O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido – Lc 19, 1-9
17 de novembro de 2015“A minha casa será uma Casa de Oração”
20 de novembro de 2015Leitura: Lucas 19, 41-44
Quando Jesus chegou perto de Jerusalém e viu a cidade, chorou com pena dela e disse: — Ah! Jerusalém! Se hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você não pode ver isso. Pois chegarão os dias em que os inimigos vão cercá-la com rampas de ataque, e vão rodeá-la, e apertá-la de todos os lados. Eles destruirão completamente você e todos os seus moradores. Não ficará uma pedra em cima da outra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para salvá-la.
Oração:
Três distritos de Mariana (município mineiro) foram cobertos pela lama devido à negligência dos empreendedores da atividade mineradora e à falta de suficiente fiscalização governamental. Centenas de famílias desabrigadas, sem qualquer possibilidade de retornar às suas casas. Pessoas mortas. Mataram também um rio. Além-mar, civis foram mortos em nome de deus. O país atacado revida e, a pretexto de conter esse tipo de ação, mata mais civis ainda do outro lado: homens, mulheres e crianças que não estão em guerra, que não matariam em nome de deus e que sabem que Deus não é o deus em nome de quem se mata. O lamento de Jesus, que chorou ao ver Jerusalém, atravessa muitos séculos e se junta a todos nós que, hoje, impotentes como o Deus encarnado, choramos nossos fracassos.
Esse é o espanto que o evangelho de hoje me traz. Jesus chegou perto de Jerusalém, viu a cidade e CHOROU com pena dela. Por que não fez algo mais? Bastam-nos as lágrimas de Deus? Olhamos para nossos entornos e temos a sensação de que Deus se foi, de que Ele não está, de que morreu ou nunca existiu. Mas Deus, hoje, também chora. Fico espantado com o caminho de impotência que Ele trilha: aproxima-se, vê e… chora. Assim como nós.
“Se hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você não pode ver isso.” A fala de Jesus me recorda de quem é o Pai: acima de tudo, a nossa liberdade. Às vezes eu Lhe oferto meu livre-arbítrio. Gostaria que tirasse de nós tanta – ou toda – liberdade. Mas Ele não toma de nós o maior presente que nos dá com nossa vida. Vida e liberdade para sermos filhos d’Ele.
Rezo com a minha impotência. Tomo consciência mais clara da minha pequenez. Fico desejando que vários homens e mulheres, esses que podem evitar que cidades tombem pelas bombas ou pela lama, sejam livres com amor. Meu desejo é acompanhado do olhar de Jesus, que chora. E o que Ele fala para esses homens e mulheres, fala também a mim: “Se hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz!”. De fato, eu ainda não sei exatamente o que é necessário para ter paz. E, além disso, quando tenho um palpite sobre o caminho, nem sempre consigo tomar as decisões para trilhá-lo. A paz não é mesmo um caminho fácil. É o melhor certamente, mas como são exigentes os primeiros passos! É como uma subida íngreme para chegar a um planalto. Se aceitássemos o grande esforço inicial, como seria mais brando o resto da caminhada. Mas não revidar custa, silenciar custa, falar o que é necessário custa, pensar na melhor forma de dizer custa, adotar uma alimentação que não torture outros seres custa, pedir perdão custa, e perdoar também custa…
“Você não reconheceu o tempo em que Deus veio para salvá-la”. Na oração, peço que a minha consciência da visita de Deus ao mundo aumente e seja cada vez mais clara. Peço que eu não fale do evangelho como uma poesia para aliviar meus dias… pelo contrário, peço que eu tenha força para viver a prosa do evangelho, cheia de capítulos difíceis, para também viver a alegria, a paz e o contato com o Amor do qual a Palavra me fala. Peço que as lágrimas de Deus me deem o alento que sua atuação discreta às vezes me tira. Peço que eu não cause essas lágrimas nem as de tantos outros. Peço que eu tome consciência dos choros para os quais eu contribuo. E peço que Ele me ajude a conhecer quando Ele me vem ajudar a mudar isso tudo…
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte