Testemunha da Luz
31 de dezembro de 2014Lc 2,16-21
Depois de meditarmos sobre o ano vivido, ou depois de sentirmos todas as experiências vividas, que possamos iniciar o novo ano em oração. Hoje podemos contemplar em Maria sua capacidade de escutar. Diz na Palavra que Maria escutava e guardava todas as coisas em seu íntimo.
Revisando meu ano, percebi que a escuta tem sido atitude rara em meus relacionamentos. É tão comum não ouvir, que temos até uma expressão para os momentos em que não prestamos atenção ao que o outro nos diz: “Escutei, mas não ouvi.”
Muitas vezes é o outro que não está disposto a nos escutar e isso dói. Dói quando abro o coração, falo o que estou sentindo e ao final o outro me pergunta: onde foi mesmo que eu parei? Como se eu não tivesse dito nada!
Na minha vida, desejo que este seja o ano da escuta. A dificuldade de escutar vem muitas vezes da ansiedade por respostas. Queremos dar respostas aos nossos problemas e aos problemas dos outros. Mas não percebemos que o outro muitas vezes não está interessado em respostas, está interessado em ser ouvido. Somos seres de desejo mas não sabemos curtir o desejo. Não sabemos curtir a dúvida, o não ter respostas. Não queremos ser humanos…
Muitas vezes somos bons anunciadores da presença do Reino; outras vezes somos bons profetas para denunciar. Sabemos apontar no outro onde estão seus erros e defeitos. Mas hoje Deus nos convida a sermos bons ouvintes, nos dá a missão de consolar, de ser alento. A ter ouvidos de discípulas (os). Viver a escuta, porque é dela que surge o anúncio.
Em nossas conversas parece que estamos escutando, mas na verdade estamos apenas pensando na próxima palavra a dizer e matamos o diálogo. Outras vezes escutamos com interesse de curiosos, com ouvidos de quem deseja uma história nova pra contar e matamos a amizade, a confiança.
Que possamos aprender a ouvir com o coração. Ouvir, compartilhar, meditar. Como Maria, aceitar completamente a humanidade, aceitar o não saber, aceitar as dúvidas. Aprender a ouvir os outros, ouvir Deus e ouvir-nos. Que difícil escutar o que eu mesma (o) tenho a me dizer. Calamos nosso corpo, calamos nossos desejos, calamos nosso próprio pedido de socorro diante das correrias da vida.
Muitas de nossas conversas se convertem em competição de sofrimentos, ou competição de vitórias. E o que era para ser diálogo, comunhão, se converte em comparação. E a comparação é uma grande inimiga…
Deus sabe que ouvir o outro com o coração nos expõe a riscos, a verdade do outro pode ser muitas vezes como um tapa na cara. Mas Deus nos garante a presença, a ajuda pra que eu não me acovarde diante da verdade do outro, da minha própria verdade.
Começar a oração pedindo a Deus esse ouvido de discípulo, ouvido que deseja escutar o que Ele quer nos dizer. Que possamos nos abrir a vida nova que o Menino vem nos trazer. Pedir a Ele também a certeza de que estamos sendo ouvidos.
Pollyanna Vieira – Família Missionária Verbum Dei – BH-MG