As crianças e o reino (Mc 10,13-16)
26 de maio de 2018Despojamento
28 de maio de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e derrama-te com força.
Vem, Espírito Santo, e enche de alegria meu coração.
Vem, Espírito Santo, e inflama-nos.
Vem, Espírito Santo, e faze com que este encontro com a Palavra
seja um novo Pentecostes.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Mateus 28.16-20
Jesus aparece aos onze discípulos
Marcos 16.14-18; Lucas 24.36-49; João 20.19-23; Atos 1.6-8
16Os onze discípulos foram para a Galileia e chegaram ao monte que Jesus tinha indicado. 17E, quando viram Jesus, o adoraram; mas alguns tiveram suas dúvidas. 18Então Jesus chegou perto deles e disse:
— Deus me deu todo o poder no céu e na terra. 19Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo 20e ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho ordenado a vocês. E lembrem disto: eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · Por que a Galileia é importante na vida de Jesus e dos discípulos?
- · Por que os discípulos voltam para lá depois da ressurreição?
- · Que atitude têm os discípulos quando veem o Senhor Ressuscitado?
- · O que Jesus lhes manda fazer? A quem devem dirigir-se?
- · E o que Jesus vai fazer? O que lhes promete?
ü Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini[1]
Esta cena é a conclusão e culminância de todo o evangelho de Mateus. Este final foi bem elaborado por Mateus, e é preciso compreendê-lo colocando-o, antes de tudo, em relação com o conjunto do evangelho.
Desde o começo, o evangelista apresenta-nos os onze discípulos na Galileia (v. 16), lugar onde o Senhor os havia chamado (26.32; 28.7,10). Esta região da Terra Santa tem um significado importante, pois na Galileia havia começado (4.12ss) e se havia desenvolvido o ministério de Jesus; e ali também é que os discípulos deverão retomar a missão. No mesmo evangelho de Mateus, aquela região é chamada de “Galileia, onde moram os pagãos” (4.15), por ser a região mais cheia de presença estrangeira em Israel; por isso, no âmbito histórico-salvífico, chega a ser um símbolo da universalidade da mensagem do evangelho. E é justamente aqui, na Galileia, onde os discípulos recebem o mandato de anunciar o evangelho não somente a Israel, mas a todas as nações.
Em um monte da Galileia, os discípulos encontram-se com o Senhor ressuscitado. Diz o texto que o adoraram; ao mesmo tempo, porém, “alguns tiveram suas dúvidas” (v. 17). É uma atitude contraditória, que caracteriza os discípulos no evangelho de Mateus, aos quais Jesus várias vezes censura a pequenez da fé: “Como é pequena a fé que vocês têm! (Mt 6.30; 8.26; 16.8; 17.20)”. Têm fé, mas ainda lhes falta crer mais e melhor.
Em seguida, Jesus apresenta-se como o Senhor glorioso e exaltado por Deus, que recebe do Pai todo o poder no céu e na terra; portanto, tem o senhorio sobre toda a criação.
Segue-se o mandato missionário. Esta missão se expressa com um verbo principal no imperativo – façam com que sejam meus seguidores – e outros dois no particípio, que o complementam – batizando…, ensinando. Os discípulos devem repetir a ação de Jesus: formar discípulos; contudo, discípulos e seguidores de Jesus, não deles. E terão que transmitir-lhes os ensinamentos do próprio Jesus, que é o único mestre (cf. Mt 23.8-10). Mais ainda, deverão “submergi-los” (batizá-los) no mistério de Deus Trindade. Trata-se, portanto, de levar outros ao seguimento de Jesus e de torná-los participantes da vida trinitária.
O horizonte da missão é universal, pois a expressão “todos os povos do mundo” se refere a todas as nações, sem nenhuma exceção; por conseguinte, convida a fazer com que todos os pagãos sejam discípulos.
Por último, a promessa de sua Presença. Não promete seguranças nem grandes façanhas, mas somente sua Presença, sempre e até o fim do mundo.
O que o Senhor me diz no texto?
Sabemos quão importante é conhecer o nome próprio das pessoas para poder intermpelá-las e criar um vínculo com elas. Por isso, para começar a conhecer-nos, dizemos nosso nome, nos apresentamos. E este pode ser o começo de uma bela amizade. Pois bem, qual é o nome mais próprio de Deus para poder invocá-lo, começar a conhecê-lo e relacionar-nos com Ele? Os cristãos do séc. II se fizeram esta mesma pergunta, e surgiu como resposta o nome “Trindade”. Este é nome mais próprio do Deus dos cristãos, embora, como tal, não apareça na Bíblia. Por essa razão, os cristãos viram-se na necessidade de criá-lo para poder expressar sinteticamente o que a fé cristã tem de novo e original em relação a Deus. Assim, com o nome de Santíssima Trindade, os cristãos expressamos e confessamos nossa fé em um só e único Deus que, em sua intimidade, é comunhão de Três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.
Contudo, mal começamos a falar da unidade de natureza e da distinção das pessoas em Deus-Trindade, e já este mistério central de nossa fé torna-se distante e quase abstrato, irreal. No entanto, Deus, em seu mistério de vida trinitária, é, ao mesmo tempo, o mais transcendente e o mais próximo de nós. Com efeito, a palavra batizar significa literalmente “submergir”; portanto, em nosso batismo, fomos “submersos” em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Bem podemos dizer que “Deus é família”, e que fazemos parte desta família, é nossa família divina. A este respeito, dizia o Papa Francisco: “Deus é uma «família» de três Pessoas que se amam tanto a ponto de formar uma só. Esta «família divina» não está fechada em si mesma, mas está aberta, comunica-se na criação e na história e entrou no mundo dos homens para chamar todos a fazer parte dele. O horizonte trinitário de comunhão envolve-nos todos e estimula-nos a viver no amor e na partilha fraterna, na certeza de que onde há amor, há Deus”[2].
E também cremos que, ao sermos batizados, a Trindade veio habitar em nós, tal como Jesus o anunciou: “A pessoa que me ama obedecerá à minha mensagem, e o meu Pai a amará. E o meu Pai e eu viremos viver com ela” (Jo 14.23). Alguns santos experimentaram de modo muito forte esta verdade de nossa fé, como a jovem Isabel da Trindade, que rezava: “Meu Deus, Trindade que adoro… Pacifica minha alma. Faze dela teu céu, tua morada amada e o lugar de teu repouso. Que eu não te deixe jamais sozinho nela, mas que esteja ali inteiramente, totalmente desperta em minha fé, em adoração, entregue, sem reservas, à tua ação criadora”.
Todos fomos chamados a experimentar a Trindade que mora em nós. Ademais, se desejamos que nossa fé cresça e amadureça, ficaremos unidos a cada Pessoa da Trindade de modo diferente. Em nossa relação com o Pai, nosso criador, encontraremos a origem da vida, a fonte primordial, e experimentaremos a paz que brota em nossa alma ao abandonar-nos em suas mãos firmes e suaves. E nossa relação com o Filho, com Jesus, nosso salvador, experimentaremos o irmão e amigo que nos compreende, perante o qual podemos abrir de par em par nosso coração, inclusive em suas zonas mais obscuras, pois sempre olhará para nós com misericórdia e nos oferecerá o perdão de Deus. Não podemos dar um rosto ao Espírito Santo, nosso santificador, mas sentiremos a força do amor que gera a vida, que torna cálida nossa relação com o Filho e que vem em socorro de nossa fragilidade e nos leva a clamar a Deus chamando-o Abba, Pai (Gl 4.6). Além disso, dá-nos a força para confessar nossa fé com coragem, para amar sempre e a todas as pessoas, sendo testemunhas do amor de Deus perante todos.
Por fim, cremos que o homem é imagem de Deus. Sim, somos imagem de Deus-Trindade, de Deus que, em sua intimidade, é comunhão de pessoas. E na Trindade, cada pessoa se define em relação às outras; seu ser pessoal está na doação de si mesma. É claro, pois, que alcançaremos nossa maior realização como pessoas na medida em que vivermos a comunhão e a entrega sincera de nós mesmos aos demais por amor.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Quando rezo, dirijo-me a Deus de modo genérico ou me relaciono como Pai, o Filho e o Espírito Santo de modo personalizado?
- · Contemplo a Santíssima Trindade para conhecer a mim mesmo e minha vocação à comunhão?
- · Experimento a Santíssima Trindade como a “Família Divina” da qual faço parte?
- · Compreendo que para realizar-me em plenitude, tenho que doar-me no amor aos demais?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Trindade Santa, por mostrar-nos um vínculo onde cada um é valioso.
Obrigado, porque à imagem de vocês, Pai, Filho e Espírito Santo,
posso experimentar a alegria de sentir o que é a verdadeira família.
Submerge-nos, Trindade de Amor, na fecundidade da comunhão.
Faze-nos ser artesãos da unidade, valorizando as diferenças.
Concede-nos resgatar nosso próprio dom para colocá-lo a serviço.
Que saibamos ver as originalidades para usá-las para o bem-comum.
Trindade Santa, um só Deus, irmana-nos ainda mais e envia-nos para a missão.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Pai, Filho e Espírito Santo, absorvam-me na comunhão para que eu, a partir daí, viva a missão”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me a chamar ou a visitar algum integrante de minha família biológica ou espiritual que há muito não vejo nem visito.
“A Trindade: aqui está nossa morada, nosso lar, a casa paterna da qual jamais devemos sair”.
Beata Isabel da Trindade
[1] Pe. Damián Nannini: sacerdote da Arquidiocese do Rosário (Argentina); Licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; Diretor da Escola Bíblia do CEBITEPAL – CELAM.
[2] Papa Francisco, Angelus, 22 de maio de 2016 (https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2016/documents/papa-francesco_angelus_20160522.html)