A verdadeira felicidade ( Lucas 11,27-28)
10 de outubro de 2015Maria, nossa mestra (Jo 2,1-11)
12 de outubro de 2015LECTIO DIVINA
28º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Domingo, 11 de outubro de 2015
“Alimenta-nos de manhã com o teu amor, até ficarmos satisfeitos,
para que cantemos e nos alegremos a vida inteira”.
Salmo 90.14
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Senhor Jesus, abre meus olhos e meus ouvidos à tua palavra.
Que eu leia e escute tua voz e medite teus ensinamentos.
Desperta minha alma e minha inteligência para que tua palavra penetre meu coração
e possa eu saboreá-la e compreendê-la.
Dá-me muita fé em ti, para que tuas palavras sejam para mim
outras tantas luzes que me guiem para ti pelo caminho da justiça e da verdade.
Fala, Senhor, que eu te escuto e desejo pôr em prática tua doutrina,
porque tuas palavras são para mim vida, alegria, paz e felicidade.
Fala-me, Senhor, pois és meu Senhor e meu mestre.
A ninguém mais escutarei senão a ti.[1]
TEXTO BÍBLICO: Marcos 10.17-30
O moço rico
Mateus 19.16-30; Lucas 18.18-30
17Quando Jesus estava saindo de viagem, um homem veio correndo, ajoelhou-se na frente dele e perguntou:
— Bom Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?
18Jesus respondeu:
— Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. 19Você conhece os mandamentos: “Não mate, não cometa adultério, não roube, não dê falso testemunho contra ninguém, não tire nada dos outros, respeite o seu pai e a sua mãe.”
– 20Mestre, desde criança eu tenho obedecido a todos esses mandamentos! – respondeu o homem.
21Jesus olhou para ele com amor e disse:
– Falta mais uma coisa para você fazer: vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim você terá riquezas no céu. Depois venha e me siga.
22Quando o homem ouviu isso, fechou a cara; e, porque era muito rico, foi embora triste. 23Jesus então olhou para os seus discípulos, que estavam em volta dele, e disse:
– Como é difícil os ricos entrarem no Reino de Deus!
24Quando ouviram isso, os discípulos ficaram espantados, mas Jesus continuou:
– Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais difícil um rico entrar no Reino de Deus do que um camelo passar pelo fundo de uma agulha.
26Quando ouviram isso, os discípulos ficaram espantadíssimos e perguntavam uns aos outros:
– Então, quem é que pode se salvar?
27Jesus olhou para eles e disse:
– Para os seres humanos isso não é possível; mas, para Deus, é. Pois, para Deus, tudo é possível.
28Aí Pedro disse:
– Veja! Nós deixamos tudo e seguimos o senhor.
29Jesus respondeu:
– Eu afirmo a vocês que isto é verdade: aquele que, por causa de mim e do evangelho, deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras 30receberá muito mais, ainda nesta vida. Receberá cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos, e terras e também perseguições. E no futuro receberá a vida eterna.
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. Daniel Kerber[2]
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Qual é a pergunta que fazem a Jesus? Quem Jesus diz que é bom? Só uma coisa falta esse homem fazer: qual é? Como ele ficou? O que receberá quem deixar casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou terrenos por causa de Jesus?
Algumas pistas para compreender o texto:
O texto de hoje é continuação do evangelho do domingo passado. Jesus prossegue, com seus discípulos, seu caminho rumo a Jerusalém, e ali ensina através dos acontecimentos que se sucedem.
O evangelho pode ser estruturado em duas partes: a primeira é o encontro de Jesus com o homem rico (vv. 17-22), e a segunda é um ensinamento de Jesus a seus discípulos sobre a riqueza (vv. 23-30).
Conhecemos este texto normalmente sob o título de “o jovem rico”. Este dado é tirado do texto de Mateus 19,20, onde se diz explicitamente que se tratava de um jovem. A atitude desse jovem desperta simpatia no leitor: vem correndo, prostra-se diante de Jesus, chama-o de “Mestre”, quer alcançar a vida eterna, cumpre os mandamentos desde a juventude… Tudo parece abrir para um bom desenlace e motiva a esperança.
Depois do primeiro diálogo, há um detalhe que às vezes negligenciamos: “Jesus olhou para ele com amor” (v. 21). O texto original é mais forte, e poderíamos traduzi-lo: “Jesus deteve sobre ele o olhar e o amou”. Excetuando-se o texto sobre o mandamento do amor (12.28ss), esta é a única vez em que aparece o verbo “amar” no evangelho, o que mostra a relevância deste “pormenor”.
Jesus reconhece a boa disposição deste jovem e o convida a algo mais: “Falta mais uma coisa para você fazer: vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim você terá riquezas no céu. Depois venha e me siga” (v. 21). Muitas vezes colocamos a ênfase destas palavras de Jesus no “venda tudo”, mas o mais importante não é isso, mas o “venha e me siga”. Jesus chama-o a segui-lo, a estar com ele, a transformar-se em um de seus amigos íntimos, com os quais partilha tudo, como com os Doze. Esta é a proposta; o vender tudo é a condição para estar livre e poder segui-lo.
O homem foi-se embora; queria alcançar a vida eterna, fora escutar Jesus, mas suas riquezas lhe eram mais importantes; por isso, afligiu-se e ficou triste (v. 22), porque todas as riquezas, sem Aquele que é a fonte da alegria, só podem trazer tristeza.
Jesus continua a ensinar a seus discípulos sobre a dificuldade dos ricos para entrar no Reino de Deus, e os discípulos, surpresos, perguntam: “Então, quem é que pode se salvar?” (v. 26). A resposta é mais radical ainda: “Para os seres humanos isso não é possível”; a salvação não é algo que se alcança com o esforço ou a capacidade pessoais. Não é fruto de nossas virtudes nem prêmio por nossos sacrifícios. A salvação é um presente que Deus quer dar-nos; por isso, Jesus continua: “Mas, para Deus, é. Pois, para Deus, tudo é possível” (v. 27).
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Neste domingo, o evangelho repete-nos o chamado: deixar tudo e seguir Jesus. Em algum momento de nosso caminho com Deus, podemos chegar a sentir que estamos cumprindo o necessário para sermos bons, mas, na realidade, estamos quietos em nosso crescimento espiritual. É quando nos apresentamos diante de Deus com a pergunta: “Senhor, e agora?” E a resposta é: “Vá, deixe tudo… e entregue-se totalmente”. É uma grande ideia imaginar-se deixando tudo e ir com Jesus, mas aonde o seguiremos? Em nosso tempo, o abandono das seguranças para apostar na incerteza é coisa de loucos, principalmente se é pelo Evangelho. Contudo, para isso, o evangelho garante a alegria do Espírito. Então, muitos de nós sentimos a vocação da missão, de dedicar um tempo especial a Deus, à Igreja e sair. Mas, para outros, não se trata de ir-se, de pegar mochila e seguir caminho; o chamado também é ir em missão pelo interior de nossa própria vida, despojar-nos de coisas que nos dão “riqueza” e seguir Jesus diariamente; viver do evangelho, dando testemunho de discípulo através de nossas responsabilidades cotidianas.
O Papa Bento XVI falou aos jovens sobre o momento de vida no qual estão, e os convidou ao seguimento de Jesus: “Podemos ver uma situação muito parecida com a de cada um de vocês. Também vocês são ricos de qualidades, energias, sonhos, esperanças: recursos que possuem em abundância! A própria idade de vocês constitui uma grande riqueza não apenas para vocês, mas também para os outros, para a Igreja e para o mundo.
‘Que devo fazer?’ A etapa da vida em que vocês se encontram é tempo de descoberta: dos dons que Deus lhes concedeu e das suas responsabilidades. É, igualmente, tempo de opções fundamentais para construir o projeto de vida de vocês. Por outras palavras, é o momento de se interrogarem sobre o sentido autêntico da existência, perguntando a si mesmos: «Estou satisfeito com a minha vida? Ou falta-me ainda alguma coisa»?
Jesus convida o jovem rico a ir mais além da satisfação das suas aspirações e dos seus projetos pessoais, dizendo-lhe: ‘Vem e segue-me!’. A vocação cristã deriva de uma proposta de amor do Senhor e só pode realizar-se graças a uma resposta de amor: ‘Jesus convida os seus discípulos ao dom total da sua vida, sem cálculos nem vantagens humanas, com uma confiança sem reservas em Deus. Os santos acolhem este convite exigente e, com docilidade humilde, põem-se a seguir Cristo crucificado e ressuscitado”.[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Que coisas Jesus pede que eu deixe? Senti a alegria de haver feito um sacrifício por Jesus? Jesus convida-me a segui-lo: como responderei? Há algo impossível para mim, que peço a Deus torná-lo possível, segundo sua vontade?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Quero, Senhor Jesus, sair desta confusão em que vivo.
Quero, Senhor Jesus, escutar-te
e dar resposta ao teu chamado.
Quero, Senhor Jesus, deixar tudo,
ficar livre para segui-te.
Quero, Senhor Jesus, arriscar meu caminho com o teu.
Quero, Senhor Jesus, deixar meus medos,
dar passagem à minha fé, renovada cada dia.
Quero, Senhor Jesus, confiar em teu plano, porque me amas. [4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Senhor, quero viver na alegria de fazer tua vontade.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Faço uma lista das riquezas que possuo, oro em ação de graças por elas e peço a Deus o poder de abandonar aquelas que me prejudicam.
“A santidade, aqui, consiste em estarmos sempre alegres”.
São João Bosco
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Mensagem para a XXV JMJ de 2010 – Papa Bento XVI (http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/messages/youth/documents/hf_ben-xvi_mes_20100222_youth.html)