O chamado à conversão e o Deus que nos espera
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30º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Domingo, 25 de outubro de 2015
“De fato, o Senhor fez grandes coisas por nós,
e por isso estamos alegres”.
Salmo 126.3
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Senhor Jesus, abre meus olhos e meus ouvidos à tua palavra.
Que eu leia e escute tua voz e medite teus ensinamentos.
Desperta minha alma e minha inteligência para que tua palavra penetre meu coração
e possa eu saboreá-la e compreendê-la.
Dá-me muita fé em ti, para que tuas palavras sejam para mim
outras tantas luzes que me guiem para ti pelo caminho da justiça e da verdade.
Fala, Senhor, que eu te escuto e desejo pôr em prática tua doutrina,
porque tuas palavras são para mim vida, alegria, paz e felicidade.
Fala-me, Senhor, pois és meu Senhor e meu mestre.
A ninguém mais escutarei senão a ti.[1]
TEXTO BÍBLICO: Marcos 10.46-52
Jesus cura o cego Bartimeu
Mateus 20.29-34; Lucas 18.35-43
46Jesus e os discípulos chegaram à cidade de Jericó. Quando ele estava saindo da cidade, com os discípulos e uma grande multidão, encontrou um cego chamado Bartimeu, filho de Timeu. O cego estava sentado na beira do caminho, pedindo esmola. 47Quando ouviu alguém dizer que era Jesus de Nazaré que estava passando, o cego começou a gritar:
— Jesus, Filho de Davi, tenha pena de mim!
48Muitas pessoas o repreenderam e mandaram que ele calasse a boca, mas ele gritava ainda mais:
— Filho de Davi, tenha pena de mim!
49Então Jesus parou e disse:
— Chamem o cego.
Eles chamaram e lhe disseram:
— Coragem! Levante-se porque ele está chamando você!
50Então Bartimeu jogou a sua capa para um lado, levantou-se depressa e foi até o lugar onde Jesus estava.
51— O que é que você quer que eu faça? — perguntou Jesus.
— Mestre, eu quero ver de novo! — respondeu ele.
52— Vá; você está curado porque teve fé! — afirmou Jesus.
No mesmo instante, Bartimeu começou a ver de novo e foi seguindo Jesus pelo caminho.
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. Daniel Kerber[2]
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
A que lugar chegaram? Quem era Bartimeu? O que gritou para Jesus? Que fez Jesus? O que o cego queria de Jesus? Que razão Jesus lhe dá pela qual foi curado?
Algumas pistas para compreender o texto:
Estamos no último trecho da viagem de Jesus: no momento, encontra-se em Jericó, a uns 25km de sua meta, Jerusalém; ao sair da cidade, Jesus faz uma cura, que é o único milagre que realiza na Judeia.
O texto introduz o lugar e as personagens (v. 46); Bartimeu, ao inteirar-se de que era Jesus que passava, começa a gritar por ele, e não se detém diante dos que o repreendem (v. 47s); Jesus manda chamá-lo e o cura (v. 48-52); finalmente, Bartimeu segue Jesus pelo caminho.
O relato pode ser lido como um milagre de cura; no entanto, o texto tem alguns detalhes que nos permitem ver outras dimensões.
Se nos imaginarmos as cenas do relato, na primeira podemos ver Jesus que está a caminho, junto a seus discípulos e muita gente. À margem do caminho está Bartimeu, sentado, mendigando.
O caminho é um símbolo universal da vida, e caminhar reflete, de algum modo, o viver. Então, Jesus e os que o seguem estão caminhando, estão no caminho, ou seja, na vida; à margem do caminho, à margem da vida, está Bartimeu, que não se move: está sentado, mendigando; de alguma maneira, podemos vê-lo a mendigar vida.
Na segunda cena, quando Bartimeu grita, Jesus detém-se (v. 49), isto é, assume, de algum modo, a imobilidade de Bartimeu. E quando Jesus o chama, Bartimeu, de um salto, põe-se de pé; com outras palavras, perante a voz de Jesus; Jesus detém-se, e perante a voz de Jesus, Bartimeu põe-se em movimento.
Jesus faz-lhe uma pergunta que tem uma resposta aparentemente óbvia: “O que é que você quer que eu faça?” “Mestre, eu quero ver de novo!” (v. 50). Contudo, diante do pedido de Bartimeu, as palavras de Jesus não respondem ao que Bartimeu pede, pois lhe diz simplesmente: “Vá; você está curado porque teve fé” (v. 52). Jesus nada lhe diz sobre recuperar a vista; o narrador é que diz: “No mesmo instante, Bartimeu começou a ver de novo e foi seguindo Jesus pelo caminho.” Ou seja, recobra a vista “no caminho” e, depois, “segue Jesus” pelo caminho.
Este seguimento de Jesus é, em Marcos, sinônimo de ser discípulo; com efeito, nos primeiros chamados, mostrar-se o discipulado como seguimento: “Jesus disse a Levi: ‘Segue-me’. Ele se levantou e o seguiu” (2.14; cf. 1.18). Desse modo, o texto está a dizer-nos que os que veem são os que seguem a Jesus pelo caminho, vale dizer, seus discípulos, e os que não o seguem, por mais que tenham olhos abertos, são como cegos Bartimeus.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
O Evangelho convida-nos a reconhecer a presença de Jesus em nossa vida. Sabemos quem ele é, nós o temos escutado, mas ainda não experimentamos sua proximidade. Em nosso crescimento espiritual, sentimos o desejo de viver o mesmo que o cego Bartimeu: um Jesus com poder, que seja capaz de mudar nossa realidade. Por isso, sua atitude nos impressiona: chama “aos gritos” pelo Senhor, o que implica que a voz de Bartimeu deve ser mais forte do que o ruído que envolve Jesus e, ademais, que deve ser insistente até que o Senhor responda.
Partilhamos com vocês a reflexão que Papa Bento XVI faz sobre a cegueira e sobre a luz de Jesus: “O pecado torna-nos cegos, impede de nos propormos como guia para os nossos irmãos e impele-nos a desconfiar deles e a não se deixar guiar. Temos necessidade de ser iluminados e repetimos a súplica do cego Bartimeu: ‘Mestre, faze que eu veja!’ (Mc 10.51). Faz que eu veja o meu pecado que me bloqueia, mas sobretudo, Senhor, faze que eu veja a tua glória! Como sabemos, a nossa oração já foi atendida e damos graças porque, como diz São Paulo na Carta aos Efésios: ‘Cristo te iluminará’ (Ef 5.14), e São Pedro acrescenta: ‘Ele chamou-vos das trevas para a sua luz admirável’ (1Pd 2.9).
“A nós, que não somos a luz, agora Cristo pode dizer: ‘Vós sois a luz do mundo’ (Mt 5.14), confiando-nos a preocupação de fazer resplandecer a luz da caridade. Como escreve o Apóstolo São João: ‘Aquele que ama a seu irmão, permanece na luz e nele não há ocasião de queda’ (1Jo 2.10). Viver o amor cristão é fazer entrar a luz de Deus no mundo e, ao mesmo tempo, indicar a sua verdadeira fonte.”.[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Tenho vivido na cegueira do pecado? Estou fora do caminho e quero que Jesus me traga de volta? Tenho a fé de Bartimeu para pedir insistentemente a Jesus que me cure?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Aqui estou, Senhor,
como o cego à margem do caminho
– cansado, suado, empoeirado;
mendigo por necessidade e ofício.
Passas ao meu lado e não te vejo.
Tenho os olhos fechados para a luz.
Costume, dor, desânimo…
Sobre eles cresceram duras escamas
que me impedem ver-te.
Contudo, ao sentir teus passos,
aos ouvir tua voz inconfundível,
todo o meu ser estremece,
como se um manancial brotasse dentro de mim.
Eu te busco, te desejo, te necessito,
para atravessar as ruas da vida
e andar pelos caminhos do mundo, sem perder-me.
Ah, que pergunta, a tua!
Que mais deseja um cego senão ver? Que eu veja, Senhor!
Que eu veja tuas sendas, Senhor.
Que eu veja, Senhor, os caminhos da vida.
Que eu veja, Senhor, principalmente teu rosto,
teus olhos, teu coração.[4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
“Senhor, peço-te: faze com que eu veja!”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Nesta semana, buscarei a presença de Deus em minha vida e
lhe pedirei que me faça ver a realidade com novos olhos.
“Todo dano nos vem do fato não termos os olhos fixos em Ti,
pois se não olhássemos outra coisa senão o caminho, logo chegaríamos”.
Santa Teresa de Jesus
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Homilia de Bento XVI em Lourdes, Praça do Rosário, 13 de setembro de 2008 (https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2008/documents/hf_ben-xvi_hom_20080913_lourdes-processione.html).