam usando o projeto de Jesus para dar sentido a um modelo de fé baseado numa lógica avessa ao amor e à doçura. Valeria a pena valorizar a doutrina do medo sacrificando a do Amor?
O antigo do qual fala Jesus não é aquele que deve ser preservado porque é de melhor qualidade, porque faz parte da tradição e contribui para nos manter coesos. Trata-se do velho, daquilo que não tem mais razão de ser e que precisa ser substituído por uma nova proposta. É aquilo do que precisamos abrir mão para viver as novidades que Deus nos oferece.
Para completar o raciocínio, Jesus acrescenta uma parábola: “Ninguém usa um retalho de pano novo para remendar uma roupa velha.” Ele mostra para os seus questionadores que não faria sentido os seus jejuarem. Ora, se Jesus, numa nova aliança, vem ao mundo para propor uma maneira diferente de culto, era necessário que seus seguidores tivessem a ousadia de romper com aquilo de seus velhos costumes que não se encaixava nessa nova proposta.
Mas, como parece, às vezes, difícil abrir mão da “roupa velha”! Não seria muito fácil para aqueles que interrogaram Jesus optar pela nova situação que Ele indicava, já que estavam imersos na tradição. Assim também nós, em nossa vida, deparamo-nos com esses momentos em que a novidade de nossa fé é posta à prova.
Como é difícil abrirmos mão do que, em nós, não se adéqua ao projeto de Deus! Muitas vezes, estamos sofrendo em realidades que nos fazem mal, que nos tiram a paz, que não são da vontade de Deus e, mesmo assim, preferimos preservar tal realidade a nos abrir a novos caminhos por causa do medo ou do comodismo.
Entretanto, se quisermos mesmo viver uma realidade nova, assim como a nova aliança com Deus, precisamos da ousadia que os discípulos tiveram de abrir mão do “velho”, precisamos enfrentar o incômodo que sair a zona de conforto significa. Assim, poderemos viver plenamente o projeto de Deus para nós.
Pedimos hoje, Jesus, que Você nos dê discernimento para sabermos separar o vinho antigo de qualidade que deve ser preservado em nossas vidas daquele que precisa ser descartado. E, discernindo um do outro, que Você nos dê firmeza para nos mantermos naquilo que, de fato, é o melhor, mesmo em meio às adversidades.
Que nosso coração esteja aberto às suas novidades, Jesus. Que o recebamos como “noivo” de um casamento cujo Amor seja renovado a cada dia para que se mantenha vívido e com o frescor dos primeiros encontros. Que sigamos a doutrina não só pela tradição, mas pelo encanto que ela traz, pelo viço novo que ela nos faz perceber. E que o novo que vem de Você nos faça jogar fora o que já não faz mais sentido, para que possamos descortinar a plenitude que Você está nos oferecendo nesse momento.
Pensemos no que em nossa vida precisa ser renovado e coloquemos como meta importante deste ano esse processo de renovação.
Amém!
Ana Paula Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte
Ninguém usa um retalho de pano novo para remendar uma roupa velha