A quem o Filho quiser mostrar (Lucas 10, 17-24)
3 de outubro de 2015E quem é o meu próximo? Lucas 10,25-37
5 de outubro de 2015LECTIO DIVINA
27º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Domingo, 4 de outubro de 2015
“Que o Senhor nos abençoe todos os dias de nossa vida.”
Salmo 128.5
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Senhor Jesus, abre meus olhos e meus ouvidos à tua palavra.
Que eu leia e escute tua voz e medite teus ensinamentos.
Desperta minha alma e minha inteligência para que tua palavra penetre meu coração
e possa eu saboreá-la e compreendê-la.
Dá-me muita fé em ti, para que tuas palavras sejam para mim
outras tantas luzes que me guiem para ti pelo caminho da justiça e da verdade.
Fala, Senhor, que eu te escuto e desejo pôr em prática tua doutrina,
porque tuas palavras são para mim vida, alegria, paz e felicidade.
Fala-me, Senhor, pois és meu Senhor e meu mestre.
A ninguém mais escutarei senão a ti.[1]
TEXTO BÍBLICO: Marcos 10.2-16
Jesus fala sobre o divórcio
Mateus 5.31-32; 19.1-12; Lucas 16.18
2Alguns fariseus, querendo conseguir uma prova contra ele, perguntaram:
— De acordo com a nossa Lei, um homem pode mandar a sua esposa embora?
3Jesus respondeu com esta pergunta:
— O que foi que Moisés mandou?
4Eles responderam:
— Moisés permitiu ao homem dar à sua esposa um documento de divórcio e mandá-la embora.
5Então Jesus disse:
— Moisés escreveu esse mandamento para vocês por causa da dureza do coração de vocês. 6Mas no começo, quando foram criadas todas as coisas, foi dito: “Deus os fez homem e mulher. 7Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, 8e os dois se tornam uma só pessoa.” Assim, já não são duas pessoas, mas uma só. 9Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu.
10Quando já estavam em casa, os discípulos tornaram a fazer perguntas sobre esse assunto. 11E Jesus respondeu:
— O homem que mandar a sua esposa embora e casar com outra mulher estará cometendo adultério contra a sua esposa. 12E, se a mulher mandar o seu marido embora e casar com outro homem, ela também estará cometendo adultério.
Jesus e as crianças
Mateus 19.13-15; Lucas 18.15-17
13Depois disso, algumas pessoas levaram as suas crianças a Jesus para que ele as abençoasse, mas os discípulos repreenderam aquelas pessoas. 14Quando viu isso, Jesus não gostou e disse:
— Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças. 15Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele.
16Então Jesus abraçou as crianças e as abençoou, pondo as mãos sobre elas.
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. Daniel Kerber[2]
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Para que os fariseus se aproximaram de Jesus e que pergunta lhe fizeram? Qual era o mandato de Moisés? Que responde Jesus? O que o homem não deve separar? De quem é o Reino de Deus? Quem Jesus abraçou?
Algumas pistas para compreender o texto:
Jesus prossegue seu caminho rumo a Jerusalém e vai ensinando às pessoas. No relato que lemos hoje, os fariseus apresentam-lhe a questão do divórcio.
O texto tem duas partes: a primeira gira em torno do divórcio (vv. 2-12) e a segunda mostra Jesus e as crianças (vv. 13-16).
Este texto do ensinamento sobre o divórcio adquire grande relevância no momento em que se está celebrando o sínodo sobre a família. O contexto do ensinamento é uma nova controvérsia, neste caso, com os fariseus, que se consideravam a si mesmos os “piedosos” e os “cumpridores da lei”.
A pergunta sobre se o divórcio era permitido corresponde à prática da época. Os judeus aceitavam o divórcio – somente por decisão do homem, não da mulher –, e havia duas “escolas farisaicas”: a de Hillel, que aceitava o divórcio por qualquer motivo, e a de Shammai, que só aceitava o divórcio em caso de adultério.
Jesus responde com outra pergunta: o que foi que Moisés mandou? E eles respondem que Moisés havia permitido divorciar-se dando um certificado de divórcio (cf. Dt 24.1ss).
Jesus interpreta a concessão de Moisés como decorrência da dureza do coração, mas se reporta à origem (cf. Gn 1.27; 2.24), quando não era assim, e finaliza dizendo: “Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu” (v. 9).
Uma vez mais Jesus se coloca acima de Moisés (que era a referência mais alta para a tradição judaica) e revela os desígnios mais profundos de Deus. Deus fez o ser humano homem e mulher, capazes de tomar decisões para sempre, de modo que homem e mulher podem ser fiéis e amar-se definitivamente. Naturalmente, isto não indica que o amor seja fácil ou sem esforço, como diz Paulo aos Coríntios: “Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência” (1Cor 13,7).
Por trás do aceno negativo de que o ser humano não separe o que Deus uniu, temos de ver o sinal positivo de que Deus fez o ser humano capaz de ser fiel, de perdoar e de continuar a construir no amor, apesar de todas as dificuldades.
O texto que se segue trata do acesso das crianças a Jesus, o que os discípulos procuravam impedir. Jesus desgosta-se com eles e lhes diz: “Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças” (v. 14). Embora, na origem, os dois textos provavelmente não estivessem relacionados, quando Marcos os coloca em sequência, faz com que possamos ler o convite a não rejeitar as crianças (que eram os últimos na escala social) como um convite estendido a não rechaçar os que fracassaram em amar para sempre e estão feridos por uma separação.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Na mensagem do evangelho dominical, Jesus recorda que, desde o princípio, Deus criou-nos para viver como casal, mulher e homem; e que esta opção implica o abandono do ser individual para criar entre dois um novo ser: uma família.
Muitos de nossos ainda vivemos com nossos pais, e em nossos pensamentos para o futuro, existe a ilusão de encontrar uma pessoa para formar uma família. Outros, no entanto, acreditamos que não faremos essa escolha, pois temos visto como nossos pais sofreram no matrimônio e temos padecido as consequências de um divórcio. É verdade que o divórcio não está nos planos de Deus, mas aconteceu como parte de nossa vida; por isso, é indispensável perdoar a nossos pais separados, a fim de poder dar um passo maduro rumo ao matrimônio.
Descobrir a vontade de Deus para nossa vida por meio da oração e orar pela pessoa que Deus escolheu para nós é começar a formar nossa família. Para aqueles que estamos fazendo planos matrimoniais ou começando a vida matrimonial, recordemos sempre que “é melhor haver dois do que um” (Eclesiastes 4.9-12) e que Deus nos chamou a viver nesta pequena comunidade que nos fará descobrir o amor trinitário que salvou o mundo.
O Papa Francisco disse aos casais de noivos: “Por favor, não devemos deixar-nos dominar pela ‘cultura do provisório’! Esta cultura que hoje invade todos nós, esta cultura do provisório. Não pode ser assim! Portanto, como se cura este medo do ‘para sempre’? Cura-se dia após dia, confiando-se ao Senhor Jesus numa vida que se torna um caminho espiritual quotidiano, feito de passos, de pequenos passos, de passos de crescimento comum, feito de compromisso a tornarmo-nos mulheres e homens maduros na fé. Porque, queridos noivos, o ‘para sempre’ não é apenas um problema de duração! Um matrimónio não é bem sucedido unicamente quando dura, mas é importante a sua qualidade. Estar juntos e saber amar-se para sempre, eis no que consiste o desafio dos esposos cristãos. Vem ao meu pensamento o milagre da multiplicação dos pães: também para vocês, o Senhor pode multiplicar o amor e concedê-lo vigoroso e bom para vocês todos os dias. Ele possui uma reserva infinita de amor! E oferece-lhes o amor que está no fundamento da união de vocês, enquanto o renova todos os dias, fortalecendo-o. Além disso, torna-o ainda maior quando a família cresce com os filhos. Neste caminho é importante, é sempre necessária a oração. Ele por ela, ela por ele, e ambos juntos. Peçam a Jesus que multiplique o amor de vocês. Na oração do Pai-Nosso, nós dizemos: «O pão nosso de cada dia nos dai hoje». Os cônjuges podem aprender a rezar com estas palavras: «Senhor, o amor nosso de cada dia nos dai hoje», porque o amor quotidiano dos esposos é o pão, o verdadeiro pão da alma, o pão que os sustenta a fim de que possam ir em frente.[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
É possível um matrimônio para sempre? Para mim, quais são as consequências de um divórcio? Como imagino minha vida no matrimônio? Rezo pela união matrimonial de meus pais?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Tu queres que a família seja na terra reflexo da Trindade de amor:
Pai, Filho e Espírito Santo.
Pedimos-te que cures as feridas emocionais de nossos corações, as quais,
muitas vezes, chegam a ser a raiz de nossa agressividade,
de nossa impaciência, de nossa falta de compreensão.
Cura os corações dos pais e das mães,
para que possam imitar José, Maria e Jesus no lar.
Pedimos-te isto pelos méritos de tua paixão.[4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Quem não recebe o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, rezarei por meus pais e pelos matrimônios que conheço, para que se mantenham firmes em seu sacramento.
“O matrimônio é símbolo da vida, da vida real, não é uma novela;
é um amor que encontra na Cruz sua prova e sua garantia!”.
Papa Francisco
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Discurso do papa Francisco aos noivos que se preparam para o matrimónio (4 de fevereiro de 2014: https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/february/documents/papa-francesco_20140214_incontro-fidanzati.html
[4] Tirado da Oração pelas famílias, de Padre Emiliano Tardiff.