Se vocês tivessem fé (Mateus 17,14-20)
8 de agosto de 2015O grão de trigo
10 de agosto de 2015LECTIO DIVINA
19º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Domingo, 9 de agosto de 2015
“Procure descobrir, por você mesmo,
como o Senhor Deus é bom”
Salmo 34.9
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Amor divino, laço sagrado,
que unes ao Pai onipotente
e a seu bem-aventurado Filho,
Espírito consolador todo-poderoso,
dulcíssimo consolador dos aflitos,
impregna com tua soberana virtude
o mais profundo de meu coração;
que tua presença amiga encha de alegria,
pelo brilho deslumbrante de tua luz,
os rincões obscuros de minha morada abandonada;
vem fecundar com a riqueza de teu orvalho
o que uma longa estiagem fez murchar.[1]
TEXTO BÍBLICO: João 6.41-51
Jesus, o pão da vida
41Eles começaram a criticar Jesus porque ele tinha dito: “Eu sou o pão que desceu do céu.” 42E diziam:
— Este não é Jesus, filho de José? Por acaso nós não conhecemos o pai e a mãe dele? Como é que agora ele diz que desceu do céu?
42Jesus respondeu:
— Parem de resmungar contra mim. 44Só poderão vir a mim aqueles que forem trazidos pelo Pai, que me enviou, e eu os ressuscitarei no último dia. 45Nos Profetas está escrito: “Todos serão ensinados por Deus.” E todos os que ouvem o Pai e aprendem com ele vêm a mim. 46Isso não quer dizer que alguém já tenha visto o Pai, a não ser aquele que vem de Deus; ele já viu o Pai.
47— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem crê tem a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Os antepassados de vocês comeram o maná no deserto, mas morreram. 50Aqui está o pão que desce do céu; e quem comer desse pão nunca morrerá. 51Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer desse pão, viverá para sempre. E o pão que eu darei para que o mundo tenha vida é a minha carne”.
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. Daniel Kerber[2]
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Por que razão os judeus começaram a criticar? Com que palavras Jesus reagiu? O que lhes assegura Jesus? Qual é o pão que Jesus dá?
Algumas pistas para compreender o texto:
No texto de hoje, o evangelista apresenta-nos a continuação do diálogo de Jesus com a multidão, começado no domingo passado. Agora os judeus “criticam”, porque Jesus se havia apresentado como “o pão que desceu do céu”, e Jesus segue adiante com sua revelação.
A passagem começa com a crítica dos judeus, à qual Jesus responde aprofundando a mensagem da fé e culminando com a identificação do pão com sua própria carne: “E o pão que eu darei para que o mundo tenha vida é a minha carne” (v. 51).
No final do texto anterior, Jesus havia-se apresentado como “pão da vida” (6.35ss), mas esta autorrevelação de Jesus desperta questionamentos e resmungos por parte dos que o escutam. Tais resmungos fazem eco aos lamentos do povo de Israel contra Moisés no deserto, quando passavam fome (veja-se Êx 16.2) e não acreditavam que Deus poderia alimentá-los no deserto, assim como os judeus que escutavam Jesus não acreditavam: “Este não é Jesus, filho de José? Por acaso nós não conhecemos o pai e a mãe dele? Como é que agora ele diz que desceu do céu?” (v. 42).
Jesus revela que acreditar nele (= vir a ele, vv. 35.44) é um dom do Pai, e que o fruto da fé é a ressurreição final. Todo aquele que escuta de verdade o Pai e aprende, crê em Jesus.
Em seu discurso, Jesus diz que o pão que ele oferece é superior ao pão do deserto, porque seus antepassados comeram o pão e morreram; em contrapartida, aquele que come do pão que Jesus oferece, viverá para sempre (vv. 49ss). Vê-se, além do mais, que a revelação de Jesus vai progredindo pouco a pouco: para começar, “não foi Moisés quem deu a vocês o pão do céu” (v. 32); agora, a inquietude não é somente quanto à origem do pão, mas quanto ao pão em si mesmo: Jesus é o pão que é preciso comer e, assim, viver para sempre.
Nesta passagem, vê-se a íntima relação entre o crer e o alimentar-se. A fé é um alimento que nos faz viver de verdade; por isso, afirma: “quem crê tem a vida eterna” (v. 47); em seguida, afirma o mesmo efeito de comer seu pão: “Se alguém comer desse pão, viverá para sempre” (v. 51). A forma de alimentar-se é crer, e esse crer nos faz viver para sempre.
Nas últimas palavras deste discurso, Jesus dá ainda um passo a mais e identifica o pão que lhes dará com sua própria carne. Até agora, poder-se-ia entender o “comer” de modo simbólico (para os judeus, a Lei era seu alimento), de modo que se podia compreender que quando Jesus dizia “eu sou o pão da vida”, estava-se referindo a que ele próprio, sua pessoa, era o alimento (simbólico) para viver, de modo que, acreditando nele, teríamos vida. Agora, com este novo passo em suas palavras, começa a referir-se não a um comer simbólico, mas real: “minha própria carne”. Com estas palavras, começa uma referência mais explícita à Eucaristia, que justamente neste evangelho de João não é mencionada na narração da última ceia no cap. 13.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Neste Domingo, Jesus insiste em dizer que ele é o alimento que nos dá a vida. À luz desta palavra, é importante perguntar-nos sobre como é nossa relação com ele. A cada domingo, nós participamos da Eucaristia, partilhamos o pão da vida e, com isso, nos tornamos uma só realidade com Jesus. Neste sacramento, nós construímos a unidade da Igreja, porque participamos de um mesmo pão e de um mesmo cálice, e ali se saciam nossa fome e nossa sede de Deus. Quem participa plenamente da eucaristia experimenta o amor infinito de Deus e a comunhão solidária com os irmãos.
Cada Eucaristia dominical em nossa comunidade é também uma ocasião propícia para que entreguemos nossa vida unida à de Cristo a serviço dos demais, através da liturgia e da ajuda generosa dos que sofrem.
Como no-lo explica o Papa Bento XVI: “Este dom imenso torna-se-nos acessível no Sacramento da Eucaristia: Deus doa-se-nos, para abrir a nossa existência a Ele, para a envolver no mistério de amor da Cruz, para a tornar partícipe do mistério eterno do qual nascemos e para antecipar a nova condição da vida plena em Deus, à espera da qual nós vivemos. […] A comunhão eucarística arrebata-nos do nosso individualismo, comunica-nos o Espírito de Cristo morto e ressuscitado, conforma-nos com Ele; une-nos intimamente aos irmãos naquele mistério de comunhão que é a Igreja, onde o único Pão faz de muitos um só corpo (cf. 1 Cor 10, 17).”[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Como é minha participação na Eucaristia? Distraio-me com facilidade? Colaboro ativamente nos serviços da liturgia? Experimento a presença de Jesus e sua proximidade na comunhão? Sou solidário com minha oração e minha ajuda econômica?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Ó Senhor,
creio e professo que
Tu és o Cristo Verdadeiro,
o Filho de Deus vivo que veio a este mundo
para salvar os pecadores,
dos quais eu sou o primeiro.
Aceita-me como participante
De tua Ceia Mística,
ó Filho de Deus![4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Jesus, Tu és o pão que nos dá a vida eterna.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Preparo-me para receber Jesus Eucaristia durante a semana através do sacramento da reconciliação. Buscarei uma ocasião propícia para visitar Jesus sacramentado na capela mais próxima e pedirei que abençoe minha família.
“O Pão eucarístico, medicina de imortalidade, antídoto contra a morte”
São Inácio de Antioquia
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Homilia de clausura do XXV Congresso Eucarístico Nacional Italiano (Bento XVI) http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2011/documents/hf_ben-xvi_hom_20110911_ancona.html
[4] São João Cristósmo.