Os planos de Deus
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24 de agosto de 2015LECTIO DIVINA
21º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Domingo, 23 de agosto de 2015
“Procure descobrir, por você mesmo,
como o Senhor Deus é bom”
Salmo 34.9
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Amor divino, laço sagrado,
que unes ao Pai onipotente
e a seu bem-aventurado Filho,
Espírito consolador todo-poderoso,
dulcíssimo consolador dos aflitos,
impregna com tua soberana virtude
o mais profundo de meu coração;
que tua presença amiga encha de alegria,
pelo brilho deslumbrante de tua luz,
os rincões obscuros de minha morada abandonada;
vem fecundar com a riqueza de teu orvalho
o que uma longa estiagem fez murchar.[1]
TEXTO BÍBLICO: João 6.60-69
As palavras de vida eterna
60Muitos seguidores de Jesus ouviram isso e reclamaram:
— O que ele ensina é muito difícil! Quem pode aceitar esses ensinamentos?
61Não disseram nada a Jesus, mas ele sabia que eles estavam resmungando contra ele. Por isso perguntou:
— Vocês querem me abandonar por causa disso? 62E o que aconteceria se vocês vissem o Filho do Homem subir para onde estava antes? 63O Espírito de Deus é quem dá a vida, mas o ser humano não pode fazer isso. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida, 64mas mesmo assim alguns de vocês não creem.
Jesus disse isso porque já sabia desde o começo quem eram os que não iam crer nele e sabia também quem ia traí-lo.
65Jesus continuou:
— Foi por esse motivo que eu disse a vocês que só pode vir a mim a pessoa que for trazida pelo Pai.
66Por causa disso muitos seguidores de Jesus o abandonaram e não o acompanhavam mais. 67Então ele perguntou aos doze discípulos:
— Será que vocês também querem ir embora?
68Simão Pedro respondeu:
— Quem é que nós vamos seguir? O senhor tem as palavras que dão vida eterna! 69E nós cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou.
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. Daniel Kerber[2]
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Quem é que dá a vida? Qual é a pergunta que Jesus faz a seus discípulos? Como responde Simão Pedro? Quem os discípulos acreditam que seja Jesus?
Algumas pistas para compreender o texto:
A passagem de hoje é a conclusão narrativa de todo o discurso do pão da vida que Jesus faz depois da multiplicação dos pães, e mostra as reações opostas dos grupos: de um lado, “muitos seguidores de Jesus”, ou seja, muitos de seus discípulos (vv. 60.66) e, de outro, os Doze (v. 67).
O texto tem duas partes, cada uma referente aos dois grupos que intervêm: muitos dos discípulos (vv. 60-66) e o grupo dos Doze (vv. 67-70).
O começo do texto faz referência a “esses ensinamentos”, os quais temos que ligar imediatamente ao dito sobre “comer sua carne e beber seu sangue”; no entanto, temos de entendê-lo também aplicado a todo o ensinamento sobre o pão da vida. A reação desses discípulos é: “O que ele ensina é muito difícil! Quem pode aceitar esses ensinamentos?” Literalmente se diz que “são duras essas palavras” (v. 60). Mais uma vez os discípulos “resmungam” (cf. 6.43) e se queixam; devemos observar que são discípulos, mas que não aceitam a proposta de Jesus e se atêm à dureza, à exigência de tal proposta. Jesus pergunta-lhes: “Vocês querem me abandonar por causa disso?” (literalmente: isso os escandaliza?) e continua mostrando o motivo desse “escândalo”: “Mas mesmo assim alguns de vocês não creem” (v. 64).
O discurso tinha começado com uma multidão que se havia aproximado porque tinha comido até saciar-se; o texto fala de cinco mil homens (6.10). À proporção que Jesus avança em seu discurso e aprofunda quem ele é, começam as deserções, primeiro resmungando (vv.53,61), depois, discutindo abertamente (v. 52); aqui já se escandalizam e findam por ir-se embora (v. 66). Vemos, pois, que enquanto cresce a entrega de Jesus e se aprofunda sua revelação, o auditório vai diminuindo, e até mesmo muito de seus discípulos o deixam e se vão…
Perante esta circunstância, seríamos levados a pensar que Jesus poderia ser um pouco mais benévolo com os Doze, sendo aparentemente os únicos que permaneciam; no entanto, a pergunta que Jesus lhes faz é: “Será que vocês também querem ir embora?” (v. 67). Jesus não está disposto a mudar sua mensagem ou a diminuir sua exigência porque as pessoas se vão embora… Jesus não é um líder “populista”, que adapta seu discurso conforme os que o escutam; ao contrário, está disposto a ficar sozinho (embora ele saiba que não está só: “Mas eu não estou sou, pois o Pai está comigo” (16.32) e por isso faz essa pergunta ao Doze.
Pedro responde-lhe com outra pergunta: “Quem é que nós vamos seguir?”. Contudo, por trás desta pergunta está a afirmação: “Não queremos seguir a nenhum outro; queremos permanecer com o senhor!”, e continua dizendo: “O senhor tem as palavras que dão vida eterna!”.
Para os muitos discípulos que se foram, as palavras de Jesus eram ”duras”; para Pedro e para os demais apóstolos, estas mesmas palavras são “palavras que dão vida eterna”: a diferença está no modo como as recebem. Aqueles discípulos “não acreditavam” (v. 64), mas Pedro confessa: “Nós cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou” (v. 69).
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Durante estes domingos, vimos descobrindo Jesus no sacramento da Eucaristia. Ele mesmo se nos oferece como pão que alimenta e sacia a vida dos que acreditamos nele. Aceitar o corpo e o sangue de Jesus como comida e bebida é algo difícil de entender e o escândalo que provoca leva ao abandono do seguimento. Jesus convida-nos a viver mais profundamente nossa fé nele através da Eucaristia, abrindo-nos a uma fé mais madura e deixando para trás nossas próprias seguranças.
São João Paulo II confere ao texto uma transcendência especial para nossas vidas:
« Será que vocês também querem ir embora?» A pergunta de Cristo transpõe os séculos e chega até nós, interpela-nos pessoalmente e pede uma decisão. Qual é a nossa resposta? Queridos jovens, se hoje estamos aqui, é porque nos reconhecemos na afirmação do apóstolo Pedro: ‘Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna (Jo 6.68).
Palavras, ao nosso redor ressoam tantas, mas só Cristo tem palavras que resistem à erosão do tempo e duram por toda a eternidade. Esta fase da vida em que vocês se encontram, impõe-lhes algumas opções decisivas: a especialização nos estudos, a orientação no trabalho, o próprio compromisso que se tem de assumir na sociedade e na Igreja. É importante tomar consciência de que, dentre as muitas questões que emergem no espírito de vocês, as decisivas não dizem respeito a ‘que coisa’. A pergunta fundamental é ‘quem’: ir para ‘quem’, ‘quem’ seguir, ‘a quem’ entregar a própria vida.[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Por algum motivo, senti necessidade de deixar Jesus? Reafirmo que é vital para mim viver com ele? Tenho a convicção de que ele, na Eucaristia, é meu alimento essencial?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Um dia, decidimos subir em tua barca, confiar-te o timão.
Desde então, navegamos pela vida
e escutamos diversos sons:
o ruído do trovão que anuncia a tormenta,
os cantos de sereia que prometem paraísos impossíveis,
o bramido de um mar poderoso que nos lembra nossa fragilidade…
Às vezes nos sentimos tentados a abandonar o barco,
a mudar de rota, a refugiar-nos na segurança
da terra firme.
Mas, Senhor, a quem iremos…,
se somente tu podes ajudar-nos a colocar a proa
rumo à terra do amor
e da justiça?[4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Senhor, a quem podemos ir? Tuas palavras são palavras de vida eterna.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Identifique o que lhe é mais custoso no seguimento de Jesus, diga-lhe em um momento de adoração diante do Sacrário e coloque-se nas mãos dele para poder repetir as palavras de Pedro: “Nós cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou”.
“Nada desejo, nem me sinto apegada a nada mais do que a Jesus Sacramentado. Pensar que ele ficou conosco me infunde o desejo de não separar-me dele na vida…”
Santa Maria Micaela do Santíssimo Sacramento
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Conclusão da XV JMJ – Itália, 20 de Agosto / 2000 – São João Paulo II (http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/2000/documents/hf_jp-ii_hom_20000820_gmg.html).